No primeiro debate dos presidenciáveis na Bandeirantes, prevaleceu defesa da visão econômica liberal, liderada pelos candidatos “nanicos”. Fernando Dantdas para o Estadão:
O
debate dos candidatos a presidente ontem [domingo, 28/8] na Rede
Bandeirantes teve como pontos mais proeminentes o desrespeito de
Bolsonaro em relação à mulheres (que depois ele tentou compensar
listando iniciativas do seu governo relacionadas a elas) e a
tergiversação de Lula diante do tema da corrupção.
Saindo,
porém, desses momentos provavelmente mais decisivos em termos do atual
certame eleitoral, um aspecto coadjuvante, mas não por isso pouco
significativo, chamou a atenção da coluna.
Em
forte contraste com a era de polarização entre petistas e tucanos nos
embates presidenciais, a visão econômica liberal e de direita ficou
quase o tempo todo no ataque, e a defesa do intervencionismo estatal
quase ausente.
Pode
ser uma mera coincidência ligada ao fato de que os candidatos “nanicos”
nas pesquisas até agora são todos simpatizantes – não necessariamente
no mesmo grau de fervor – do liberalismo: Simone Tebet, do PMDB, Luiz
Felipe D’Ávila (Novo) e Soraya Thronicke (União Brasil).
Como
o formato do debate equaliza o tempo daqueles que têm muita intenção de
votos e dos que quase não têm, o simples número de participantes com
pendores liberais fez uma grande diferença.
O
destaque, nesse sentido, foi de D’Ávila, que, praticamente sem pontuar
nas pesquisas, pontificou eloquentemente durante o debate sobre
empreendedorismo, cabides de emprego em estatais, o Estado esmagando o
cidadão trabalhador etc. Mas Tebet e Thronicke, mesmo que de forma mais
discreta, também se colocaram firmemente no campo da economia liberal.
Ciro
Gomes (PDT), por sua vez, que escreveu um livro em defesa da volta do
intervencionismo ao estilo das eras Vargas e Geisel como peça de
resistência da sua atual campanha, estava ocupado demais em atacar as
fragilidades de Lula e Bolsonaro, líderes das pesquisas, e não fez
qualquer confrontação direta à pregação liberal dos nanicos.
Outro momento emblemático do debate em relação a essa questão foi quando Lula estava criticando Bolsonaro
por ter vendido a Eletrobrás, a BR e estar fatiando a Petrobrás e
subitamente parou de falar, com uma expressão um pouco perplexa, e a
câmera voltou-se para o atual presidente estampando um sorriso irônico.
Novamente,
provavelmente foi apenas um acaso, talvez ligado à contagem de tempo
das falas ou alguma interferência que distraiu Lula (e Bolsonaro,
diga-se de passagem, “respondeu” sem se referir ao tema de
privatização), mas foi sintomático que esse momento tacanho tenha sido
praticamente o único do debate em que houve uma tentativa de se atacar a
ideologia privatista.
Quando se compara o debate de ontem com o estrago feito por Lula em 2006 na candidatura de seu atual vice e então oponente, Geraldo Alckmin, em cima do tema da privatização, o contraste não poderia ser maior.
Naquela
ocasião, a campanha de Lula “acusou” Alckmin de pretender privatizar
grandes empresas públicas, levando o tucano à cena patética de vestir
uma jaqueta com os logos do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal,
Petrobrás e Correios e afirmar, após palestra a funcionários do BC, que
“não vamos vender nenhuma estatal, não vamos privatizar nada”.
No
debate de ontem, Bolsonaro não deu ênfase particular ao liberalismo –
pelo menos na teoria – do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, mas
tampouco em momento algum renegou a orientação da política econômica do
seu primeiro mandato.
Lula
também pouco falou de programa econômico para além da promessa de volta
aos bons tempos do período em que foi presidente. Mas o ex-presidente
voltou a enfatizar a importância de ter Alckmin como seu
vice-presidente, o que é visto com uma sinalização centrista, que
poderia se estender à política econômica.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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