Não é o deputado brutamontes quem mais desmoraliza e incita a população contra a corte. Leandro Narloch para a FSP:
Há pessoas em Brasília trabalhando para desmoralizar o Supremo Tribunal Federal.
Elas praticam ações que jogam a população contra a corte e causam
animosidade entre os Poderes. Motivados por interesses pessoais, mancham
a imagem de imparcialidade da qual depende a confiança dos brasileiros
na Justiça.
Não estou falando apenas do deputado brutamontes que foi condenado nesta semana ou de seus congêneres. Mas de boa parte dos próprios ministros do STF.
De
todos os conflitos e antagonismos de Brasília, há um sobre o qual pouco
se comenta: aquele entre a instituição do STF e os ocupantes
provisórios de suas cadeiras. Esses esculhambam a reputação do tribunal
com mais força que qualquer fanfarrão bolsonarista.
Em
dezembro de 2020, Gilmar Mendes, Lewandowski, Toffoli e Alexandre de
Moraes votaram a favor da reeleição de Maia e Alcolumbre. Contrariaram, à
luz do dia, em frente às câmeras, o que a Constituição diz com toda
clareza e precisão.
O que desmoraliza mais o STF: votos politicamente motivados como esse ou uma dúzia de fanfarronices de Daniel Silveira?
Respeito,
diz o ditado popular, não se exige, se conquista. Não parecem
respeitáveis ministros que proibiram a Polícia Federal de investigar o
colega Dias Toffoli, apesar dos gravíssimos indícios de venda de sentenças no TSE.
O
artigo 39 da Lei do Impeachment considera crime de responsabilidade de
ministros do STF "proferir julgamento, quando, por lei, seja suspeito na
causa". Apesar disso, vimos o próprio Dias Toffoli votar na decisão que tinha ele próprio como grande beneficiário. Quem tem ministros assim não precisa de inimigos.
Se Alexandre de Moraes gosta de mandar para a cadeia quem "ameaça a reputação do STF", então deveria prender alguns dos próprios colegas.
Despachos
recentes justificaram prisões por atitudes que simplesmente não estão
no Código Penal, como "causar animosidade entre os Poderes". Dado que
Alexandre de Moraes com frequência causa essa animosidade, então ele
deveria, à maneira de Simão Bacamarte, determinar a prisão de si
próprio.
Desde
a quarta-feira, juristas enumeram quantas regras do processo penal
Alexandre de Moraes desobedeceu no caso Silveira. Quebrou a imunidade
parlamentar, criou o controverso "mandado de prisão em flagrante",
estendeu a prisão em flagrante por meses (quando ela só pode durar 24
horas).
Num
claro abuso de medidas cautelares, fez a censura prévia retornar ao
país (proibiu um deputado de dar entrevistas e se manifestar em redes
sociais), e impediu o próprio réu de acompanhar o processo.
Juristas
que não deixaram suas análises serem influenciadas pelo
antibolsonarismo ainda consideram estranho a vítima não só participar de
um julgamento como ainda ser relatora do processo.
Já
aceitamos como parte da rotina de Brasília que boa parte dos ministros
do STF usa inquéritos como arma política contra os outros Poderes, e que
passa a semana dando uma roupagem jurídica a interesses políticos
pessoais.
Não
há ameaça maior ao STF que esse comportamento. Para proteger a
instituição, é preciso conter os pequenos golpes e práticas heterodoxas
que alguns ministros praticam quase toda semana.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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