Casos
recentes de celebridades que sofreram complicações graves após
procedimentos estéticos, como a cantora Pocah, trouxeram à tona a
preocupação com os riscos associados ao uso de preenchedores faciais e
corporais, como PMMA (polimetilmetacrilato), silicones, hidrogel e
outras substâncias. Lesões, inflamações crônicas e deformidades
permanentes são algumas das consequências registradas em aplicações
malsucedidas, que podem ser irreversíveis e impactar profundamente a
qualidade de vida das pessoas.
No
caso do PMMA, aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) para correções específicas — como a perda total ou parcial e/ou
distribuição anormal de gordura em pacientes com HIV/AIDS —, o material
voltou ao centro do debate por seu uso expandido em procedimentos
estéticos, muitas vezes, sem o devido rigor médico.
Casos
de complicações graves — que incluem infecções, inflamações crônicas,
migração do produto e até necrose — foram lembrados como alertas da
necessidade de protocolos cada vez mais seguros durante o 35º Congresso
Brasileiro de Cirurgia Dermatológica, encerrado neste domingo (27), em
Salvador.
Presidente
do congresso, o dermatologista Paulo Barbosa defendeu que o debate
sobre temas controversos é essencial para o avanço da especialidade.
"Trazer essas discussões para um fórum científico qualificado ajuda a
proteger o paciente e a orientar melhor a prática médica", avalia.
Barbosa
reforça a importância do uso criterioso de preenchedores, alertando
para os perigos do uso indiscriminado e conduzido por não médicos. “Se a
pessoa vai se submeter a um procedimento invasivo, principalmente no
rosto, tem que ter cuidado. Tem gente que nem pergunta que material está
sendo usado pelo profissional”, afirma o médico.
Controvérsias
O
dermatologista Márcio Serra, que atua há décadas do tratamento de
pacientes com HIV/AIDS, apontou que o PMMA, apesar da má reputação,
ainda pode ser utilizado com segurança em situações muito específicas,
desde que seja feito por profissionais habilitados.
"O
problema não é o material em si, mas seu mau uso", explicou. "É
fundamental que o uso do PMMA siga indicações precisas e criteriosas. O
médico deve estudar bem o material, saber suas indicações, quando e como
utilizar suas diferentes concentrações, e, acima de tudo, ter cautela e
bom senso. É muto comum também não médicos falarem que usam PMMA,
quando na realidade é silicone", alerta.
Eliandre
Palermo, especialista em cosmiatria, lembra que pacientes precisam ser
plenamente informados dos riscos antes de qualquer aplicação. “Quando
você opta por dar a liberdade para o médico fazer um tratamento que está
fora do que a Anvisa proporciona, não vai ser considerado uma vítima,
mas conivente com uma prática ilegal”, ressalta.
“Desarmonizações”
Com
o Brasil entre os líderes mundiais em procedimentos estéticos,
especialistas recomendam que pacientes busquem informações, exijam
transparência dos profissionais e priorizem técnicas e produtos com
maior margem de segurança. Entre os avanços da dermatologia estética,
surgiram novas gerações de preenchedores faciais e corporais que
oferecem maior segurança, naturalidade e durabilidade.
Além
dos tradicionais à base de ácido hialurônico — ainda amplamente usados
por sua biocompatibilidade e reversibilidade —, há novidades como
bioestimuladores de colágeno, a exemplo da hidroxiapatita de cálcio e do
ácido polilático, que não apenas preenchem, mas também promovem a
regeneração natural da pele ao longo do tempo. Essas opções têm ganhado
espaço nos consultórios por apresentarem menor risco de complicações
graves e resultados mais harmoniosos, respeitando as características
individuais de cada paciente.
"
O que a gente viu nos últimos anos foi uma onda de exagero, com
harmonizações faciais que viraram ‘desarmonizações’. A escolha do
preenchimento deve priorizar sempre a segurança do paciente. Em muitos
casos, alternativas como o ácido hialurônico, que é reabsorvível,
oferecem vantagens importantes", destacou a dermatologista Eliandre
Palermo. “Hoje, a gente está fazendo um resgate novamente dos
tratamentos combinados, onde se consegue resultados cada vez mais
naturais, uma beleza silenciosa. Naturalidade é a palavra”, arremata a
especialista.
A
dermatologista Bruna Bravo reforçou a preferência atual pelos
preenchedores absorvíveis, que oferecem mais segurança e
reversibilidade. Ela apresentou o bioestimulador de colágeno à base de
ácido poli-l- láctico (PLLA). “É um tratamento natural que, quando
injetado por um profissional habilitado, auxilia na produção de
colágeno, melhorando a firmeza da pele, sem exageros, sem volumizar e
sem alterar a fisionomia”, destaca.
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