Condição
que atinge homens e mulheres foi discutida durante congresso
dermatológico, em Salvador. Saiba o que especialistas dizem sobre as
principais novidades em diagnósticos e tratamentos!
Foi
com franqueza que a apresentadora Xuxa Meneghel, aos 61 anos, revelou
recentemente conviver com alopecia androgenética, uma forma de calvície
hereditária que afeta a autoestima de homens e mulheres — mas
especialmente mulheres a partir dos 40 anos. Ela contou que os fios
foram ficando cada vez mais ralos, até começarem a cair, deixando
aparente o couro cabeludo. O próximo passo foi raspar a cabeça com a
ajuda da filha e recorrer a um transplante capilar.
Cercado
de tabus, o problema atinge cerca de 20 milhões de brasileiras e,
muitas vezes mascarado por laces e acessórios, raramente recebe o
holofote merecido. “A alopecia é mais do que uma questão estética. Ela
mexe com a identidade, com a segurança – principalmente – da mulher, com
o modo como ela se apresenta ao mundo”, afirma o dermatologista Paulo
Barbosa, presidente do 35º Congresso Brasileiro de Cirurgia
Dermatológica, promovido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia
Dermatológica (SBCD), sob o tema central “Pele Étnica e Cirurgia
Dermatológica”.
A médica norte-americana Susan Taylor, da Universidade da Pensilvânia, é referência global em tratamentos de alopecia e cuidados com a pele e os cabelos da população negra e
atua há décadas na busca por diagnósticos mais precisos e terapias
personalizadas. Durante sua conferência, neste sábado (26), a fundadora
da Skin of Color Society falou sobre líquen plano pilar (LPP) e
alopecia fibrosante frontal (AFF), exemplos de alopecia cicatricial –
tipo de calvície permanente devido a doenças inflamatórias, autoimunes,
lesões na pele, queimaduras ou certos tratamentos médicos –, e a chamada
alopecia de tração, mais comum em pessoas negras, por causa da pressão
de penteados e tranças afro.
Segundo
ela, alopecia pode se manifestar de diferentes formas e conhecer os
tipos, identificar os sintomas precocemente e buscar tratamento adequado
são passos essenciais para controlar a condição e, em muitos casos,
reverter a queda de cabelo. Queda de cabelo em tufos ou falhas
localizadas, afinamento progressivo dos fios, mudanças no couro
cabeludo, como inflamações ou cicatrizes, e sensibilidade ou dor no
couro cabeludo são alguns dos sintomas.
“Nem
toda queda de cabelo é igual. A alopecia pode ser devastadora
emocionalmente, e muitas mulheres demoram a procurar ajuda por vergonha
ou falta de acesso a um diagnóstico correto. Mas temos opções — desde
medicamentos a tratamentos avançados, que devolvem resultados visíveis
e, acima de tudo, esperança”, explica Taylor, que é também presidente da
maior sociedade dermatológica do mundo, a Academia Americana de
Dermatologia (AAD), segundo a qual cerca de 40% das mulheres
apresentarão algum grau de perda de cabelo até os 40 anos.
Principais tipos –
Além da alopecia androgenética, conhecida popularmente como calvície
hereditária e que está relacionada a fatores genéticos e hormonais, as
mais comuns são a alopecia areata (tipo da atriz Jada Smith): de origem
autoimune, provoca a queda repentina de cabelo em áreas específicas,
formando falhas arredondadas no couro cabeludo ou em outras partes do
corpo; a alopecia cicatricial: causada por inflamações severas ou
doenças que danificam permanentemente os folículos capilares, levando à
perda irreversível dos fios; e a alopecia por tração: associada ao uso
prolongado de penteados que puxam os fios com força, como tranças e
rabos de cavalo muito apertados.
Durante
o congresso, Taylor apresentou abordagens modernas, que vêm
revolucionando o cuidado com os fios e com o couro cabeludo. A
programação incluiu ainda técnicas de transplante capilar, terapias com
bioestimuladores, manejo de alopecia cicatricial e avanços no uso de
inteligência artificial para detecção precoce de padrões de calvície.
