MEDIÇÃO DE TERRA

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domingo, 21 de agosto de 2022

Bolsonaro receberá coração de d. Pedro 1º na rampa do Planalto como em visitas de Estado

 

POLITICA LIVRE
brasil

O presidente Jair Bolsonaro (PL) receberá o coração de d. Pedro 1º na rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, na terça-feira (23), em cerimônia análoga à de uma visita de Estado.

O órgão do imperador será levado pelo chefe da polícia do Porto, onde o coração está guardado em uma urna de vidro com formol. A cidade portuguesa foi escolhida por d. Pedro 1º em testamento.

O coração foi emprestado ao Brasil a pedido do governo Bolsonaro e deverá ficar no Palácio do Itamaraty, em Brasília, até 8 de setembro, para as comemorações dos 200 anos da Independência brasileira.

Durante o período, estudantes, especialmente os da rede pública, e o público em geral poderão visitar o salão no Itamaraty dedicado à exposição do órgão. As visitas precisam ser agendadas com antecedência.

Um esboço do planejamento feito pelo Ministério das Relações Exteriores previa que o coração também passasse pelo Congresso Nacional. Entretanto, segundo o embaixador George Monteiro Prata, um dos coordenadores do Grupo de Trabalho do Bicentenário da Independência, isso não está previsto.

O chefe do Cerimonial do Itamaraty, Alan Coelho de Séllos, afirmou que os parlamentares foram convidados a visitar a sala no ministério. “A ideia é reproduzir circunstâncias apropriadas, cientificamente adequadas, para a conversação da relíquia, com a menor exposição possível a movimentações”, afirmou.

O coração chegará a Brasília nesta segunda (22), em voo da Força Aérea Brasileira com pouso previsto para as 9h30. Em seguida, será levado ao Itamaraty. No dia seguinte, o órgão será recebido por Bolsonaro. Autoridades, como os presidentes da Câmara e do Senado, além de ministros, foram convidados.

Os hinos nacional e da independência devem ser tocados no evento, e Bolsonaro discursará como em uma saudação a um chefe de Estado e também como parte da abertura das comemorações do bicentenário. “O coração será tratado como se d. Pedro 1º estivesse vivo. Portanto, ele será objeto de todas as medidas que se costuma atribuir a uma visita oficial, uma visita de Estado”, afirmou Séllos.

Está prevista ainda uma cerimônia no dia 6 de setembro com chefes de Estado dos países de língua portuguesa, com a presença confirmada do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.

Questionado, o Itamaraty disse não ter previsão dos custos para viabilizar o transporte do coração do imperador. “O avião da FAB é como um carro. Ele precisa ser usado. Se ele não estivesse sendo usado agora para ir ao Porto, estaria sendo usado para ir a outro lugar. Os pilotos precisam de treinamento. Custos extras são pequenos. Eu não saberia precisar”, afirmou o embaixador Prata.

Autoridades portuguesas solicitaram ao governo brasileiro que o coração de d. Pedro 1º não ficasse em romaria pelo país e fosse exposto em apenas uma cidade. “Pedimos que o coração não andasse de cidade em cidade. Outro aspecto que pedimos foi o máximo cuidado com segurança”, afirmou à Folha Vasco Ribeiro, chefe de gabinete do presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira.

“Todo o processo de transporte e de proteção do coração no ato de exibição foi discutido. É uma preocupação comum [de Portugal e Brasil]. Também pedimos que o coração estivesse aqui a tempo de celebrarmos a morte de dom Pedro, em 24 de setembro, e o Itamaraty sugeriu que viesse no dia 8.”

Segundo Ribeiro, o coração ficará exposto no Brasil em uma urna desenhada exclusivamente para tal. O Itamaraty também informou às autoridades portuguesas que vai colocar detectores de metais no acesso ao salão. O transporte do coração do imperador ocorre em meio às ameaças golpistas do presidente da República, que tenta usar o movimento cívico para demonstrar apoio popular antes das eleições.

O uso político da vinda do coração por Bolsonaro tem recebido críticas. Em 1972, a ditadura militar trouxe os restos mortais de dom Pedro para a celebração dos 150 anos da Independência. Desde então, a ossada do imperador está no Museu do Ipiranga, em São Paulo.

Thaísa Oliveira e Thiago Resende / Folha de São Paulo

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