João Gabriel de Lima
Estadão
No dia em que Francisco Prestes Maia terminou seu mandato em São Paulo, um carro o esperava à frente do gabinete do prefeito, que ficava na Rua Libero Badaró. O político dispensou o motorista, caminhou até o Viaduto do Chá e pegou o bonde logo adiante, na Rua da Consolação. Prestes Maia, prefeito de São Paulo entre 1938 e 1945, abriu mão das mordomias do cargo assim que saiu dele. A anedota é narrada no livro A Capital da Vertigem, de Roberto Pompeu de Toledo.
No episódio, Prestes Maia rejeitou o carro e preferiu o transporte público. Na vida política, fez o contrário. Foi dele o plano de avenidas que se espraiam do centro para os bairros periféricos – as “radiais” –, num desenho que em tudo privilegia os carros. Poucos paulistanos sabem que essa escolha, feita décadas atrás, é responsável pelos congestionamentos que enfrentam hoje.
CIDADE DE 15 MINUTOS – Em Lisboa, onde moro, a prefeitura decidiu seguir o caminho oposto. A capital portuguesa irá adotar o mesmo plano de Paris: a “cidade de 15 minutos”. A ideia é que o morador faça tudo que precisa sem gastar mais que um quarto de hora em deslocamentos.
O projeto inclui ênfase na locomoção a pé ou de bicicleta, imóveis de uso misto – residencial e comercial – e melhoria constante do transporte público. E a Câmara de Lisboa ouvirá cidadãos sobre o projeto a partir da próxima semana.
“A ideia da cidade espalhada, que privilegiava o carro e separava residencial de comercial, marcou o urbanismo modernista, do qual Prestes Maia foi um dos expoentes”, diz o arquiteto Vinícius Andrade. “O urbanismo contemporâneo é totalmente diferente. Hoje em dia o modelo de cidade adensada é uma unanimidade.”
CONSENSO POLÍTICO – É uma unanimidade que independe de ideologia. O presidente da Câmara de Lisboa (equivalente ao prefeito), Carlos Moedas, é de direita – e o projeto que o inspira é o de Paris, governada pela socialista Anne Hidalgo. Segundo Andrade, a ideia da “cidade de 15 minutos” – propagada pelo urbanista colombiano Carlos Moreno – é, antes de tudo, um slogan, que engloba as boas práticas do urbanismo contemporâneo.
O Plano Diretor de São Paulo, concluído na Prefeitura de Fernando Haddad, vai na mesma direção de adensamento e transporte coletivo. Novamente, a unanimidade independe de ideologia.
“Projetos anteriores, concebidos por urbanistas do PSDB, já falavam em ‘cidade de 30 minutos’”, diz Andrade. “A ideia já inspira várias outras metrópoles brasileiras”. Se Paris e Lisboa miram os 15 minutos, o paulistano fará festa se um dia conseguir resolver seus compromissos em menos de meia hora.
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