Eduardo Gayer e Beatriz Bulla
Estadão
A cúpula do Partido dos Trabalhadores ficou insatisfeita com o desempenho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro debate dos candidatos à Presidência, realizado na noite deste domingo, 28. Líder nas pesquisas de intenção de voto, Lula decidiu adotar a estratégia defendida por parte de seu entorno de não entrar em embates com o adversário, Jair Bolsonaro.
A ideia defendida por alguns aliados era de que Lula mostraria um estilo mais “presidenciável” do que Bolsonaro, ao preferir falar de assuntos nacionais a entrar nos ataques diretos.
RADICALISMO EXCESSIVO – O diagnóstico interno no PT é o de que a população está cansada da radicalização política e que a imagem pacificadora é uma forma de tentar aglutinar os votos anti-Bolsonaro ainda em disputa.
Na prática, no entanto, aliados do ex-presidente consideraram a estratégia mal sucedida, com Lula na retranca e a imagem de que o petista fugiu de perguntas do adversário como a primeira, sobre corrupção. Aliados reclamam que Lula deveria ter sido mais enfático ao ser confrontado sobre os escândalos de corrupção na era petista, assim como fez no Jornal Nacional.
A expectativa da campanha é de que o horário eleitoral gratuito ajude a dissipar essa impressão; a disputa presidencial volta ao rádio e à TV nesta terça-feira, 30.
PELA MADRUGADA – Caciques da campanha petista entraram a madrugada de segunda-feira avaliando o debate. Por um lado, entendem que o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, acabou se prejudicando ao atacar a jornalista Vera Magalhães e ao adotar tom agressivo com a senadora e candidata pelo MDB, Simone Tebet.
Mas viram Lula excessivamente comedido nas intervenções – ainda que a estratégia do PT seja, realmente, não colocar o candidato líder nas pesquisas de intenção de voto em enfrentamentos duros, ao menos no primeiro turno.
Integrantes da campanha do PT afirmam que quem perdeu foi Bolsonaro, mas não graças a Lula e sim a Tebet. A avaliação interna é de que o desempenho de Lula não mexe na disposição de indecisos – de votarem ou não nele -, mas que Bolsonaro saiu perdendo ao atacar as mulheres.
LULA NERVOSO – Logo na abertura do debate, promovido pela Band em parceria com TV Cultura, Folha de S. Paulo e UOL, Bolsonaro citou a delação do ex-ministro Antônio Palocci para trazer à tona a corrupção na Petrobras.
Lula respondeu com conquistas de seu governo – mas de maneira “pouco emocionada”, na avaliação de um correligionário – e só tentou “enquadrar” o candidato à reeleição ao final do debate, ao destacar o sigilo de 100 anos aplicado pelo presidente em documentos de Estado.
Para outro aliado, Lula estava nervoso e passou a imagem de quem se esquivou dos questionamentos sobre corrupção, um ponto nevrálgico para o eleitor de centro de classe média, segmento importante para consolidar o favoritismo do ex-presidente nas eleições.
RACHADINHAS – Esse mesmo interlocutor avalia que o petista deveria ter citado o caso das rachadinhas, que pesa contra Flávio Bolsonaro e outros familiares.
Na tentativa de minimizar o desconforto de correligionários, um outro petista afirmou que o horário eleitoral será decisivo para garantir a Lula espaço para consolidar os acenos ao centro e à classe média, o que não teria conseguido ao longo do debate.
Ao fim do debate, um dos aliados de Lula admitiu nos bastidores, no entanto, receio de que além de arranhar o apoio de mulheres a Bolsonaro, Simone ainda atraia alguns votos femininos que poderiam ser destinados ao ex-presidente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário