Os corpos dos brasileiros foram desovados nas franjas da terra indígena ianomami, indicando que os militares venezuelanos não só invadem impunemente o território brasileiro, como terras indígenas brasileiras. Leonardo Coutinho para a Gazeta do Povo:
Nesta
semana, um helicóptero das Forças Armadas Bolivarianas da Venezuela
invadiu o espaço aéreo brasileiro para uma operação macabra. A aeronave
militar sem marcações carregava pendurados em uma rede de carga os
corpos de cinco cidadãos brasileiros executados pela Guarda Nacional
Bolivariana, em um garimpo no Sul do país. Os relatos das testemunhas
dão conta de que os corpos, crivados de balas de fuzil, foram
descarregados em uma clareira no lado brasileiro da fronteira com menos
dignidade que a dedicada aos animais.
As
vítimas eram garimpeiros que trabalhavam na exploração de ouro que,
embora clandestina, é controlada por máfias subordinadas ao regime de
Nicolás Maduro, que se vale da atividade para movimentar centenas de
quilos de ouro que alimentam suas redes de crime e corrupção dentro e
fora da Venezuela.
Os
corpos dos brasileiros foram desovados nas franjas da terra indígena
ianomami, indicando que os militares venezuelanos não só invadem
impunemente o território brasileiro, como terras indígenas brasileiras.
O
silêncio global para a destruição ambiental promovida pelo regime de
Maduro é constrangedor. Mais ao norte da área onde os brasileiros foram
mortos, está o “Arco Mineiro” – local digno de comparação com cenários
de filmes distópicos ao estilo Mad Max. Encravado no meio da Amazônia
(pois é a Venezuela também um pedaço da floresta), os garimpos
paraestatais da ditadura chavista são de longe a maior estrutura de
devastação em atividade naquele bioma. Desmatam, envenenam rios,
contaminam o solo, matam indígenas e líderes comunitários locais. Mas
ninguém presta a atenção.
Assim como ninguém fora de Roraima deu a mínima pelo assassinato dos garimpeiros brasileiros pelo regime de Maduro.
As
vítimas não falavam inglês. Possivelmente eram até semianalfabetas. Não
tinham filiação partidária ou cargos públicos ou vínculos com
organizações capazes de mover as engrenagens da opinião pública. Por
muita sorte, podemos saber os seus nomes. O Instituto Médico Legal de
Boa Vista os identificou como Oswaldo José Figuera Suárez, Raimundo
Charles da Conceição Pereira, Francisco Pereira, João Barbosa da Silva e
uma mulher, Dilviane Nunes da Silva.
Esses
são os nomes dos cinco brasileiros assassinados pelo regime de Nicolás
Maduro, cujos corpos foram desovados no Brasil, com a combinação de
desrespeito total ao que Brasil, seus cidadãos e autoridades.
No
Brasil é longa a lista de autoridades que trabalham para a normalização
das relações com a ditadura de Maduro. A lista é apartidária. O senador
Chico Rodrigues, do União Brasil, é quem lidera o lobby chavista na
cozinha do presidente Jair Bolsonaro. Na extrema esquerda estão os
pessolistas e assemelhados que juram que a Venezuela é uma democracia
demonizada pelo imperialismo dos Estados Unidos e, assim como Cuba,
vítima de embargos cruéis e desumanos.
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu PT são os maiores aliados
regionais do regime de Maduro e inegavelmente a peça que falta para a
normalização completa daquela ditadura. Não faltam registros de afeto,
apoio e inspiração nas ações iniciadas por Chávez e agravadas pelo seu
sucessor.
A
direita no Brasil e América Latina faz um uso indiscriminado das
comparações de todos os males que surgem em seus países com as
atrocidades que são cometidas na Venezuela e que levaram a Venezuela ao
colapso econômico, social e institucional. A criminalização do Estado
atingiu níveis tão profundos nas instituições venezuelanas que as
tragédias que vemos no entorno, muito embora não devam ser
negligenciadas, parecem estar bem longe do que o chavismo foi capaz de
fazer.
O
horror do chavismo e sua sequência, pelas mãos de Nicolás Maduro e seus
aliados é tão evidente que qualquer defesa de seu regime não pode ser
explicada fora da patologia, má-fé ou cumplicidade criminosa.
O
regime espanca, prende, tortura e mata opositores. Mais de cinco
milhões de refugiados deixaram o país, ou para fugir da fome e miséria,
ou para não morrer nos tentáculos do regime que se vale do aparato
estatal ou das milícias que são mantidas pelo hibridismo do Estado e o
crime.
Não
seriam necessários mais exemplos para definir o comportamento mafioso
do regime e seus membros. Mas o assassinato de cinco brasileiros e toda a
operação envolvendo aeronave sem marcações e militares venezuelanos em
uma incursão clandestina em território brasileiro servem para relembrar
que além de uma ditadura, o regime de Maduro é uma guarda-chuvas de
organizações criminosas que operam em todos os níveis, desde o Palácio
de Miraflores, que é a sede do governo, até as entranhas da mata, onde
se mata e pilha a natureza com mandato e proteção estatal.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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