Eu aposto no Jesus doce; vote desse jeito e o ódio desaparece. Deirdre McCloskey para a FSP:
Apenas
a insanidade de um país ganha espaço na imprensa internacional. O fato
de a imensa maioria das pessoas, tanto no Brasil como nos EUA,
aparentemente ser razoavelmente equilibrada não chega a ser uma notícia
interessante.
Nós,
nos EUA, ouvimos falar de loucuras brasileiras, como pular Carnaval com
o maior entusiasmo. Anos atrás, alguns amigos queridos em São Paulo me
levaram para uma noite de samba ensandecido numa quadra de basquete de
um colégio. Um charme! Ouvimos falar de loucuras americanas, como
massacres ensandecidos cometidos em escolas e shopping centers com armas
militares. Muito menos charmoso.
As eleições brasileiras
e as nossas estão trazendo à tona insanidades que são dignas de virar
notícia. O fato de Michelle Bolsonaro ter acusado Lula de adorar o
demônio e de o próprio Lula ter respondido que o marido dela, Jair, é o
possuído pelo demônio foi noticiado pelo Washington Post.
Os
apelos odiosos lançados a uma minoria para fazê-la voltar-se contra uma
outra é algo que contagia os dois países. Michelle apela à terça parte
dos brasileiros que se tornaram protestantes evangélicos. Para isso, ela
se dispõe a implicitamente atacar a tradição afro-brasileira. Pensei
que a Igreja Católica tivesse feito as pazes com essa tradição.
Mas
espere aí: evangélicos. Por motivos que não compreendo, os cristãos
menos tolerantes no Brasil e nos EUA são aqueles que alegam perguntar
diariamente: "O que Jesus faria?". Nos EUA, alguns candidatos
republicanos que disputarão as eleições de novembro são abertamente
antissemitas. Adivinhe que tipo de cristão estão tentando agradar. Não
os católicos americanos, nem os chamados protestantes "convencionais",
não os evangélicos, como os episcopalianos —como eu—, os quais abriram
mão desse ódio particular há muito tempo. Bem, talvez não há tanto tempo
assim.
É
claro que as pessoas precisam do transcendental, que confere sentido às
nossas vidas, seja isso a família, o Fluminense, o sacrifício de
galinhas ou a manutenção de um relacionamento pessoal com Jesus Cristo. É
a identidade das pessoas. Os problemas políticos acontecem quando a
identidade vira ódio das pessoas que não têm essa identidade. Na
Irlanda, são os católicos contra os protestantes.
Como
Jesus votaria então? Falando em erudição bíblica séria, na realidade há
dois tipos de Jesus —o Jesus doce do Sermão da Montanha e o Jesus
intransigente de Mateus 23:33: "Serpentes! Raça de víboras! Como
escapareis ao castigo do inferno?".
Eu aposto no Jesus doce. Vote desse jeito e o ódio desaparece, as armas se calam.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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