Tratamentos –
O tratamento para alopecia varia conforme o tipo e o grau da condição.
Entre as opções mais modernas e eficazes estão: medicamentos tópicos e
orais, que ajudam a estimular o crescimento capilar; injeções de
corticoide para casos de alopecia areata; terapias com laser capilar
para estimular os folículos; procedimentos como o microagulhamento
associado a fatores de crescimento; transplante capilar, indicado para
casos em que a perda dos fios é permanente; e tratamentos inovadores com
o uso de terapia regenerativa, como o PRP (plasma rico em plaquetas).
De
acordo com a cirurgiã capilar Leila Bloch, uma das grandes novidades no
transplante capilar é a técnica FUE (Follicular Unit Extraction), um
método que extrai os folículos capilares individualmente da área doadora
e os implanta nas áreas com menos cabelo, sem a necessidade de raspar.
“Hoje se consegue uma densidade maior, com técnicas minimamente
invasivas e com menos danos”, observa.
Ela
faz aponta a necessidade de evitar tracionar os fios. “A tensão ao
fazer tranças e outros penteados afro afeta sobretudo a área
fronto-temporal. É preciso ficar atenta. Se doeu, é porque está fazendo
algum trauma”, alerta a especialista.
Outra
indicação é que quem tem alopecia pode fazer o transplante de
sobrancelhas, procedimento cada vez mais procurado por quem sofre com
falhas, rarefação ou ausência total de pelos na região — seja por
fatores genéticos, excesso de remoções (como a depilação excessiva ao
longo dos anos), alopecia areata, cicatrizes ou até queimaduras. Os fios
são retirados de áreas doadoras, geralmente da parte posterior do couro
cabeludo, onde os fios têm características semelhantes às das
sobrancelhas. “Procuramos os fios mais fininhos, próximos à orelha, por
exemplo”, conta.
O
médico Leonardo Bianchini, referência em estética facial, alopecia e
tricologia avançada, trouxe um dado pouco difundido, que é a relação da Covid-19 com a alopecia.
“O vírus, o SARS-CoV-2 provocou muitos problemas de queda de cabelo em
vários pacientes, no mundo inteiro. Ele infiltra no folículo piloso
[estrutura responsável por produzir e sustentar o crescimento dos pelos e
cabelos], causando inflamação. Quando ela ocorre na região do bulbo,
pode resultar na alopecia areata. Quando atinge a região do bulge, que é
onde tem as células tronco, essenciais para o crescimento e renovação
do cabelo, o vírus pode provocar as alopecias cicatriciais”, revela.
Dermatologia e diversidade
Mais
de 4 mil participantes, entre médicos e representantes da indústria,
têm circulado pelo evento iniciado na última quinta-feira (24), no
Centro de Convenções Salvador (CCS), com uma programação rica que traz
os mais recentes avanços e práticas na área.
As
apresentações vêm abordando temas de ponta da dermatologia — entre
eles, cirurgias de pele, oncologia cutânea, tecnologias a laser e o
cuidado com a pele étnica, tema central desta edição, em diálogo com a
realidade brasileira, especialmente na Bahia. O objetivo é refletir
sobre a necessidade de uma medicina mais inclusiva, que considere as
particularidades de uma população tão diversa quanto a brasileira.
“Para
mim, o tópico de pele étnica é muito importante e eu aplaudo o Dr.
Paulo Barbosa por selecioná-lo. Isso se correlaciona de forma muito
interessante com o local onde esse congresso está sendo realizado, que é
aqui em Salvador”, elogia Susan Taylor. “Eu sugiro que todos os meus
colegas comecem a pensar mais cuidadosamente e mais amplamente a
respeito do diagnóstico, do tratamento, da pesquisa sobre a pele de
cor”, completa a médica.
Mais
do que tratar a pele, a dermatologia contemporânea quer compreender o
sujeito por trás dela. “A ciência avança, mas é essencial entender que
cabelo também é pertencimento, é força cultural, é autoestima”, diz
Paulo Barbosa. Para quem enfrenta a alopecia, a mensagem do especialista
é clara: há caminhos, há ciência — e, sim, há soluções.
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