BAHIA NOTICIAS
por Cézar Feitoza | Folhapress

O Alto Comando do Exército teme que a disputa política polarizada
das eleições presidenciais deste ano possa causar um aumento de casos
de violência eleitoral.
A avaliação foi feita durante reunião dos 16 generais que compõem o
Alto Comando do Exército, em Brasília, na primeira semana de agosto.
A reunião tratava de questões administrativas, mas a análise da
conjuntura política e eleitoral foi feita durante o encontro, segundo
três generais com conhecimento do que foi discutido.
Para auxiliar em possíveis casos de violência eleitoral, os comandos
militares regionais deixarão batalhões a postos nos quartéis para
eventuais convocações nos dias das eleições.
Tradicionalmente, batalhões do Exército ficam mobilizados no dia da
votação nos estados que solicitam ajuda federal. Em pleitos anteriores,
no entanto, não havia a avaliação de que eles poderiam ser necessários
para atuar em eventuais episódios de violência relacionada ao processo
eleitoral.
As estratégias sobre como reagir a esse cenário já são discutidas
entre representantes dos militares e de estados que devem solicitar
apoio das Forças Armadas para a segurança e logística do primeiro turno,
como Rio de Janeiro e Tocantins.
Os generais consultados pela reportagem afirmaram que a morte do
petista Marcelo de Arruda, assassinado pelo bolsonarista Jorge Guaranho
em sua festa de aniversário, acendeu o sinal de alerta para o risco de
aumento de casos de violência.
O Exército se prepara desde o início do ano para tentar evitar incidentes relacionados ao período eleitoral.
Em mudança em seu cronograma, a Força definiu que os 67 exercícios
militares principais previstos para o ano devem ser executados até
setembro. Depois disso, todo o efetivo ficará à disposição de eventuais
necessidades.
Durante as eleições, as Forças Armadas são chamadas para ajudar em
questões logísticas e de segurança nas operações de GVA (Garantia de
Votação e Apuração).
A reportagem apurou que cerca de 30 mil militares devem atuar na
operação, que envolve o transporte de urnas eletrônicas para seções
eleitorais remotas.
O pedido de auxílio da força federal é feito pelos TREs (Tribunais
Regionais Eleitorais) ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A corte
aprova o envio das tropas militares após a assinatura de um decreto de
Garantia de Votação e Apuração, que cabe ao presidente da República.
A autorização para o emprego das forças federais neste ano já foi
dada, faltando ao TSE informar as localidades em que os militares
deverão atuar.
No primeiro turno das eleições de 2018, os militares atuaram em 510 locais de votação.
Alguns estados pediram auxílio específico para questões logísticas,
como é o caso de Roraima e Pará. Rio de Janeiro, que solicitou apoio em
106 zonas eleitorais em 2018, pede majoritariamente ajuda para garantir a
segurança dos eleitores.
Apesar do receio e da mobilização dos batalhões, a cúpula do
Ministério da Defesa vê como baixo o risco de apoiadores de Jair
Bolsonaro (PL) reeditarem a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos,
caso o presidente perca a eleição para o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT).
Os generais ainda afirmam reservadamente que o risco de aumento da
violência política não tem relação com os decretos de Bolsonaro que
ampliaram o acesso às armas.
Em audiência na Câmara, o ministro da Defesa, general Paulo Sérgio
Nogueira, foi questionado se as equipes de inteligências das Forças
Armadas monitoram "grupos armados ou pessoas mal-intencionadas [que
possam tentar] interferir e tirar a paz no processo eleitoral".
"O que nossas Forças Armadas estão fazendo para evitar um Capitólio,
por exemplo?", perguntou a deputada Perpétua Almeida (PC do B-AC).
O ministro respondeu que as Forças Armadas monitoram eventuais
movimentações por meio de sistemas integrados de inteligência, mas não
identificou risco de invasão como a de 6 de janeiro, nos Estados Unidos.
"A preocupação que a senhora expõe no comentário em relação ao
emprego da inteligência internamente e, não sei se foi essa a intenção,
no que diz respeito ao processo eleitoral, eu nego e não existe esse
tipo de preocupação [reedição da invasão do Capitólio no Brasil]."
O temor de aumento de violência eleitoral também mobilizou a Polícia Federal.
A diretoria-geral da corporação enviou ofício para as 27
superintendências regionais, no mês passado, para orientar que façam
contato com as respectivas secretarias de Segurança nos estados para
mobilizar esforços na segurança dos presidenciáveis.
No texto, a direção da PF afirma que o "cenário atual evidencia a
necessidade de somarmos esforços, haja vista o acirramento das relações
entre correligionários dos principais candidatos e os incidentes já
registrados na fase de pré-campanha eleitoral".
Além da violência política, os generais do Alto Comando do Exército
discutiram na reunião o desgaste da imagem das Forças Armadas diante dos
ataques do presidente Bolsonaro às urnas eletrônicas e da polarização
política.
De acordo com os relatos, a avaliação é que o Exército deve continuar
com o trabalho de fiscalização do processo eleitoral, uma vez que o TSE
convidou os militares para participar da comissão de transparência da
corte.
No entanto, os generais querem afastar a imagem de que as Forças
Armadas poderiam apoiar uma eventual ruptura democrática capitaneada por
Bolsonaro.
A dificuldade, segundo os generais, é que falar publicamente contra
um eventual golpe pode dar munição para oposicionistas analisarem o
movimento como uma ruptura das Forças Armadas com o governo Bolsonaro
--o que, dizem, não é verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário