Porta-voz da chancelaria de Pequim reafirma amizade com Moscou e propõe a adoção de novo exemplo de diplomacia baseado na não-aliança. Chineses veem a invasão à Ucrânia como um conflito entre os russos e a Otan, liderada pelos EUA
Tribuna da Bahia, Salvador
30/04/2022 12:39 | Atualizado há 8 horas e 13 minutos
Na contramão da diplomacia ocidental, enquanto os Estados Unidos e a União Europeia têm condenado e punido Moscou pela invasão à Ucrânia, a China não somente reforça a retórica de apoio à Rússia, como propõe uma reformulação da ordem internacional. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, considerou o conflito no Leste da Europa como uma guerra entre a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), liderada pelos EUA, e a Rússia, além de exaltar o elo entre Pequim e Moscou. O pronunciamento de Zhao foi dado um dia depois de mísseis russos atingirem Kiev, matando uma jornalista, durante a visita do secretário-geral da ONU, António Guterres.
"Uma importante lição do sucesso das relações entre China e Rússia é que os dois lados se mostram superiores ao modelo da aliança política e militar da era da Guerra Fria, e se comprometem a desenvolver um novo modelo de relações internacionais baseado na não-aliança, na não-confrontação e em não visar terceiros países. Isso é fundamentalmente diferente da mentalidade da Guerra Fria", declarou Zhao.
Cientista político e professor do Departamento de Relações Internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Mauricio Santoro lembrou ao Correio que, dias antes do início da invasão à Ucrânia, Xi e Putin se reuniram. "Na ocasião, ambos disseram que a relação entre os dois países era uma amizade sem limites. Há uma tentativa de se construir uma aliança diferente da Otan. Essa relação entre Pequim e Moscou não é um acordo militar baseado na autodefesa, mas uma série de parcerias econômicas e políticas", avaliou.
Segundo ele, a relação sino-russa se torna mais profunda, dada a dimensão continental das duas nações e seu peso nas relações internacionais. "Ainda que não endossem totalmente a guerra, os chineses seguem apoiando, política e diplomaticamente, os russos e tentando reduzir os impactos das sanções", explicou Santoro.
O especialista acrescenta que o centro da relação da China com a Rússia é uma tentativa de formar uma coalizão política com visões sobre a ordem global muito mais crítica do que a do Ocidente. "A parceria é, substancialmente, um acordo político, propondo uma visão de mundo alternativa à preconizada pelo Ocidente. Essa coalizão tem um desdobramento mais suave com os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e África do Sul) e mais pesado, sobretudo no Oriente Médio. A parceria entre Pequim e Moscou tem proximidade com países como Síria e Irã, que mantêm uma relação bastante conturbada com os europeus e os norte-americanos", concluiu Santoro.
Fonte: Correio Braziliense
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