Percival Puggina
Sempre que se fala em comunismo, surge alguém com a dúvida: “Comunismo ainda existe?”. Afinal, caiu o muro de Berlim, a União Soviética entregou os pontos após sete décadas de improdutividade e fome, partidos comunistas fecharam mundo afora enquanto outros mudaram de nome, a democracia vicejou no leste europeu, a China adotou um capitalismo selvagem (sob os olhos do Estado, claro) e os raros países ainda comunistas são geopoliticamente irrelevantes.
Então, acabou? Claro que não, comunismo é ideologia e movimento político. Você pode identificá-lo de várias formas, em muitas situações. O comunismo:
- qualifica todos os seus adversários como fascistas, a exemplo do que fazem os antifas, sempre saudados com efusão por seus militantes na mídia quando aparecem em alguma avenida ou praça, entre fogueiras, rolos de fumaça e estragos que lembram os rastros dos cavalos de Átila;
- assina lista de presença em solenidades de formatura que refletem o engajamento de ampla maioria do ambiente acadêmico nacional;
- subscreve apoios e adesões de supostos intelectuais e artistas, mundo afora, sempre e onde quer que seus camaradas ou países comunistas enfrentem dificuldades;
- infiltra-se nos órgãos de representação existentes, ou cria os próprios, sob um sorrateiro e enganador guarda-chuva “democrático”;
- impõe seu index librorum prohibitorum sempre que alguma biblioteca ou bibliografia fique sob sua influência;
- diz quem entra ou não entra em qualquer cancela ou portaria do setor público que comande;
- adota um conceito sobre natureza humana e direitos do homem que só se aplica aos próprios companheiros ou camaradas;
- fragiliza quanto pode a instituição familiar para que ela não se sobreponha à influência dos comunistas;
- tem ojeriza ao cristianismo e suas naturais expressões na cultura e nas posições políticas dos cidadãos.
O leitor destas linhas, pessoa com discernimento, saberá que descrevo situações reais e cotidianas em todo o Ocidente e que eventuais variações, aqui ou ali, são minúcias circunstanciais. Se ponderar melhor, verá que ele, seus adeptos e seus efeitos estão nítidos por toda parte. Basta ter olhos de ver. Você o verá em cores: em verde-político, significando veneração pagã à natureza onde o ser humano é mal visto e em vermelho (que diz representar o martírio da classe operária), mas significa uma história de genocídios com mais de cem milhões de vítimas. Nunca o verá em verde e amarelo.
O comunismo do século XXI largou de mão o Marx metido a economista. Por sua utilidade na retórica direcionada à conquista do poder e subsequente imposição de silêncio à divergência, acolheu os filósofos influenciados por Marx. Segundo Olavo de Carvalho, nunca foram outros os objetivos dos comunistas em seu trânsito pela História.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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