MEDIÇÃO DE TERRA

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quarta-feira, 24 de agosto de 2022

O futuro das entidades empresariais e sindicais

 

BLOG  ORLANDO  TAMBOSI


A relação dessas instituições com o Estado envelheceu. A ação política delas exigirá a revisão da forma de defender seus interesses. Artigo do diplomata Rubens Barbosa para o Estadão:


A mobilização da sociedade brasileira em defesa da democracia, do Estado de Direito e do sistema eleitoral colocou em evidência, entre outras, entidades representativas dos setores industrial e sindical e do agronegócio. A ação dessas confederações, federações e associações mostrou sua influência e suas contradições, pela diversidade de interesses envolvidos.

Com as profundas transformações econômicas e tecnológicas no mundo e com os desafios internos para a volta do crescimento econômico e do emprego, as agendas para o setor privado nacional mudaram. Essas entidades produzem trabalhos técnicos e defendem com eficiência os interesses conjunturais de seus associados. A percepção sobre essas instituições, porém, está contaminada, em grande parte, pela defesa não do interesse geral do País, mas por interesses setoriais, protecionistas e de ganhos de curto prazo, com a ilusão de que, com isso, poderiam ajudar o setor e a economia a crescer.

O agronegócio e a indústria estão apresentando propostas aos candidatos para a dinamização da economia e o crescimento desses setores, mas as principais sugestões dificilmente terão o respaldo político para a aprovação de legislação no Congresso Nacional. As entidades perderam a capacidade de influir efetivamente em políticas públicas de interesse geral.

Vou comentar especificamente o setor industrial, em vista da situação dramática hoje existente, resultado do esgotamento do modelo que beneficiou o setor nos últimos 60 anos, baseado no protecionismo, representado por barreiras tarifárias e não tarifárias, reserva de mercado, subsídios e incentivos fiscais, política cambial, entre outras políticas governamentais. Além das questões estruturais (custo Brasil) e do atraso tecnológico, no curto prazo, surgiram problemas com a falta de insumos e a alta da energia e, em especial, com os impactos negativos gerados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia.

As entidades representativas da indústria e dos trabalhadores não tiveram, nos últimos anos, a capacidade de formular propostas para a modernização do parque industrial brasileiro que pudessem sensibilizar os governos de turno. A exemplo do que está ocorrendo hoje em outros países, como os EUA e a França, uma nova política industrial deveria refletir os interesses do País e deveria responder aos desafios globais.

Em coordenação com o governo e o Congresso, para modernizar sua agenda, elas poderiam ter definido uma estratégia para promover a recuperação do setor em consonância com os interesses mais gerais do País. Essa ação poderia ter-se alicerçado no tripé reindustrialização, agenda de competitividade e abertura da economia, via negociação de acordos comerciais.

A reindustrialização e a modernização industrial serão possibilitadas pela implementação da agenda de reformas estruturais e de aumento da produtividade, que deveria ser complementada com uma verdadeira política industrial que induziria negócios estratégicos de alto impacto econômico e social. Nesse sentido, caberia: fortalecer mecanismos de apoio à indústria como financiamento, compras governamentais e estímulos à produção e à exportação de bens de média e alta tecnologias; definir como áreas prioritárias as indústrias de alto conteúdo tecnológico e inovadoras; identificar nichos de mercado para a nacionalização de produtos essenciais e estratégicos na área da saúde, de farmacêuticos e outras; identificação de áreas para criar cadeias de valor agregado na América do Sul a partir de interesses da indústria nacional; e apoio com políticas públicas para a internacionalização da empresa nacional.

A agenda da competitividade poderia ser levada adiante mediante ação política no Executivo e no Legislativo para a aprovação da reforma tributária, o fator mais importante para o aumento da competitividade da economia e das empresas nacionais. Outras políticas incluiriam a isonomia de tratamento entre produtos importados e nacionais; a desburocratização e a simplificação de regras e regulamentos; e apoio a centros de inovação, garantindo a conexão deles com a indústria e as universidades para um trabalho conjunto em áreas estratégicas como inteligência artificial, biotecnologia, incentivos à formação e capacitação de profissionais e à implantação da tecnologia 5G para acelerar o processo de modernização da indústria.

A abertura da economia deveria ser realizada via acordos comerciais, com a definição de uma política de negociação transparente, com a participação do setor privado e com o objetivo de diversificar mercados e a pauta exportadora e promover a ampliação de empresas exportadoras para reduzir a concentração hoje existente.

A relação das entidades do setor produtivo e sindical com o Estado envelheceu. Criadas em momento diferente do capitalismo brasileiro, elas não acompanharam as mudanças ocorridas na sociedade. A ação política dessas entidades exigirá a revisão da forma de defender seus interesses. Com isso, haveria uma mudança da percepção interna sobre o papel do setor privado num mundo em profunda transformação. As discussões sobre as perspectivas da indústria, do agro e dos serviços não são questões teóricas, mas práticas, e por isso seu foco deveria mudar radicalmente.
 
BLOG  ORLANDO  TAMBOSI

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