Embora a bancada aliada esteja mais enxuta, a expectativa é de que o
governo consiga atrair de volta legendas que abandonaram a base pouco
antes das eleições, entre elas o PTB
por Rodrigo Martins
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publicado CARTA CAPITAL
Arte: CartaCapital
Serra, Jereissati (último à esquerda) e Anastasia (último à direita) se unem a Ferreira e Aécio Neves no Senado
Não houve trégua. Dois dias
após a reeleição de Dilma Rousseff, o governo deparou-se com rugidos
ameaçadores no Congresso. Na Câmara, o PMDB capitaneou no último dia
28/10 uma nova rebelião da base aliada e, em parceria com a oposição,
derrubou o decreto presidencial que regulamenta a atuação dos conselhos
populares. No mesmo dia, o senador tucano Aloysio Nunes Ferreira, vice
de Aécio Neves na corrida presidencial, rejeitou o diálogo proposto pela
presidenta depois da vitória nas urnas. “Fui pessoalmente agredido por
canalhas escondidos nas redes sociais a serviço do PT, de uma
candidatura. Não faço acordo. Não quero ser sócio de um governo falido
nem cúmplice de um governo corrupto”, vociferou na tribuna do Senado,
antecipando o tom da oposição na sua relação com o Planalto.
O ambiente hostil contrasta com o
resultado das eleições. O governo continua a ter folgada maioria nas
duas casas legislativas. Apenas os partidos reunidos na coligação
governista elegeram 304 dos 513 deputados federais. Embora a bancada
aliada esteja mais enxuta, a expectativa é que o governo consiga atrair
de volta legendas que abandonaram a base pouco antes das eleições, entre
elas o PTB. No Senado, os governistas devem ocupar 53 das 81 cadeiras,
dois terços do total. “A oposição volta, porém, robustecida com quadros
de peso no Senado. É uma turma que não brinca em serviço e deve aumentar
o clima de hostilidade ao governo”, avalia Antônio Augusto de Queiroz,
diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.
No front tucano, os senadores
Nunes Ferreira, Álvaro Dias e Aécio Neves, agora com um capital de 51
milhões de votos conquistados na corrida presidencial, passarão a ter a
companhia dos experientes ex-governadores Antonio Anastasia, de Minas
Gerais, Tasso Jereissati, do Ceará, e José Serra, de São Paulo. A
bancada oposicionista deve ganhar a adesão do PSB, legenda que apoiou o
PSDB no segundo turno e terá sete senadores a partir de 2015, e de
recém-chegados, a começar pelo ruralista Ronaldo Caiado, do DEM de
Goiás, e Davi Alcolumbre, do Amapá.
“Teremos uma oposição mais articulada. Ela deve dar mais
trabalho ao governo, mas também pode fomentar um debate mais profícuo”,
minimiza Humberto Costa, líder do PT no Senado. “Após uma disputa tão
acirrada e radicalizada, é natural que o senador Nunes Ferreira esteja
um pouco exaltado. Mas também fomos vítimas de ataques e manifestações
de ódio, e nem por isso culpamos o PSDB ou o Aécio. Tenho certeza de
que, após a poeira baixar, vamos restabelecer um diálogo mais saudável.”
Na Câmara, a
maior preocupação é com os rebelados da base aliada. Um dos artífices
das manobras para constranger o Planalto é o atual presidente da Câmara,
Henrique Alves, ressentido com o PT após a derrota sofrida no Rio
Grande do Norte. Ao lançar-se na disputa estadual, o peemedebista
conseguiu unir as duas principais oligarquias do estado, as famílias
Alves e Maia, em torno de sua candidatura. Imaginava uma vitória
tranquila. Perdeu, porém, o apoio do PT ao recusar lançar Fátima Bezerra
como candidata ao Senado. Os petistas abraçaram a candidatura de
Robinson Faria, do PSD. E as relações azedaram de vez após Lula gravar
um depoimento em favor de Faria na reta final da campanha, contribuindo
para a derrocada de Alves.
No comando da Câmara até o fim do ano,
Alves controla a pauta da Casa e ameaça colocar em votação temas
espinhosos, com impactos diretos nas contas da União, a exemplo do
aumento de repasses federais para o Fundo de Participação dos
Municípios. Para o PT, o ideal é postergar todas as votações relevantes,
até porque cerca de 240 deputados serão substituídos em 2015.
A birra de Alves favorece o colega
Eduardo Cunha, do PMDB fluminense. Após liderar um movimento que impôs
duras derrotas ao Planalto nos últimos anos, ele trabalha para
viabilizar sua candidatura à presidência da Câmara em 2015. Na
quarta-feira 29, conseguiu a recondução ao cargo de líder do partido na
Casa. E usou a derrota do governo na questão dos conselhos populares
para defender sua própria candidatura: “A votação mostra que a Câmara
tem maioria contra o PT e não aceita o PT no comando”.
Desde 2006, um acordo garante o
revezamento das duas maiores bancadas, PT e PMDB, na presidência da
Câmara. Após a gestão de Alves, os petistas reivindicam a sua vez de
assumir o posto. Os nomes mais cotados são de Arlindo Chinaglia e Marco
Maia, que já comandaram o Parlamento e têm boa interlocução com os
partidos da base. Mas a batalha será difícil. Ainda que a cúpula
nacional do PMDB e os novos governadores eleitos pela legenda tenham
interesse em preservar boas relações com o Planalto, Cunha costura suas
alianças de baixo para cima e por vezes surpreende os líderes
partidários.
A acomodação da base em cargos no governo
geralmente tem pouco impacto na vida dos parlamentares do chamado
“baixo clero”. Eles costumam reivindicar pequenas deferências de Dilma e
seus ministros. Querem ser recebidos em audiências, consultados na elaboração de políticas públicas e convidados a participar de viagens oficiais, sobretudo na inauguração de obras.
“Tivemos muita dificuldade na
interlocução com o Congresso, mas a presidenta sinalizou estar aberta ao
diálogo”, diz Vicentinho, líder do PT na Câmara. “Agora precisamos
dialogar com todos os parlamentares, e não apenas com as lideranças dos
partidos”, emenda o deputado petista Reginaldo Lopes, recordista de
votos em Minas Gerais.
Na avaliação de Queiroz, do Diap, Dilma
precisa adotar um perfil menos gerencial e mais político. “Caso
contrário, corre o risco de gerenciar uma crise atrás da outra no
Congresso.”
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