Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
Hoje começam os preparativos no Palácio do Campo das Princesas, sede do governo de Pernambuco, para o cerimonial do velório do ex-governador Eduardo Campos. A família do político já decidiu que a missa de corpo presente será uma missa campal, na frente do Palácio. A área será interditada ainda nesta quinta. Apesar do luto oficial de sete dias decretato por João Lyra Neto na quarta, o expediente nas repartições públicas é normal no dia de hoje.
Todos os restos mortais foram encontrados, diz perito
O perito Antonio Nogueira do Instituto de Criminalística disse na manhã desta quinta, que as equipes de busca já encontraram todas as partes dos corpos das vítimas do acidente aére, Eduardo Campos, e mais seis pessoas em Santos. De acordo com ele, os agentes que estão no local farão ainda uma última varredura, mas Nogueira disse acreditar que o trabalho deverá se concentrar, a partir de agora, na identificação das vítimas e das peças e na análise dos dados das caixas-pretas que podem apontar as causas da queda do avião Cessna 560XL, prefixo PR-AFA.
"O trabalho inicial já foi encerrado", disse Nogueira, em rápida entrevista a jornalistas no local do acidente, em um bairro central da cidade da Baixada Santista. O perito contou que as maiores peças do jato executivo já estão em poder da Aeronáutica, turbina e trens de pouso. "Vamos trabalhar em conjunto com a Polícia Federal e a Aeronáutica", afirmou o perito, a respeito do trabalho do Instituto de Criminalística no caso.
De acordo com Nogueira, não há prazo para que os órgãos cheguem a respostas sobre a queda do avião que transportava Campos. "O (acidente) da TAM demorou mais de 20 meses", disse, ao lembrar da investigação sobre as causas do acidente com uma aeronave da companhia aérea brasileira no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, em 2007. Segundo o perito, peças terão de ser enviadas ao exterior para análise dos fabricantes.
A identificação dos corpos está sendo realizada na capital paulista pois, segundo Nogueira, lá existe um laboratório de análise por DNA. "Nesse tipo de identificação é preciso exame de DNA", afirmou. Ele disse ainda que uma ambulância com mais vestígios das vítimas saiu do local do acidente em Santos para São Paulo durante a madrugada desta quinta-feira.
Campos foi o que mais viajou no período eleitoral
Do início oficial da campanha eleitoral, em 6 de julho, até se acidentar, o candidato Eduardo Campos percorreu mais de 36 mil quilômetros em quatro das cinco Regiões do País.
Foi o presidenciável que mais viajou, tanto em quilometragem como em número de cidades visitadas. Antes da largada oficial da campanha, já viajava mais que os adversários.
Em abril, sua assessoria chegou a divulgar um plano, não concretizado, para levá-lo às 200 maiores cidades do País até junho, acompanhado de Marina Silva, sua companheira de chapa.
Era uma estratégia para vencer a barreira do desconhecimento - fora de seu Estado, Pernambuco, o nome de Campos tinha baixo impacto no eleitor.
Nas últimas cinco semanas, o candidato esteve em 40 cidades de 15 Estados. Marcou presença em toda a Região Sudeste e em sete Estados do Nordeste. No Sul, só não esteve no Paraná - cancelou uma ida a São José dos Pinhais, no início do mês.
Aproveitando-se do transporte aéreo em jato privado, não se limitou a visitar cidades maiores e investiu em polos regionais. Pousou em aeroportos como os de Juazeiro do Norte (CE), Franca (SP), Pelotas (RS), Patos (PB) e Juiz de Fora (MG). Quase sempre começava suas agendas de campanha com uma entrevista coletiva no próprio aeroporto.
Até a quarta-feira, 13, o número de municípios visitados por Campos superava a soma dos percorridos pelo tucano Aécio Neves (21) e pela petista Dilma Rousseff (16).
Para historiadores, sucessão presidencial é imprevisível
Uma sucessão presidencial imprevisível, agora marcada pela perplexidade e por uma tragédia sem comparação possível no passado da República brasileira. Para pesquisadores que acompanham a política e a história do Brasil, esse é o cenário em que a morte do candidato do PSB à Presidência, Eduardo Campos, lança a política do País.
O destino da campanha passa a depender de uma eventual substituição da candidatura do político pernambucano por Marina Silva, admitem. Mas, mesmo esse cenário não é certo, reconhecem. "Equivalente a isso, só (a morte de) Tancredo (Neves, presidente eleito indiretamente em 1985, que, internado antes da posse, morreu sem assumir o mandato)", afirmou a historiadora Maria Celina D'Araújo.
"Porque já houve outros casos, como (as mortes de) Ulysses (Guimarães, liderança do PMDB que desapareceu em queda de helicóptero no mar, em 1992) e Castelo Branco (ex-presidente militar nos anos 60, durante a ditadura, morto em acidente aéreo em 1967). Mas que tenha tido impacto tão grande, só Tancredo."
A historiadora destacou que Campos era um candidato que poderia "fazer a diferença" no processo sucessório, viabilizando um 2.º turno. "Era um fiel da balança importantíssimo. Agora é difícil avaliar. O partido vai ter de discutir. Não sei se o PSB terá alguém para substituir."
'Marasmo'
O cientista político Luiz Werneck Vianna disse não se recordar de episódio semelhante na República. "A eleição já está um marasmo danado, um desencanto generalizado", disse. "Sem uma candidatura influente no Nordeste, a campanha fica ainda mais desinteressante." Para Vianna, o processo eleitoral já precisava, "imperativamente, urgentemente", de algo para movimentá-lo mesmo antes da morte de Campos.
"Só duas candidaturas competitivas (Dilma Rousseff, do PT, e Aécio Neves, do PSDB) não satisfazem." Vianna não acha que eventual entrada de Marina, embora importante, vá "eletrizar a campanha". Mas, avalia, se houver outra candidatura pelo PSB, as consequências poderão ser piores.
"Um fantasma ronda a eleição, o desinteresse da população. A impressão que tenho é de que doses cavalares de Dilma vão torná-la ainda mais desinteressada." O pesquisador disse que Campos era "um candidato que sabia conciliar interesses". "Não é o caso de Marina. Se ela se tornar candidata, para ter um bom desempenho vai ter de limar muitas arestas, não só com o agronegócio", disse. "Diante do cenário, só poderes mediúnicos podem garantir previsibilidade."
O historiador José Murilo de Carvalho lembrou outros políticos cujas mortes tiveram impacto na história. Citou os presidentes Afonso Pena, na República Velha, Getúlio Vargas, que se suicidou em 1954, o marechal Costa e Silva, vítima de derrame cerebral em 1969, e Tancredo Neves. "A morte de Tancredo foi a mais sofrida, a de Getúlio foi a mais impactante."
"A de Tancredo não afetou a abertura política, mas os seus rumos; a de Afonso Pena mexeu com a sucessão." Disse, porém, não se recordar da morte de candidato presidencial em campanha. Carvalho considerou difícil prever o que acontecerá.
"Em que isso afeta a reeleição de Dilma?", questionou. "Poderiam dizer que polariza (entre Dilma e Aécio). Mas tem Marina Silva... Se ela se lança, a oposição se mantém dividida. Mas talvez favoreça o 2.º turno. É possível que tenha mais votos que Eduardo. Se ela não se lançar, não sei." Aécio precisará convencer a oposição a se unir em torno dele, opinou. A polarização Dilma-Aécio "naturalmente favorece Dilma".
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