Coluna de Carlos Brickmann, a ser publicada nos jornais de quarta-feira, 24 de abril:
A
determinação do ministro Alexandre de Moraes, de investir contra oito
empresários bolsonaristas de porte, parece estranha: por mais golpistas
que sejam suas opiniões, eram divulgadas entre amigos, num app
particular, de conversa, sem sinal de articulações externas, exprimindo
pensamentos, não ações. É uma conversa entre amigos, só que por escrito.
Por que uma reação tão dura do ministro? Será legal invadir uma
conversa particular e utilizar o aparato de força à disposição da
Justiça contra quem apenas dá sua opinião? A este colunista parece
censura. Mas este colunista nada entende de Direito.
Há,
apesar das aparências, duas coisas pouco habituais. A primeira é que a
conversa entre os empresários não era assim tão privada, tanto que vazou
para um dos colunistas mais importantes do país, Guilherme Amado, do
Metrópoles, de Brasília, que alcança ampla (e merecida) repercussão.
Quando Amado divulgou alguns posts, mais de 50 empresários deixaram o
grupo. Um empresário dos que sobraram defendia o uso da mentira em favor
de Bolsonaro, pois estava em guerra contra o eventual retorno de Lula e
PT.
A
segunda é que Alexandre de Moraes não ordenaria busca e apreensão sem
ouvir um amigo ponderadíssimo, o ex-presidente Michel Temer. Não é
difícil supor que, tendo as mensagens vazado, Moraes aproveitou a chance
para verificar se os oito empresários não estão por trás do
financiamento das fake news, ou até articulando ativistas dispostos a
tudo para dar o golpe.
A lista dos atingidos
Os
empresários submetidos à busca e apreensão são José Isaac Peres, da
rede Multiplan de shopping centers; André Tissot, grupo Sierra; Luciano
Hang, Havan; Meyer Nigri, Tecnisa; Marco Aurélio “Morongo” Raimundo,
Mormaii; Ivan Wrobel, Construtora W3; José Koury, Barra World Shopping; e
Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu. Todos têm condições para reagir à
medida e, caso a comprovem ilegal, de criar problemas para Moraes.
Vai negar
Se
o caro leitor confia 100% em Bolsonaro, deve pular para a nota abaixo,
em vez de se irritar. Mas é verdade: no início de semana, Bolsonaro
contratou um marqueteiro, cujo nome ainda não foi possível apurar, numa
tentativa de buscar as intenções de voto que o separam de Lula. Se o
presidente tomar conhecimento desta nota, irá desmenti-la. O marqueteiro
era reivindicação antiga de Flávio, o filho mais velho de Bolsonaro e o
mais enfronhado na política.
A
ideia até agora era vetada por Carlos, o filho 02, que confia mais em
suas ideias de desconstrução da imagem dos adversários. Não foi possível
apurar se Carluxo concordou com a contratação (desde que não interfira
no seu trabalho) ou se foi vencido. Se foi vencido, logo reclamará em
público.
Falou e disse 1
O
presidente Bolsonaro já disse publicamente, em 25 de abril de 2019, que
o Brasil “não poderia ser um país do mundo gay, de turismo gay, pois
temos famílias”. Complementou: “Quem quiser vir ao Brasil fazer sexo com
uma mulher, fique à vontade”.
Falou e disse 2
Lula
preferiu um comício: “Mão de homem não foi feita para bater em mulher.
Quer bater em mulher, vai bater em outro lugar, mas não dentro de sua
casa ou no Brasil, porque nós não podemos aceitar mais isso”.
Falava e dizia
Lembra
de Sebá, codinome Pierre, último exilado ainda na Europa depois da
anistia? Sebá, de Paris, telefonava para sua mulher Madalena, que lhe
contava as últimas novidades – inclusive a inflação galopante, que a
impedia de comprar a passagem de volta. Imagine Sebá, hoje, sendo
informado de que Alckmin é vice na chapa de Lula e circula com bonezinho
do MST. Ou de que o responsável pela Infraestrutura no Governo Dilma,
Tarcísio de Freitas, é o candidato do presidente Bolsonaro a governador
de São Paulo. Nem Tarcísio deve ter acreditado, mas pegou um bom mapa e
descobriu que no Brasil há um Estado com esse nome.
Temos
também um caso bom no Paraná. Lá, o ex-juiz Sérgio Moro, que foi
ministro de Bolsonaro e saiu atirando, que é tratado como traidor pelo
presidente, tenta voltar ao velho e confortável abrigo: diz que ele e
Bolsonaro “têm o mesmo adversário”.
Como diria Sebá, “Qu’est-ce que c’est, Madalena? Não quer que eu volte, arrumou outro? Seja franca, amancebou-se?”
Tela quente
Nesta
semana, entrevistas no Jornal Nacional com os candidatos à Presidência.
Na quinta, Lula; na sexta, Simone. No domingo, debate, o primeiro da
campanha, organizado por UOL, Folha de S.Paulo, Rede Cultura e Rede
Bandeirantes, às nove da noite. Pela primeira vez, se ninguém fugir da
raia, Bolsonaro e Lula se defrontarão. Nas pesquisas do início da
semana, da FSB/BTG, Lula lidera com 45% - o mesmo índice anterior.
Bolsonaro subiu 2 pontos, ainda na margem de erro, e tem 36. Ciro caiu
de 8 para 6%.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário