Coluna de Carlos Brickmann, publicada nos jornais deste domingo:
Início da década de 1960.
O primeiro-ministro Tancredo Neves convocou uma reunião de seu partido,
o PSD, e pediu a um jovem ministro, Mauro Salles, que coordenasse tudo.
No Hotel Nacional de Brasília, alguns dos mais importantes políticos do
país. Bom uísque, bons tira-gostos, conversas sobre tudo, menos
política. A horas tantas, todos foram embora. Tancredo ligou para o
lendário Benedito Valladares, cacique-mor do partido, e disse que a
reunião tinha sido ótima. Comentou as principais decisões – e Mauro
Salles, perplexo, não tinha visto nem ouvido nada. Disse isso a
Tancredo. E o sábio mineiro explicou: político bom decide primeiro e faz
a reunião depois.
A
falta que faz uma boa cabeça política! Doria fez que foi, não foi, no
fim ficou onde estava, feliz com uma carta em que o PSDB confirmava sua
candidatura. Confirmou, é verdade. O problema é que Doria acreditou. O
primeiro a traí-lo será Bruno Araújo, que assinou a carta. E caciques
como Jereissati, Aécio, Eduardo Leite, José Aníbal e outros, protegidos
pela carta, continuam buscando um candidato palatável, sabotando Doria e
negando tudo. Doria foi um ótimo governador. Mas dentro do partido foi
destrutivo: brigou com os caciques, com Tasso, com Alckmin – até mesmo
com Bruno Araújo. Doria se comportou como se Araújo tivesse importância.
E tem, mas para atrapalhar. Não valia uma briga. Em política, quem
atropela os outros só ganha se nunca errar. Uma falha e os derrotados
engolem o atropelador.
Os exemplos
No
final daquela ditadura que Bolsonaro e Braga Netto não perceberam, o
MDB se preparou para chegar ao poder. Tinha três candidatos: Tancredo,
Ulysses Guimarães e Franco Montoro. E não dava briga: combinaram que, em
eleição indireta, sairia Tancredo; em direta, Ulysses; e, em
imprevistos, Montoro. Combinaram e cumpriram.
Em
2002, Serra era o candidato natural do PSDB. De cara afastou o
presidente Fernando Henrique de sua campanha: acreditou na propaganda
dos adversários. Em seguida, triturou Jereissati, que também queria
disputar. E não houve quem convencesse a família Sarney de que Serra não
estava por trás de uma operação policial que flagrou o marido de
Roseana com um monte de dinheiro em cima da mesa. Roseana era uma
candidata em ascensão e foi liquidada. Em seguida, trabalhou contra
Serra.
Moro, num país ...
Sérgio
Moro tinha certeza de que, no momento em que anunciasse que era
candidato, já estaria entre os favoritos. Nem se preocupou, antes de
sair, em melhorar o sotaque que lhe rendeu o apelido de Marreco de
Maringá. Ficou no caminho. E, aproveitando a oportunidade, mudou de
partido sem avisar o Podemos, que o acolhera. Seu pessoal já falou mal
de Álvaro Dias, que tanto insistiu em lançá-lo candidato. Aliás, que
dedo ruim o de Álvaro Dias para apontar candidatos! Foi também ele que
lançou Roberto Requião.
...tropical
Na
noitinha de quarta, Moro participou de uma live com empresários que o
apoiavam. Disse que era candidato a presidente e iria até o fim. Foi
mesmo: só que o fim ocorreu umas vinte horas depois, quando anunciou que
desistia.
Mas
pretende, disse, manter acesa a luta contra a corrupção (e pode até
voltar a ser candidato). Tem adversários duros como ACM Neto e Ronaldo
Caiado. Só que agora, no União Brasil, ele terá, como colegas de combate
à corrupção, gente famosa, como Luciano Bivar, Daniel Silveira e
outros.
Quem ganha?
Todos
os candidatos estão cantando vitória. Mas, cá entre nós, quem iria
votar em Moro pode passar para Bolsonaro? Por que não votar em Bolsonaro
de uma vez, já que ambos são praticamente iguais (a opinião é da esposa
de Moro, Rosângela)? Um denunciou o outro por agir ilegalmente, outro
acusou o um de ser traidor. Quem não se importa com isso, agora,
importava-se uns dias antes? Eleitor de Moro dificilmente escolherá
Lula, claro. E Moro, que vai fazer? Presidência? Difícil. Talvez
candidato a deputado federal por São Paulo. Por que não pelo Paraná, seu
Estado natal, onde já é bem conhecido?
Negócios à parte
Aqueles
generais que Bolsonaro fritou em seu governo certamente não o apoiarão
(alguns, como o general Santos Cruz, farão campanha contra ele). Mas há
surpresas: Abraham Weintraub, que foi seu ministro da Educação, que se
referiu deseducadamente aos ministros do STF naquela reunião que ficou
famosa), bolsonarista entre os bolsonaristas, entrou no antigo Partido
da Mulher Brasileira (agora Brasil 35), querendo se candidatar a
governador contra o candidato de Bolsonaro, Tarcísio Freitas. O ministro
da Educação a quem sucedeu, aquele estranhíssimo colombiano, diz que
Bolsonaro perdeu o rumo.
Ambos são bolsonaristas de raiz, discípulos de Olavo de Carvalho.
Um tapinha não dói
Um
tapa na cara que não deixa marca, em que a vítima não dá um ai, em que a
plateia (até mesmo a ofendida) ri. Será que só este colunista
desconfia?
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