BLOG ORLANDO TAMBOSI
Monstruosidade, indecência, vileza. O idioma pátrio possui muitos sinônimos para a invasão da turba irada nos edifícios que o mundo admira. José Renato Nalini para o Estadão:
Parecia
pesadelo, mas era verdade. A invasão da turba irada nos edifícios que o
mundo inteiro admira, mercê da criatividade de Oscar Niemeyer e Lúcio
Costa, foi um episódio deplorável. O século 21 o guardará como evidência
da insanidade, da verdadeira loucura que pode acometer o bicho-homem,
quando fanatizado. A quem teria servido esse miserável espetáculo?
Aos
autores da façanha, parece que a prisão, a perda da primariedade para
aqueles que – eventualmente – ainda não tivessem praticado crimes, não é
um fato abonador. Seguir-se-á um processo criminal por infrações
gravíssimas. Atentar contra a democracia, contra o Estado de Direito,
contra as instituições, contra o patrimônio público. Terrorismo,
hediondez evidente, a merecer adequada punição.
Mas
também há os aspectos civis. Os prejuízos e danos perpetrados contra
aquilo que é de todos, é do povo, embora de uso especial das autoridades
eleitas ou no exercício de seus múnus, como é o caso dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, é algo com que não se pode transigir. Seja
pelos fundamentos do Direito Penal, que é um ramo jurídico
essencialmente sancionatório, seja pelo efeito dissuasório, para evitar
que outros seres com anomalia mental sejam levados a condutas
semelhantes.
Nesse
ponto, é de se responsabilizar de imediato os financiadores dessa
conduta asquerosa. Houve uma logística dispendiosa. Quem pagou os
ônibus? Quem custeou a alimentação e o alojamento? Quem respondeu pela
convocação dos indignados? Esses têm responsabilidade até maior, por
incitamento de massa ignara e robotizada, após incessante campanha
contrária às urnas eletrônicas, evangelizadora do obscurantismo, do
terraplanismo, das teorias conspiratórias e disseminadora de tudo o que é
falso, mentiroso e mal-intencionado.
Em
seguida, apuração da omissão criminosa de quem deveria ter evitado a
depravação de espaços democráticos. A posse no dia 1.º de janeiro foi
uma demonstração de que um esquema de segurança funciona. Por que não
foi preservado na semana seguinte? O tom do mau gosto e da grosseria
veiculados nas mídias sociais eram uma advertência de que a esqualidez –
vencida nas urnas – poderia exibir sua abjeta reação.
A
sordidez que a mídia aberta e as redes sociais exibiram no domingo, 8
de janeiro de 2023, desserviu ao Brasil. O noticiário internacional,
embora solidário ao governo legítimo, é um alerta aos investidores, aos
pretensos turistas, de que no Brasil reina a bagunça e boa parcela de
seu povo prefere a imundície a aceitar a vontade da maioria. Vontade
inspecionada e legitimada por auditores internacionais e que sempre
valeu nesta terra, desde a sua redemocratização. Perda reputacional
imensa. Incalculável. Quem responderá por ela?
Sofre
a democracia um rude golpe. Seus inimigos preferiram conduta torpe à
regra de conquistar novos adeptos, até se tornarem a maioria. Perdem os
que se envolveram nisso, pois o efeito pretendido é exatamente o
contrário. Somente a má intenção, o dolo e a disforme concepção do que
deva ser uma República civilizada podem aplaudir o repugnante desempenho
dos desesperados.
Dessa
tarde pestífera se devem extrair algumas lições. O que justifica uma
covarde agressão a obras de arte produzidas por nossos artistas? Que
tipo de humano desprovido de alma tem coragem de esfaquear um quadro?
Destruir um relógio raríssimo, que chegou ao Brasil em 1808? Pensar que
na repelente fúria poderiam estar alguns equivocados, que se acreditam
cristãos e nada aprenderam da mensagem dos Evangelhos. Não há dúvida de
que entre os portadores de uma pútrida noção do que deva ser um governo,
existem servidores públicos: agentes pagos pelo povo para defender o
bem comum, não para destruir aquilo que foi construído, ornamentado,
adornado e produzido para a boa imagem da democracia brasileira. Não
estariam entre eles alguns indivíduos que foram execrados nos últimos
quatro anos, por serem minoria menosprezada por aquele a quem alegam
servir? É surreal a participação de tantas criaturas nessa pustulosa e
cruel farsa domingueira.
A
adjetivação que pode ser utilizada para descrever o inenarrável é
abundante: monstruosidade, abjeção, asquerosidade, depravação, fealdade,
feiura, horror, baixeza, indignidade, indecência, vileza. O idioma
pátrio possui muitos sinônimos para esse nojento e mesquinho crime
praticado por uma coletividade, mas cujos mandantes, os verdadeiros
arquitetos e planejadores da infame tragédia, não será impossível
descobrir. A República Federativa do Brasil tem de se articular para a
intensificação da inteligência, pois a falta dela ainda poderá voltar a
assustar a maioria: os bons brasileiros, que sabem ser o momento de
mudar os rumos da política para a edificação da pátria justa, fraterna e
solidária que todos queremos.
Ganhou,
na verdade, o governo que quiseram derrubar. A reação internacional
granjeou o repúdio de toda a liderança mundial. A democracia vai vencer.
É a vontade do povo trabalhador. Aos terroristas, a resposta a Justiça
dará.
Postado há 40 minutes ago por Orlando Tambosi
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