Putin não só minou a institucionalidade do país, tentando transformá-lo em um vizinho falido e vulnerável. Putin está minando o solo e seguirá matando, mesmo quando toda essa barbaridade deixar de chamar a atenção do mundo. Leonardo Coutinho para a Gazeta do Povo:
Quando
começa uma guerra convencional, esta em que se vê soldados de um lado e
de outro trocando tiros entre si, é sinal de que a batalha já vinha
sendo travada muito antes no campo político, diplomático, informacional,
religioso e econômico, apenas para citar algumas das dimensões que
antecedem a opção pela força bruta. Essas várias formas de lutas, que
sempre são combinadas, minam de tal maneira o campo de combate que
tornam quase irreversíveis os danos causados entre as partes envolvidas
na contenda.
Mas
há um tipo de movimento que vai além das sequelas no âmbito das
relações internacionais e que segue matando anos a fio, mesmo depois da
volta da paz. Há evidências consistentes de que a Rússia está usando
minas terrestres na Ucrânia. Um tipo de arma proibida e traiçoeira, que
mata e mutila.
A
organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch emitiu um
alerta de que foram localizadas minas russas capazes de atingir quem
estiver em um raio de 16 metros do aparato enterrado no solo. Minas
terrestres são armas que são abandonadas nos campos de batalha e seguem
matando de forma indiscriminada, de soldados a crianças que simplesmente
têm o azar de pisar nelas.
Existe
um tratado internacional, datado de 1997, que proíbe integralmente o
uso de minas, a sua produção, armazenamento e venda. A Rússia jamais se
uniu aos 164 signatários do contrato.
As
minas desenterradas no solo ucraniano são uma perfeita tradução da
covardia e maldade. Quando seus sensores são acionados por quem pisa
nelas, uma carga explosiva ejeta uma cápsula no ar que sofre uma segunda
explosão, espalhando fragmentos de metal que estraçalham o que está ao
seu alcance.
A
Human Rights Watch documentou o uso de minas de origem russa em mais de
30 países, incluindo na Síria, na Crimeia (2014-2015) e na Líbia –
todos esses conflitos com o envolvimento das forças russas.
Essas minas não desapareceram com o fim da guerra. Elas seguem matando.
Bem
do lado do Brasil, na Colômbia, está um exemplo aterrador. O Comitê da
Cruz Vermelha denunciou que em 2020 foi registrado o maior número de
vítimas de minas terrestres desde a assinatura dos acordos de paz de
2016 com as Farc, a guerrilha membro do Foro de São Paulo que quis
implantar um regime comunista na Colômbia e por mais de seis décadas
tocou o terror no país, provocando a morte e o deslocamento forçado de
milhões de pessoas.
A
Cruz Vermelha reportou nada menos que 486 casos, mais de uma explosão
por dia. O saldo da tragédia foi de 392 mutilados e 50 mortos. Quarenta
deles eram menores de idade.
As
minas pessoais na Colômbia são resquícios da guerrilha, mas também são
parte de uma cruel atualidade. Os traficantes têm quem venda esse tipo
de arma para eles. Usam minas para proteger as áreas de cultivo de
folhas de coca. Não há muitos provedores desse tipo de arma no mundo. E
ganha uma matrioska quem adivinhar de onde elas podem vir por meio do
mercado negro de armas.
A
guerrilha da Colômbia foi encerrada em meio a um processo com muita
festa, mas poucos resultados. As Farc chegaram à política formal ao
mesmo tempo em que suas “dissidências” seguiram cuidando dos negócios do
crime. O tráfico de cocaína é o principal deles.
A
“paz na Colômbia” é tão absurdamente sem sentido que, em 2021, a Cruz
Vermelha contabilizou 53 mil pessoas que foram obrigadas a se mudar de
suas vilas e cidades para fugir dos conflitos e das minas. Um aumento de
158% em relação a 2020.
Em
meio século de conflito armado, cerca de 120 mil pessoas desapareceram
na Colômbia, correspondendo a quase quatro vezes mais que o registrado
durante as ditaduras da Argentina, Brasil e Chile. Mas as Farc sempre
foram as queridinhas da companheirada. Membros do Foro de São Paulo, que
sempre as colocou ao lado de partidos como o PT e o PCdoB.
A
Cruz Vermelha soltou um alerta de que 2022 pode ser ainda mais
sangrento. Apenas entre janeiro e fevereiro deste ano, 110 pessoas já
foram atingidas por essas minas.
Um
segundo relatório, produzido pelas autoridades de segurança de Estado,
mostra que entre 1988 e 2012, mais de 12 mil colombianos foram atingidos
por minas e 2.119 morreram. De 2012 a 2021, ao todo 2.686 militares
morreram ou foram mutilados. Vítimas, em tempos de paz.
Na
Ucrânia, Putin não só minou a institucionalidade do país, tentando
transformá-lo em um vizinho falido e vulnerável. Putin está minando o
solo e seguirá matando, mesmo quando toda essa barbaridade deixar de
chamar a atenção do mundo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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