Eugênio Moraes/Hoje em Dia
Relatório da CGU aponta problemas na prestação de contas de obras no rio São João, em Itaúna
No mínimo R$ 1,7 milhão em recursos públicos do Programa Resposta aos
Desastres e Reconstrução, do Ministério da Integração Nacional,
destinados à reconstrução de cidades destruídas pelas chuvas entre 2009 e
2013, foram utilizados de maneira indevida por pelo menos cinco
prefeituras de Minas Gerais.
Relatórios da Controladoria Geral da União (CGU) publicados neste ano
apontam que as administrações municipais contrataram empresas sem
licitação, pagaram mais caro e superfaturaram obras, algumas delas
incompletas.
Os municípios examinados foram Itaúna, Pavão, Muriaé, Carlos Chagas e
Brumadinho. Por terem sido atingidas por enchentes e decretado estado de
calamidade e/ou emergência, essas cidades conseguiram acesso a recursos
junto ao ministério no valor de R$ 26 milhões nesse período.
De acordo com a CGU, Itaúna foi a que, percentualmente, mais desviou
recursos públicos, com 12% do total repassado, enquanto em Muriaé foram
7% e em Pavão, 9%. Na análise dos dados dos outros dois municípios, a
CGU não indicou o valor superfaturado. Com isso, a média dos valores
desviados foi de 9,4%.
A Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, do Ministério da
Integração, informou que está analisando os processos para emitir
pareceres técnicos definitivos referentes aos cinco municípios.
Representantes das prefeituras de Brumadinho, Muriaé e Itaúna
informaram que as contratações foram feitas nos governos anteriores e
que estão analisando a documentação para avaliar quais providências
serão tomadas. Em Brumadinho, a prefeitura reconheceu as irregularidades
e informou que deverá processar os envolvidos.
As outras duas administrações municipais também foram procuradas, mas
na sexta-feira ninguém foi localizado para comentar o relatório da CGU.
Consequências
Como consequência, caso o Ministério da Integração confirme as
irregularidades apontadas pela CGU, essas cidades serão automaticamente
inscritas como Inadimplente no Sistema Integrado da Administração
Financeira do Governo Federal (Siafi).
Além disso, o nome do responsável será inscrito no Cadastro Informativo
de Créditos Não Quitados do Setor Público Federal (Cadin) e será
providenciada a instauração da Tomada de Contas Especial. Na prática,
isso dificulta ou até mesmo inviabiliza a concessão de créditos e
recursos federais.
Pedido para reforma de ponte fantasma
Moradores da rua Elizeu Jardim, no bairro Universitários, em Itaúna, se
revoltam com a falta da ponte que deveria existir no local. A
prefeitura recebeu a verba para a reforma, mas a construção sequer
existe. “Moro em Itaúna há 45 anos e nesta rua, há dois. Nunca vi ponte
nenhuma aqui”, afirmou o aposentado Athaídes Quirino, de 66 anos.
O relatório da Controladoria Geral da União (CGU), que analisou as
prestações de contas do município ao Ministério da Integração Nacional,
entre maio de 2010 e março de 2011, apontou diversas irregularidades.
Dentre elas, a solicitação de recursos para reformar uma ponte que não
existe, o superfaturamento do transporte de material retirado do rio São
João, pagamentos antecipados a empresas que não efetuaram os serviços.
A Controladoria detectou, ainda, ações realizadas no município
incompatíveis com a finalidade do programa “Resposta aos Desastres e
Reconstrução”.
Obras que ajudam a população
Outra área de Itaúna que recebeu obras da prefeitura foi a avenida São
João e as proximidades do rio de mesmo nome, na altura do bairro das
Graças. O aposentado Ivo Paim Pamplona, de 63 anos, mora no local há 21.
Ele afirma que antes da revitalização, a via era de pedra e sem
asfalto. Além disso, não havia muro de contenção na margem do rio, o que
favorecia a ocorrência de enchentes.
