A meta de ter frota de passageiros totalmente elétrica até 2035 no maior estado americano enfrenta um pequeno problema em termos da geração de eletricidade. Vilma Gryzinski:
Se
a Califórnia fosse um país, estaria em quinto lugar em termos de
economia, com seu PIB de 3,4 trilhões de dólares – mais do que o dobro
do Brasil inteiro. Sem contar o peso mundial de centro irradiador de
modismos, como polo da indústria do entretenimento. O que acontece lá
repercute e é isso que vai se passar com a decisão tomada por
autoridades estaduais de proibir a venda de carros movidos a gasolina
até 2035.
O
plano é em fases: 35% de todos os carros de passageiros terão que ter
emissão zero de gases de efeito estufa até 2026 – praticamente amanhã;
até 2030, serão 68%.
A
Califórnia, com seu estilo de vida criado em torno do automóvel e das
autoestradas permanentemente cheias, é o maior fabricante de automóveis
do mundo. Além dos recursos próprios para “resolver a crise climática”,
segundo proclamou o governador Gavin Newson, que tem ambições
presidenciais, o estado também conta com o pacotaço federal
recém-aprovado que vai liberar 370 bilhões de dólares para programas de
energia limpa.
Países
como Inglaterra, França e Dinamarca já têm programas de transição para
os veículos elétricos, embora o preço continue alto, as matérias primas
para as baterias sejam raras e caras e exista uma grande dúvida: de
onde virá a eletricidade para tantos carros elétricos?
No
mês passado, o deputado republicano Thomas Massie apertou o secretário
da Energia, Pete Buttigieg, numa audiência no Congresso. Como engenheiro
de formação – e nada menos do que no MIT -, ele perguntou se o ministro
sabia quanto um domicílio médio americano, com dois carros, gastaria em
eletricidade para carregar seus veículos com energia limpa.
Resposta:
50 vezes a mais do que o gasto com uma geladeira. Comparando o consumo
com o ar condicionado, equivalente a 17% de um domicílio médio, os
carros sugariam quatro vezes mais.
A
grade elétrica aguentaria os planos do governo federal de substituir
metade de sua frota até 2035, perguntou Massie? Se for ampliada, sim,
respondeu Buttigieg.
Massie ironizou a “fantasia baseada em ciência política, não em engenharia”.
Na
Califórnia, com seus graves problemas de fornecimento de água e de
eletricidade, especialistas garantem que a infraestrutura aguentaria até
26 milhões de carros de passageiros e veículos utilitários leves
movidos a eletricidade até 2035. Ao todo, o estado tem 30 milhões de
veículos motorizados.
Saber de onde vem a eletricidade também conta quando o objetivo é diminuir a emissão de gases que provocam o efeito estufa.
Nos
Estados Unidos, são os velhos combustíveis fósseis que mais geram
eletricidade: 38% o gás natural e 21,8% o carvão. A energia nuclear
cobre 18,9%. O conjunto das fontes renováveis é de 20% (vento com 9,2% e
hidrelétricas com 6,3%). Desde o governo Obama, a construção de novas
hidrelétricas está proibida.
No
Brasil, ao contrário, a energia hidráulica cobre 65% do fornecimento de
eletricidade (biomassa entra com 9,1%; eólica, 8,8%; gás natural, 8,3%;
carvão, 3,1%).
O contraste é impressionante. O conjunto de fontes renováveis da matriz elétrica brasileira é de 83%. Na média do mundo, 27%.
Leonardo
DiCaprio, que tem seis casas entre Califórnia, Nova York e outros
redutos de luxo, bem que poderia conhecer estes números. Sem ironia: a
influência de atores e outras figuras do cinema é enorme na Califórnia,
onde até o governador Newson tem pinta de galã do cinema.
Detalhe:
Newson foi casado pela primeira vez com Kimberly Guilfoley, atual
companheira de Donald Trump Jr. É um exemplo de como as elites interagem
num mundo em que gastar 187 mil dólares num Porsche Taycam Turbo, o
carro elétrico mais caro, não provoca mais do que um piscar de olhos.
Na
Califórnia, 20% das casas já têm ponto para carregar veículos
elétricos. Os 277 mil gigawatts-hora que o estado gera vão ter que
aumentar um bocado até 2035.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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