Liberdade é inegociável e não pode estar sob julgamento. Isso é democracia! Artigo do ex-ministro Salim Mattar para a Gazeta do Povo:
A
democracia somente corre riscos quando o país é governado por homens.
Uma verdadeira nação, democrática e republicana, deveria ser governada
por leis. A democracia
corre os mais sérios riscos quando os homens começam a “interpretar” as
leis e cercear as liberdades. Interpretações que criam impunidade e
privilégios não são legítimas e, portanto, incompatíveis com o Estado de
Direito. Democracias correm riscos, principalmente, quando o Judiciário
extrapola seus limites e desrespeita o Estado de Direito.
Está
cansativo presenciar tanta desarmonia e atos pontuais por parte dos
três poderes que têm como consequência trazido indignação ao povo e com
impactos diretos, devido à insegurança jurídica, na economia do país, no
momento com tantos desempregados e desalentados. Os três poderes são
constituídos de servidores públicos que deveriam servir ao povo, mas,
infelizmente, salvo exceções, presenciamos prioridades nas disputas de
poder deixando em segundo plano o combate à pobreza e à extrema pobreza
num momento que vemos brasileiros comprando ossos para saciar a fome.
Nossas
autoridades deveriam perceber que o povo, os verdadeiros senhores da
nação, tem presenciado com desgosto essa desarmonia desagregadora entre
os poderes da república. Precisamos de mais civilidade dos líderes e das
demais autoridades constituídas que têm o dever de zelar pelo fiel
cumprimento da Constituição. Essas pessoas, ocupando funções como
servidores públicos, remunerados e mantidos pelos pagadores de impostos,
deveriam ser um admirável exemplo de retidão e comportamento para todos
os cidadãos.
Precisa
a Suprema Corte entender que o povo brasileiro deseja viver num país
democrático e republicano e tem o direito de se manifestar, clara e
diretamente, nas redes, na mídia ou nas ruas quando achar que qualquer
autoridade ou poder esteja se excedendo, desrespeitando ou mesmo
"interpretando” a Constituição afrontando o Estado de Direito. Banir
plataformas de comunicação, ou redes sociais, controle da mídia e
cerceamento do direito de expressão não é coerente com o ambiente
democrático pois afronta a liberdade.
Os
cidadãos têm absoluta legitimidade para criticar, independentemente da
opinião de autoridades. E não cabe à Justiça ou a qualquer autoridade
dizer que crítica tem ou não legitimidade. Deveriam as nossas
autoridades aceitar que estão sujeitas às críticas públicas, ser mais
humildes e reconhecer que o povo não se amedronta e não se submete a
questionáveis interpretações da Constituição emanadas, não por anjos,
mas por homens que podem cometer falhas em seu juízo de julgamento. E
mesmo quando for uma decisão inconstitucional, ela deve ser cumprida?
O
povo brasileiro é, por natureza, pacífico e ordeiro. Mas não é
submisso! E não se permitirá ser submisso mesmo com pressão de qualquer
das instituições. No momento esse povo está indignado e inconformado por
atos provenientes de nossa mais alta Corte e também consciente de que
bravatas não colocam em risco a democracia. O povo está apreensivo com a
consequência de atos pontuais que conduziram a prisão de cidadãos sem o
devido processo legal colocando em risco o Estado de Direito. Quando
instituições perdem credibilidade e respeitabilidade e apelam para a
força colocam a democracia em risco. A postura ativa do povo em prol de
pautas sociais, econômicas, políticas ou mesmo ideológicas é garantia de
saudável democracia e engajamento cívico bem como grito de alerta para
que as nossas autoridades possam agir melhor corrigindo eventuais
desvios, rumos e comportamentos.
As pessoas devem dizer o que pensam e serão expostas ao julgamento público pois as ideias absurdas naturalmente se exalam. A liberdade de expressão
é o pré-requisito de uma sociedade civilizada, democrática e
republicana e significa que qualquer cidadão pode, livremente, se
manifestar sobre qualquer tema e o combate se dará com palavras e
ideias. Não podemos aceitar que homens de toga se comportem como os
únicos guardiões da democracia e da verdade, julgando, a seu bel prazer,
monocraticamente, o que seja certo ou errado, o que pode ser ou não ser
dito, o que coloca ou não coloca a democracia em risco e o que é ou não
ato antidemocrático. Até porque, foram essas mesmas pessoas que
retrocederam na legislação, na jurisprudência e no combate à corrupção.
O
maior poder da república é o povo. O povo é soberano, tem que exercer
seus direitos, se manifestar e não pode se calar. As instituições são
subordinadas ao povo. Nenhuma instituição é o maior poder da república.
Vemos com frequência nossas autoridades defenderem as instituições. Mas
não temos visto essas mesmas autoridades defenderem a liberdade sendo
que ela está acima das instituições. As instituições existem para
garantir a liberdade individual.
Liberdade é inegociável e não pode estar sob julgamento. Isso é democracia!
Salim
Mattar, é um dos maiores defensores da causa liberal e tem apoiado
muitos dos mais de 100 institutos existentes no Brasil. Membro ativo do
Instituto Liberal fundou os institutos de Formação de Líderes hoje
presentes em Belo Horizonte, São Paulo, Florianópolis, Rio de Janeiro,
Brasília, Recife, Curitiba, Fortaleza e Lajeado.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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