A lista de coisas mais ativas e altivas que Lula fez por Chávez mostram bem o partidarismo de seu governo. Leonardo Coutinho para a Gazeta do Povo:
Em
dezembro de 2002, vinte e dois dias antes de tomar posse como
presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva foi recebido na Casa
Branca. O relato de uma das testemunhas do encontro aponta que o então
presidente americano George W. Bush se aproximou sorridente. Tacou-lhe
um “Hola! Como estás?” e, logo depois de terminar o aperto de mão,
apontou para o broche que Lula trazia na lapela e disse: “Você deveria
usar a bandeira do seu país”. Lula ficou desconcertado ao ouvir o
conselho transmitido pelo intérprete. Antes mesmo de Lula ensaiar uma
resposta, Bush completou: “Agora você não é mais presidente de seu
partido, mas de um país inteiro”.
Trocar
o broche do PT pelo da bandeira do Brasil não era apenas uma dica de
marketing ou conselho de compostura. Tirar o PT da lapela e carregar o
símbolo que une todos os brasileiros (ou ao menos deveria) tinha um
valor mais profundo. Valor que Lula parece jamais ter capturado ou
colocado em prática. Colocar o país, seu povo e interesses à frente das
ideologias (quase todas mofadas) do partido.
Ninguém
é inocente ou estúpido a ponto de pensar que governantes – sejam eles
somalis ou finlandeses – não se guiam por seus valores (ou ausência
deles) e seus critérios ideológicos ou partidários. Afinal, estes são
marcadores do mundo real que definem boa parte dos critérios que os
eleitores aplicam (quando têm a chance) na escolha de seus líderes. Mas
há uma linha civilizatória que define os limites de até onde dá para ir
em detrimento do benefício do país e de seu povo.
O ex-presidente Lula, por mais de uma vez, colocou o petismo à frente dos interesses do Brasil.
Em
um dos eventos desta campanha eleitoral de 2022, o ex-presidente e
candidato Lula se gabou de ter telefonado para o presidente Bush (o
mesmo que o aconselhou a governar com a cabeça no país e não no PT) para
interceder pelo seu amigo do peito Hugo Chávez.
Lula
relembrou que, certa vez, Chávez ligou para ele para se queixar dos
americanos. Mais especificamente, reclamar das reportagens e artigos
publicados na imprensa americana. Mais cirurgicamente, de um texto de
Condoleezza Rice, que foi conselheira de Segurança Nacional (2001-2005) e
secretária de Estado (2005-2009). Não fica claro qual posição ocupava
quando Rice deixou Chávez aperreado. Mas o fato, segundo Lula, é que ele
ligou para o presidente Bush para passar-lhe um sabão. “Manda a Condoleezza parar de escrever contra o Chávez, p*”, relembrou Lula.
O caso foi narrado por Lula em um evento em que ele celebrava as maravilhas de sua “política externa altiva e ativa”. Marcas que ele promete retomar em um possível terceiro mandato.
A
lista de coisas mais ativas e altivas que Lula fez por Chávez vai além
da tal chamada telefônica narrada acima. Em 2005, enquanto o país ardia e
o próprio PT derretia com a descoberta do escândalo do Mensalão, Lula e
Chávez decidiram que ergueriam uma refinaria em Pernambuco. Orçada em
US$ 2,3 bilhões, a refinaria ficaria pronta em 2010 e serviria para
refinar petróleo venezuelano. Engana-se quem pensa que a ideia era
aumentar a oferta de gasolina no Brasil. O plano de Chávez, que contou
com a cumplicidade de Lula, era diversificar o destino do óleo. Chávez
queria reduzir a dependência de seu país em relação às refinarias nos
Estados Unidos e fomentar uma rede latina de refinarias, que permitisse a
ele não só se livrar dos americanos, mas também aumentar sua influência
na região.
Sem
nenhum estudo de viabilidade realmente sério, Lula empurrou a Petrobras
na operação. Passados 17 anos, os venezuelanos nunca investiram um
dólar sequer no negócio. Os técnicos venezuelanos perceberam que o
acordo político de Chávez e Lula era um mico e tentaram reduzir a
participação na sociedade de 40% para 20%. Sem sucesso, eles empurram a
dívida por oito anos e saíram da sociedade obrigando o Brasil a arcar
com um projeto que custou entre US$ 18 bilhões e US$ 20 bilhões e que,
em termos proporcionais ao investimento e capacidade de produção, legou à
Refinaria Abreu e Lima o título de mais cara do mundo.
O affair de Lula e Chávez foi além de seu governo.
Em
fevereiro de 2011, Lula havia recém deixado a presidência, mas seguia
ativo e altivo. Segundo o registro de um telegrama enviado pela
Embaixada da Venezuela no Brasil para o então ministro das Relações
Exteriores Nicolás Maduro, Lula estava “muito preocupado” com uma
possível derrota de Chávez nas eleições que estavam previstas para o ano
seguinte.
“Eu
durmo tranquilo porque sei que Chávez está ali [na presidência], mas
também, às vezes, perco o sono pensando que Chávez poderia perder as
eleições de dezembro de 2012”, foi a frase atribuída a Lula pelo então
embaixador da Venezuela no Brasil, Maximilien Arveláiz. O diplomata
registrou ainda que “uma derrota de Chávez em 2012 seria igual ou pior
que a queda do muro de Berlim”. Evento histórico que antecedeu o fim da
União Soviética e colocou legendas, movimentos e ditaduras de comunistas
e socialistas na lista de extinção. Uma das respostas forjadas por
eles, na linha ninguém larga a mão de ninguém, foi a fundação do Foro de
São Paulo.
Para
evitar uma “tragédia”, Lula se envolveu diretamente na preparação da
campanha, dizem os documentos diplomáticos. Lula planejou a criação de
um comando de campanha sediado no Brasil que ele coordenaria
pessoalmente ao lado de José Dirceu. Definiu como “fundamental” a
entrada da Venezuela no Mercosul, para fortalecer politicamente Chávez
perante a região e o eleitorado e escalou o marqueteiro João Santana
para coordenar a campanha presidencial do venezuelano.
As
delações obtidas pela Operação Lava-Jato não só confirmaram o dedo de
Lula na eleição venezuelana como mostram que o pagamento das despesas da
campanha foi feito por meio da roubalheira colossal que fora engendrada
por meio das operações de crédito envolvendo as empreiteiras
brasileiras. Monica Moura, a mulher de Santana, conta tudinho aqui.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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