MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

'É constrangedor', diz reitor da Ufes sobre declaração de professor


Alunos afirmam que professor foi racista e preconceituoso em sala de aula.
Uma sindicância foi aberta na universidade para apurar o caso.

Viviane Machado Do G1 ES
Reitor fala sobre declarações de professor de Economia da Ufes (Foto: Viviane Machado/ G1 ES)Reitor fala sobre declarações de professor de Economia da Ufes (Foto: Viviane Machado/ G1 ES)
O reitor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Reinaldo Centoducatte, afirmou em entrevista coletiva, nesta quarta-feira (5), que o posicionamento do professor de Economia Manoel Luiz Malaguti sobre negros e cotistas na instituição é 'constrangedor'. Uma sindicância foi aberta na Ufes para o caso ser apurado. Para o reitor, declarações trazem 'um sentimento de perplexidade'. O Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Ufes informou que o educador foi afastado das aulas com a turma que presenciou as declarações, para que não haja mais desgaste.
"Não posso avançar mais em posicionamento pessoal ou qualquer tipo de avaliação, porque eu como reitor darei o posicionamento final sobre esse caso. Vamos esperar o inquérito e analisar", afirmou o reitor.
Segundo um grupo de alunos, a discussão começou durante uma aula de Introdução à Economia Política, nesta segunda-feira (3), na turma do segundo período de Ciências Sociais. Na ocasião, Malaguti teria feito afirmações preconceituosas. Os estudantes contaram que ele disse que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”. A declaração foi negada pelo educador, mas ele afirmou a preferência por um profissional branco.
De acordo com Centoducatte, uma sindicância foi aberta pela instituição e serve para comprovar que o fato existiu. "Já está comprovado que o fato existiu, porque o próprio professor publicamente que teve esse diálogo, essa discussão na sala de aula dele", disse.
A partir disso, a comissão que apura o caso vai reunir elementos para abrir um inquérito contra Malaguti. "Vamos analisar se teve infrigência do regimento e estatuto na universidade em relação a isso. Se for investigado e houver culpabilidade, ele pode recebe desde uma advertência verbal, oral, por escrito, ou exoneração", explicou.
Sobre as afirmações sobre o sistema de cotas da universidade, Centoducatte disse que a análise do professor é equivocada. "O processo de inclusão social que nossa universidade adota desde 2007 e as estatísticas mostram que se você faz uma análise da média, o desempenho dos estudantes da nossa instituição não tem distinção se eles entraram no processo de seleção da reserva de vargas ou no processo universal. Mais ainda, se vocês observarem o processo seletivo da nossa universidade, vem aumentando nsignificantificamente o ponto de corte da reserva de vagas. As pessoas que hoje estão aptas pela reserva de vagas, veem isso como oportunidade de fazer um bom trabalho pela sociedade", concluiu.
Preconceito
Alunos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) denunciaram um professor de Economia por ter dito frases de caráter racista e preconceituoso durante uma aula, na tarde da segunda-feira (3). De acordo com uma publicação feita pelo Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais da Ufes em uma rede social, o professor teria dito que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro”, por exemplo. Cartazes com a foto do mestre e com o título “Professor Racista” estão espalhadas pelo campus.
“Ele disse que os negros e pobres não tinham acesso à cultura, deixando claro que eles não atingiram o nível cultural dos brancos. Em seguida afirmou: ‘Estudantes cotistas diminuem a qualidade da universidade. Eu detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro’”, relatou uma aluna de 19 anos.
Em entrevista ao Gazeta Online, o professor negou ter dito que “detestaria ser atendido por um negro”, mas reafirmou a escolha por um médico branco, caso tivesse que optar entre um esse profissional e um, de mesmo currículo, só que negro. “Em função da possibilidade estatística de esse médico branco ter tido uma formação mais preciosa, mais cultivada, eu escolheria o médico branco. Mas eu disse isso como um exemplo do que a sociedade faz”, falou Malaguti.
Apesar de confirmar a afirmação, o professor disse não ver qualquer tipo de preconceito em sua fala. Segundo ele, a explicação é “biológica e genética”. “Há uma dificuldade muito grande de se livrar desses conceitos e preconceitos que tem uma família desprivilegiada, sem acesso à cultura, à literatura, a outros idiomas e a meios de comunicação sofisticados. Obviamente, essas famílias terão maiores dificuldades de enfrentar um curso universitário naquilo que ele se propõe. Então, há uma maior dificuldade do cotista negro, o que não quer dizer que ele é inferior”, destacou.

OAB
O advogado José Roberto de Andrade, da Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), contou que se reuniu com alunos e professores do Centro de Ciências Humanas, na noite desta terça-feira (4) e que a Ordem repudia veementemente a declaração do educador.
"Nós ficamos entristecidos em ver que em pleno século XXI, em uma instituição de ensino superior, um professor ainda possa ter esse tipo de discurso em sala de aula. Esse é um discurso atrasadíssimo, superado, que cairia bem, talvez, em um engenho do século XVI, mas não hoje", disse.
Desembargador
Depois de acompanhar na imprensa o relato dos alunos, o desembargador Willian Silva entrou com uma representação criminal junto ao Ministério Público Federal (MPF/ES), nesta terça-feira (4). De acordo com o magistrado, a fala de Manoel Luiz Malaguti configura crime de injúria racial, com base no artigo 140 do Código Penal.
O desembargador ainda afirmou que, a partir do momento em que o professor fez a declaração, ele colocou o negro em condição de inferioridade. “Eu peguei o jornal e li a afirmação de que ele 'detestaria ser atendido por um médico negro'. Por causa disso, entrei com a representação. Eu, como negro, me senti ofendido e parte legítima para acionar o MPF”, falou Silva.
O Ministério Público Federal (MPF/ES) informou que recebeu a representação criminal e instaurou procedimento investigativo que vai apurar a conduta de professor.
Protesto
Na tarde desta quarta-feira, estudantes fizeram uma manifestação no campus da universidade. om cartazes e gritando palavras de ordem, os jovens caminharam pelo campus de Goiabeiras, em Vitória, e chegaram a interditar os dois sentidos da Avenida Fernando Ferrari durante alguns minutos.
Estudantes fazem manifestação na Ufes, em Vitória (Foto: Viviane Machado/ G1 ES)Estudantes fazem manifestação na Ufes, em Vitória (Foto: Viviane Machado/ G1 ES)

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