Fazer assédio moral a funcionários e usar joia dada por príncipe saudita com a ficha suja são algumas das acusações contra a duquesa fugida. Vilma Gryzinski:
Tudo
o que membros da família real fazem pode virar assunto de estado. É
realidade que cerca a entrevista que Meghan e seu marido menos falante, o
príncipe Harry, deram a Oprah Winfrey.
Como
o tom cada vez mais ácido entre as duas partes, o casal Sussex e o
“Palácio” – designação geral dos membros efetivos da família real e sua
corte de relações públicas -, a entrevista suscitou ataques preventivos
nada sutilmente plantados na imprensa.
A
ideia é descredenciar a imagem que Meghan e Harry apresentam de si
mesmos, como pobres vítimas de cortesãos perversos e de uma imprensa
pior ainda, perseguidos a ponto de largar tudo para ir morar nos Estados
Unidos.
O
Palácio quer apresentar outro cenário: os dois foram tratados com
portas e corações abertos, receberam as maiores concessões e tinham a
confiança e o afeto da rainha, mas mesmo assim viraram as costas e
largaram tudo para ficar ricos nos Estados Unidos.
Para
reforçar a imagem menos positiva de Meghan, a ex-atriz americana que
conquistou o filho caçula do futuro rei, o Palácio revelou ao Times de
Londres que Jason Knauf, da equipe de comunicações que prestava serviços
ao duque e sua duquesa, apresentou uma denúncia formal de assédio moral
contra ela.
A
denúncia foi feita depois que duas assistentes se viram forçadas a se
demitir por causa das atitudes inclementes de Meghan e a duquesa
imperiosa “estava minando a confiança” de uma terceira pessoa.
Segundo
o Times, Knauf apresentou a queixa para tentar proteger a equipe das
baixas provocadas pelo temperamento acerbo de Meghan.
Detalhe
importante: Knauf continuou a trabalhar para a família real e hoje
preside a fundação beneficente de William e Kate, não falaria sem
consultar os superiores. A relação entre os dois irmãos, mais do que
estremecida, não vai melhorar em nada com a informação de que partiu das
“fontes” a iniciativa de procurar o Times e revelar fatos até agora
sigilosos que desabonam a conduta de Meghan.
Como
sinal de que já estava tudo combinado, o Palácio de Buckingham informou
que vai abrir um inquérito sobre a denúncia de assédio moral, uma
atitude sem precedentes – segundo Meghan, uma “campanha deliberada de
difamação”, segundo um porta-voz do casal.
Outro
veneno palaciano: a revelação que Meghan usou um fabuloso par de
brincos presenteados por Mohammed Bin Salman, o príncipe herdeiro e
manda-chuva da Arábia Saudita.
A
cascata de diamantes brancos e amarelos, da joalheria Butani (valor
estimado: mais de cinco milhões de reais) foi um presente de casamento
que Meghan usou pela primeira vez numa cerimônia em Fiji, onde os duques
faziam uma visita oficial.
Detalhe
importante: isso aconteceu três semanas depois que explodiu o caso do
assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, uma atrocidade cometida a
mando do príncipe saudita.
E
tem mais: na ocasião, os funcionários que informam a imprensa sobre as
roupas usadas por membros da família real disseram apenas que a joia
tinha sido “emprestada”.
Ou seja, a discussão ética sobre seu uso já estava colocada. Se não, por que tentar despistar sobre sua origem?
Hoje
em dia, os membros da família real não aceitam presentes caríssimos.
Nos casamentos reais, como aconteceu com William e Harry, eles pedem que
sejam feitas contribuições para instituições beneficentes que
patrocinam.
Mas sempre há exceções, principalmente quando são presentes pessoais dos riquíssimos monarcas do petróleo.
Kate
já desfilou um conjunto de colar e brincos de esmeraldas que não saiu
da infindável coleção da família real. A rainha Elizabeth continuou a
aceitar cavalos de corrida presenteados pelo xeque Mohammed bin Rashid
Al Maktoum, o maior criador do mundo. O xeque de Dubai é acusado por uma
filha e uma ex-mulher de perseguições e até de cárcere privado.
As
relações de Harry e Meghan com a família real, e especificamente com a
própria rainha, já passaram de tensas para conflagradas.
O
último episódio foi o anúncio oficial da rainha que seu neto favorito,
tendo escolhido voluntariamente deixar as atividades públicas da família
real, passa a não ter direito a manter as posições honoríficas de
comando de unidades das Forças Armadas.
Vão-se,
junto, os fabulosos fardamentos de gala usados em cerimônias oficiais.
Como ex-militar, Harry poderá usar apenas as medalhas que conquistou
pessoalmente – com simples terno.
Harry
e Meghan responderam em tom nada cordato, minutos depois do anúncio
oficial da rainha, dizendo que a missão de servir é universal e que
continuarão a segui-la segundo os próprios moldes.
A
entrevista a Oprah Winfrey vem sendo anunciada em tom crescentemente
desfavorável à família real – “Tem gente que vai querer se esconder
atrás do sofá”, foi uma de suas definições.
Pelo
Palácio e seus partidários, ela é considerada especialmente imprópria
por coincidir com a hospitalização do avô de Harry, o príncipe Philip.
Embora
pareça pertencer à linhagem de imortais, Philip vai fazer cem anos em
junho e não está ficando nem mais jovem nem mais saudável. Ontem, fez um
procedimento cardíaco. É dever dos funcionários da realeza planejar em
detalhes como será seu funeral, ainda mais em tempos de Covid-19 e
lockdown.
Pelas
notícias plantadas na imprensa simpática à monarquia, é visível nos
ambientes palacianos a exasperação com o comportamento de Meghan e Harry
num momento em que a rainha lida com a doença do marido e as enormes
inconveniências que a pandemia criou para ela mesma, como uma senhora de
94 anos afastada por motivo de força maior do papel principal que
desempenha há sete décadas.
A
entrevista a Oprah de Meghan, com participação secundária de Harry, é
evidentemente voltada para o mercado americano, onde os dois já estão
ganhando dinheiro via contratos com Netflix e Spotify.
Mas
é no Reino Unido que ela é mais ansiosamente aguardada, com uma boa
parcela da opinião pública já tendo fechado questão: Meghan comprovará
que é uma manipuladora esperta, disposta a faturar alto via casamento
com um príncipe apaixonado que se deixou docilmente levar para a
Califórnia e aderiu ao projeto da fortuna no mundo do show business.
Conseguirá
também se passar por vítima, perseguida ou discriminada por ser
forasteira, americana e negra por parte de mãe? Absolutamente. Por isso a
história é tão boa que poucos conseguem ficar indiferentes a ela.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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