Na avenida Manoel da Custódia, moradores e pessoas que trabalham
próximo ao local elogiam a troca das manilhas captadoras da água do
córrego que passa por baixo da via. Segundo o motorista Romero
Gonçalves, de 35 anos, antes da obra era só chover para acontecer o
alagamento. Ele, no entanto, lamenta o desvio de recursos. “Isso no
Brasil é normal, infelizmente”.
Fraude provoca rombo de R$ 30 milhões na saúde
Um desentendimento entre laboratórios farmacêuticos e o governo
estadual com relação à aplicação da alíquota de Imposto sobre Circulação
de Mercadorias e Serviços (ICMS) está causando um rombo nos cofres
públicos.
Entre janeiro de 2008 e outubro de 2012 houve um potencial prejuízo de
R$ 29,8 milhões, de acordo com levantamento da Controladoria Geral da
União (CGU), publicado em 2014. Para chegar a esta conclusão, o órgão
federal analisou contratos no valor de R$ 74,3 milhões com dezenas de
fornecedores.
Os auditores da CGU identificaram que as empresas praticam fraude ao
manipular o preço dos medicamentos, utilizando alíquotas diversas de
ICMS. Além disso, esse imposto é cobrado duas vezes, mas só desonerado
uma, ou seja, o que sobra fica de lucro para as farmacêuticas.
A Secretaria de Estado de Saúde (SES), responsável pelos contratos,
informou que há dois anos os órgãos de controle estaduais investigam a
prática dos laboratórios.
De acordo com a SES, atualmente estão sendo realizados os cálculos para
determinar os valores que devem ser ressarcidos ao Estado.
“Fornecedores fraudavam/manipulavam o Preço Máximo de Venda ao Governo
(PMVG), em desrespeito à legislação da Câmara de Regulação do Mercado de
Medicamentos (CMED)/Anvisa, na venda de medicamentos para a SES acima
do PMVG, fixado pela CMED, órgão interministerial responsável por
regular o mercado e estabelecer critérios para a definição e ajustes de
preços”, explicou a SES.
A secretaria classificou como fraudulenta a ação de alguns
laboratórios, mas lamentou que não conseguiu deixar de aceitar propostas
de um deles, a Hospfar, uma das empresas citadas pela CGU. A SES
informou que a Hospfar foi penalizada administrativamente, ficando
impedida de contratar com a administração pública. “No entanto, a SES
foi obrigada a continuar aceitando a participação desta empresa em
processos licitatórios, por exclusiva decisão judicial”, informou.
O documento da CGU afirmou que Hospfar Indústria e Comércio de Produtos
Hospitalares Ltda discriminava em suas notas fiscais, no campo
destinado ao detalhamento dos produtos, o preço sem a desoneração do
ICMS.
Laboratórios contestam levantamentos da CGU
A assessoria jurídica da Hospfar Indústria e Comércio de Produtos
Hospitalares informou que a empresa foi surpreendida com a investigação
sobre as supostas irregularidades.
“A
empresa desconhece a investigação e ainda não foi citada sobre seu teor
ou resultados, mas adianta que não houve qualquer venda com
sobrepreço”, informou, por meio de nota.
Segundo o relatório da Controladoria Geral da União (CGU), a Hospfar
foi responsável pelo sobrepreço de R$ 8 milhões em medicamentos vendidos
ao governo do Estado entre 2008 e 2012.
O laboratório informou, ainda, que não houve prática de venda com
valores superior ao Preço Máximo de Venda ao Governo (PMVG). “A empresa
acredita que está havendo uma má interpretação dos fatos, além da falta
de orientação adequada à Secretaria de Saúde do Estado de Minas Gerais
pelo Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) e Câmara de
Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED/Anvisa)”.
Já a Helpfarma, que também aparece no relatório da controladoria,
contestou o levantamento. “O relatório da CGU demonstrou um
desconhecimento absoluto e lamentável da legislação mineira, na medida
em que utilizou alíquotas erradas de ICMS para operações de venda de
medicamentos, além de ter ignorado o processo de entregas sucessivas,
que dispensa a utilização do CAP, fator que integra o cálculo do PMVG. A
Help Farma é detentora de benefício fiscal que lhe garante a aplicação
da alíquota de 12% de ICMS. Os valores da CGU utilizam alíquotas de
18%”, informou.
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