As
demências são doenças graves, ainda sem cura, e que devem aumentar sua
incidência com a maior longevidade da população. Essa questão deve se
tornar ainda mais preocupante e debatida à medida que essa realidade
trouxer impactos à saúde pública. Um fator essencial para a qualidade de
vida do paciente de Alzheimer é o preparo e a saúde dos familiares ou
cuidadores que assumem no dia a dia a atenção a essa pessoa.
Para a geriatra da S.O.S. Vida, Fernanda Reis, esse é um tema que ainda é pouco discutido, mesmo nos consultórios médicos.
“Eu
penso que cuidar de um paciente com demência é similar à sensação de
uma mãe de primeira viagem. A demanda é grande e nunca se está
totalmente preparado. Quando se adapta a realidade, outros sintomas
surgem, a demanda muda. É muito difícil estar preparado para tudo”,
aponta a especialista.
Fernanda
acredita que a informação é um fator essencial neste sentido, para que a
pessoa que cuida esteja mais ciente do que pode ocorrer, conheça outras
experiências, tenha informações sobre as fases da doença, tratamentos
disponíveis e como lidar com o paciente.
“Acredito
que temos que falar mais sobre esse assunto na nossa sociedade, com
campanhas, grupos de familiares, enfim, ações que tragam respaldo para o
cuidador. Como ainda temos poucas atividades voltadas para esse foco,
eu recomendo aos familiares e cuidadores que leiam sobre a doença,
conversem com outras famílias, tirem todas as dúvidas que tiverem nas
consultas e, sobretudo, faço um alerta para o cuidador ficar atento ao
autocuidado”, aponta Fernanda.
A
geriatra enfatiza essa necessidade de que o cuidador tenha momentos de
descanso e não perca de vista a possibilidade de manter sua saúde e
bem-estar. Afinal, para cuidar, a pessoa precisa estar saudável.
Juliane
Prado, geriatra da S.O.S. Vida, enfatiza que é importante estar atento,
já que as perdas de função que são ocasionadas pela demência podem
gerar quadros depressivos nos idosos – o que podem inclusive agravar os
danos cognitivos.
“Especialmente
na fase inicial da doença, o paciente tem momentos, que chamamos de
insights, nos quais ele percebe que não consegue mais fazer atividades
que antes fazia normalmente e isso pode ser gatilho para a depressão.
Demência e depressão podem aparecer juntas e contribuir para a piora
cognitiva”, explica a médica.
Reforço e reabilitação cognitiva
Até
alguns anos atrás, não se falava em prevenção de demências, em especial
do Alzheimer, a mais recorrente. No entanto, dentro do cenário de
envelhecimento da população, a busca por alternativas que possam
retardar a evolução da doença tem indicado que os estímulos cognitivos
são um caminho.
Juliane
pontua que em termos de medicações para o tratamento de demências não
se teve avanços significativos nos últimos anos, mas pesquisas seguem
sendo realizadas. Porém, como forma de retardar essas doenças, a reserva
cognitiva é que tem sido mais debatido.
“É
como se fosse uma poupança que vamos acumulando ao longo da
vida. Durante o envelhecimento normal, vamos sofrendo mudanças na
estrutura e funcionamento do cérebro. Aqueles que conseguiram acumular
mais reserva, podem não manifestar alterações cognitivas com prejuízo
funcional ou demorar mais tempo para que essas alterações se
manifestem”, pontua.
A
geriatra ressalta que essa reserva é obtida com atividades de
estimulação, como leitura, atividade física, nível de escolaridade e
controle adequado de determinadas doenças como hipertensão, diabetes e
obesidade.
“Por
isso falamos em aprender sempre novas atividades. Além disso, o
engajamento social também é importante para evitar ou frear os impactos
das demências”, ensina.
Fernanda
explica que, para os pacientes, as atividades cognitivas sempre são
recomendadas, mas serão muito variáveis de acordo com o grau e estágio
do paciente.
“Quando
o Alzheimer está em fase leve e até moderada, o reforço cognitivo tem
um papel importante, com atividades diversas, como as terapias
ocupacionais. Também é importante manter a socialização desse paciente,
pois alguns podem perder o ânimo de fazer as atividades. Muitas vezes
também, à medida que o quadro avança, é possível que ele precise de
outros recursos, como fonoaudióloga, fisioterapeuta, etc”, pontua.
Parceria
Juliana
Santana, geriatra do Espaço Ativo, localizado em Sergipe, acredita que a
possibilidade de retardar a evolução da Doença de Alzheimer e até mesmo
preveni-la está diretamente associada a reserva cognitiva que a pessoa
dispõe.
Essa
reserva, aponta ela, com base em diversos estudos em todo o mundo, pode
ser ampliada com atividades que promovam a ativação de diversas áreas
do cérebro. Para proporcionar um instrumento para pacientes e pessoas
que desejam prevenir as demências, o Espaço Ativo criou o Bom da Cuca,
que são cadernos, em quatro níveis, com atividades lúdicas, produzidos
por uma equipe técnica especializada, feitos para estimular a memória,
atenção, raciocínio e linguagem.
Buscando
levar mais um recurso para seus pacientes e para os familiares de
pessoas com demências que são atendidas pelo home care, a S.O.S. Vida,
em parceria com o Espaço Ativo, leva essa ferramenta para seus
assistidos.
A
coordenadora médica da unidade de Brasília, Patrícia Espiño, salienta
que a ferramenta não envolve apenas o paciente, mas a família, uma vez
que o Bom da Cuca também é direcionado para pessoas sem diagnóstico de
demência, mas que desejam melhorar suas funções cognitivas.
“Nós,
que trabalhamos no domicílio do paciente, precisamos também fazer essa
reflexão, de como nossa atuação pode melhorar a qualidade de vida e
ajudar na prevenção ou para uma progressão mais lenta da doença. O
impacto do envelhecimento na saúde pública é algo que vai afetar toda a
sociedade, logo, melhorar a qualidade de vida no envelhecimento é uma
questão de bem-estar coletivo”, opina Patrícia.
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