Polícia proibia hospedagem curta em nome dos bons costumes.
Motel foi aberto em Itaquaquecetuba, por ser lugar ermo na época.
(Foto: Renato Fernandez Tarrazo/Arquivo Pessoal)
Em plena ditadura militar, o empreendimento ia contra as regras de ‘bons costumes’ na época. Uma lei proibia hospedagens de curta permanência, inviabilizando a utilização dos hotéis para os encontros amorosos na época. “Naquele tempo eles impediam que se usasse o quarto menos de 24 horas. A lei era arbitrária, tinha que ficar 24 horas no quarto. Quando o casal saia antes, a polícia o abordava, perguntando se iam embora. Se falassem que iam, eles levavam para a delegacia, e eles ficavam presos por até 15 dias, por ato libidinoso”, se lembra Pepe.
Antônio Carlos Morilha, um dos diretores da Associação Brasileira de Motéis (ABMotéis) confirma que o motel em Itaquaquecetuba foi o primeiro do País. “O primeiro estabelecimento do gênero no Brasil foi construído em 1968, em uma estrada do município de Itaquaquecetuba, em São Paulo”, diz.
de um clube (Foto: Renato Fernandez
Tarrazo/Arquivo Pessoal)
Para driblar a lei da época, Pepe – que já trabalhava com hotéis em São Paulo - foi buscar inspiração nos clubes americanos. “Os motéis nos Estados Unidos são mais voltados para o descanso de viagens. Aqui nós desvirtuamos”, diz rindo. “Eu fui aos EUA e lá havia alguns clubes que tinham apartamentos, e os clientes usavam os apartamentos se quisessem. Foi de lá que tirei a ideia”, se lembra.
Voltando ao Brasil, resolveu implantar um novo modelo de hospedagem no País. “Por um tempo funcionei como clube, por causa da polícia. As pessoas que eram sócias podiam usar os apartamentos com quem eles quisessem. A polícia não podia mexer, porque eram sócios do clube e não era uma hospedagem“, explica. “No tempo da ditadura era difícil, era complicado, a polícia era muito arbitrária nisso daí”, comenta.
Inovações
Como clube, Pepe conta que conseguiu driblar as regras na época, mas o empreendimento que ele montou já tomava ‘ares’ dos motéis atuais. “abri o motel em 1968 de um jeito diferente dos hotéis que existiam na época. Naquele tempo não havia banheiros nos quartos em hoteis, por exemplo, e eu já abri o motel com banheiros e garagem em todos os apartamentos", afirma.
(Foto: Renato Fernandez Tarrazo/Arquivo Pessoal)
Por que Itaquaquecetuba?
“Comprei um hotel aqui na época. Quando cheguei não tinha nada na cidade. Era tudo mato. E aí quando abri todo mundo falou que eu estava louco. Disseram que ninguém ia vir aqui, porque era fora da cidade”, disse. Mesmo assim, Pepe insistiu. E deu certo exatamente pela distância e pelo lugar ser um local ermo: “Quem frequentava mais os hoteis do centro de São Paulo eram as prostitutas. Percebi que aqui eram outros tipos de clientes que apareciam. Eram casais de namorados ou pessoas que tinham casos [extraconjugais]”, explica.
Itaquaquecetuba (Foto: Renato Fernandez Tarrazo/
Arquivo Pessoal)
Novos tempos
Mas hoje Pepe conta que não tem mais a exclusividade da clientela que tinha nos anos 60. “Isso daí acabou, hoje abriu um monte, para todo lado. Em menos de 1 quilômetro tenho uns sete concorrentes”, diz.
Segundo a ABMotéis, o mercado está mesmo em expansão. “No Brasil existem aproximadamente 5 mil motéis, que movimentam R$ 4 bilhões por ano”, diz Antônio Carlos, um dos diretores da associação. O número de empregos também cresce a medida que a rede moteleira se torna, também, opção de hospedagem. “Estudos mostram que o pontencial do mercado brasileiro é imenso, e ainda tem muito a ser conquistado”, diz. “Empregamos em média 50 funcionários por motel, ou seja, são quase 300 mil funcionários empregados diretamente”, conta.
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