MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 14 de agosto de 2022

E aquela do Cavaca?

 



Edição original de “Um Riso em Decúbito, de 1961, e anúncio de sua reedição, de 2007 

É o fim desta série, com um grande humorista cult. Ruy Castro para a FSP:


Encerrando esta série de frasistas, eis Don Rossé Cavaca. Ou José Martins de Araújo Junior (1924-65), carioca, 1,87 m, quixotescamente magro (daí o pseudônimo), colega de ginásio de Fernanda Montenegro, cronista esportivo, publicitário, ator, criador das pegadinhas na TV brasileira e humorista no papel e na vida real.

De madrugada, na Tribuna da Imprensa, onde trabalhava, Cavaca punha-se de cueca, enrolava-se num pano, subia numa mesa e imitava Gandhi. Usando peças de 4ª mão, construiu um carro na garagem de seu prédio. Em 1961, lançou seu livro "Um Riso em Decúbito", por 995 cruzeiros, que já vinha com uma nota de 5 para troco, a famosa "nota do índio" —cinco dias antes de ela ser distribuída pela Casa da Moeda. JK, recém ex-presidente, foi buscar o autógrafo de Cavaca. Algumas frases do livro:

"O tempo que levei aprendendo a extrair uma raiz quadrada foi um tempo precioso que eu poderia ter aplicado em fazer nada." "A Bíblia conta à sua maneira que Adão também comia maçãs em outra macieira." "Velório chato. Cafezinho excelente." "Tem cura, doutor? Se tem, vamos desenterrá-lo." "Há certos mortos que, francamente, deveriam respeitar a memória dos que ficam." "Flagrei minha mulher me pegando em flagrante." "Há meninas de sete anos que fumam como se já tivessem onze." "Assaltado o Banco do Brasil por ladrões de verdade."

"Bons tempos aqueles! Como se ganhava pouco!" "Acredito na sua honestidade, mas a quadrilha já está formada." "O Bobo da Corte está se divertindo à custa do povo." "Puxa, a vida eterna, como deve ser cansativa!" "No oitavo dia de jornada, um camelo riu como gente, mas conseguiu manter sua dignidade." "Que corrupção é essa que a gente morre sem conseguir atingi-la?" "Maldito é o goleiro. Onde ele pisa não nasce grama."

Cavaca morreu ao cair de sua lambreta no Aterro do Flamengo. Clarice Lispector despediu-se dele com uma crônica.

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