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Fica cada vez mais evidente um complô de natureza civil, mas com a participação ativa de militares, tanto na ação efetiva quanto na proteção dos agentes transgressores. Guilherme Macalossi para a Gazeta do Povo:
Era
evidente, desde o primeiro momento, que a tal minuta a propor um Estado
de Defesa dentro da sede do Tribunal Superior Eleitoral não era um
documento qualquer. Muito pelo contrário, a sua apreensão materializou o
crescente intento golpista após a derrota de Jair Bolsonaro nas
eleições. Nem Anderson Torres, então com um mandado de prisão já
expedido, afirmou desconhecer sua existência. Tão logo seu teor veio a
público o ex-ministro admitiu que estava em sua casa numa “pilha de
documentos para descarte” que seria “levado para ser triturado
oportunamente”. A Polícia Federal chegou antes.
Quem
conhece o mínimo sobre projetos de lei, decretos e portarias sabe que
para se viabilizar um, por mais aberrante e ilegal que seja, é
necessário técnica legislativa. Há, por assim dizer, uma forma de se
construir o texto. Não seria, portanto, um militante qualquer a
elaborá-lo para depois deixar na portaria do Ministério da Justiça ou
alcançar para Anderson Torres no extinto cercadinho do Palácio da
Alvorada. Sua concepção, ao que tudo indica, se deu dentro do governo.
No
portal Metrópoles, Paulo Cappelli informou que o próprio Valdemar da
Costa Neto teria discutido a ideia de uma intervenção militar do
Executivo no TSE. Segundo o colunista, o presidente do PL acabou
recusando porque “já havia se exposto o suficiente ao apresentar
auditoria contra as urnas eletrônicas”. Agora, segundo o comentarista
Caio Junqueira, da CNN Brasil, é Walter Braga Netto, ex-candidato a vice
na chapa de Bolsonaro quem aparece como nome proeminente nas reuniões
que discutiram a adoção de um Estado de Defesa.
Não
a primeira vez que o general da reserva aparece em uma trama desse
tipo. Ainda em 2021, durante a discussão da PEC do voto impresso no
Congresso Nacional, o jornal Estado de S. Paulo informou que Braga Netto
teria ameaçado Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, com a
não realização de eleição em 2022. Ainda que o militar tenha negado,
Lira jamais desmentiu a informação.
Nos
últimos dias, a investigação sobre os atos golpistas atuou na prisão de
diversos elementos identificados como partícipes diretos ou
financiadores. São, entretanto, a camada mais baixa de uma teia
conspiracionista que, agora se sabe, também tinha elementos a idealizar a
ruptura também nos altos escalões do antigo governo. Fica cada vez mais
evidente um complô de natureza civil, mas com a participação ativa de
militares, tanto na ação efetiva quanto na proteção dos agentes
transgressores. Segundo um relatório do Ministério da Justiça,
integrantes das Forças Armadas lotados no Palácio do Planalto
participaram do acampamento na frente do quartel-general do Exército em
Brasília.
O
quadro vai ficando claro conforme novos elementos se sobrepõem.
Enquanto se elaborava a minuta do Estado de Defesa, crimes eram
praticados para se criar o caos: notadamente o vandalismo praticado no
dia 12 e a tentativa de atentado no dia 24. De um lado a base
radicalizada a mobilizar ações criminosas que instassem um ato de
exceção. De outro lado, autoridades a confabular meios de inviabilizar o
processo democrático pervertendo atos do Executivo. Havia elos
comunicantes entre eles? Uma relação hierárquica? O Brasil pode estar
diante de uma organização criminosa que tinha como alvo a democracia, e
que resultou na intentona fracassada do 8 de janeiro.
Postado há 23 hours ago por Orlando Tambosi
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