Clandestino, o bolsonarismo se esconde nos esgotos, mas sabe muito bem manipular as estratégias de guerrilha quando você não detém o lugar de fala. Luiz Felipe Pondé via FSP:
O que podemos aprender passado o primeiro turno das eleições? De forma imediata, que as pesquisas não capturam o voto bolsonarista. Não erram tudo, mas de modo específico.
E
não capturam porque, apesar de a esquerda fazer discurso de
resistência, os bolsonaristas é que estão na clandestinidade. Votam em
segredo em quem querem e viram as costas para falas de risco de golpe.
Há
muito a esquerda perdeu a noção da realidade, tornando-se uma igreja
dos belos e dos bons. Quando uma ideologia fala abertamente que os
"homens brancos não prestam" e que o Brasil estaria melhor se fosse só feito de negros e mulheres, ela está indo para guerra fingindo-se de santa.
A agressividade bolsonarista é explícita, seu voto é invisível e silencioso. A agressividade petista é invisível, seu voto é confesso e orgulhoso.
Como
toda clandestinidade, o bolsonarismo se esconde nos esgotos, mas sabe
muito bem manipular as estratégias de guerrilha quando você não detém o
lugar de fala. Sei que os inteligentinhos não entenderão o que eu acabei
de dizer, mas eles nunca entendem nada mesmo, paciência.
Sim,
a esquerda hoje tem todos os vícios de uma aristocracia burra. Ocupa
praticamente todos os espaços da inteligência pública e não consegue ter
um milímetro de inteligência para entender como grande parte da
população se sente diante da desconstrução moral contemporânea.
Sigmund Freud (1856-1939) já havia dito que deveríamos levar a sério assuntos sobre o que temos no meio das pernas.
A
burrice da aristocracia intelectual pública, que não é só brasileira,
se manifesta numa autoapreciação estética peculiar —ela se considera
sublime nas suas intenções.
A
histeria ao redor dessas eleições como um plebiscito a favor ou contra a
democracia é uma prova cabal da inapetência da aristocracia intelectual
pública. A apreensão popular da democracia é sua natureza
procedimental: ganha quem levar a competição por votos —as eleições— e,
nesse sentido, vale tudo para vencê-la. Todos mentem. A esquerda mente
com garfo e faca, a direita mente falando de boca cheia.
O
PT nunca foi um partido democrático. Sua violência é implícita.
Coloniza instituições da República, persegue seus desafetos no espaço
público, cala a oposição com elegância, tudo isso sob as palmas da
inteligência pública enviesada.
A
estridência ideológica da esquerda pode custar caro para ela diante do
espírito disciplinado do protestantismo popular nacional. A elite é
sempre cega, porque não suporta o cheiro de ônibus e trem.
Uma
das armas dos bolsonaristas é o silêncio e o desprezo pela inteligência
pública. E quem é ela? Intelectuais e jornalistas que se prestam ao
ridículo de ficar há meses falando para si mesmos, gemendo que haveria
golpe e uma violência terrível no dia das eleições.
Os
bolsonaristas usaram a competição por votos para se manifestar. E agora
os petistas estão fazendo xixi nas calças. E com os resultados do
primeiro turno, vem a vergonha dos intelectuais e jornalistas que choram
no ombro do Lula. "O que será de nós?" É humilhante ver essa
choradeira.
Diria
para os chorões que não conseguem dormir, que estão xingando o país,
que se sentem em meio de uma guerra mortal contra o mal, que comprem um
pacote "war experience", ou experiência de guerra, e vão passar umas
semanas no Afeganistão ou no Sudão para ter uma real noção do que é
viver entrincheirado num pesadelo contínuo.
A
mídia profissional precisa abandonar a preferência ideológica se ainda
quiser ser relevante. É triste ver as ginásticas que jornalistas,
comentaristas e afins fazem para fingir imparcialidade —alguns nem mais
fingem, escondidos atrás da manta ridícula da "ameaça golpista", e
berram aos quatro cantos do Brasil os seus horrores a quem cheira a
"sangue de Jesus tem poder".
Pontualmente,
vale dizer que ninguém iria mesmo dar bola para os mortos da pandemia
—Bolsonaro demonstrou zero empatia com a agonia das pessoas. Apesar do
mimimi, ninguém lembra desgraças passadas. A CPI da pandemia foi parte do circo institucional que é a vida política nacional.
A resposta bolsonarista veio pelo voto, não pelo golpe. Uma vergonha, não?
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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