Eugênio Moraes/Hoje em Dia
orelhão
Orelhões danificados são cada vez mais comuns no centro de Belo Horizonte


Cada vez menos usados e alvos constantes de vândalos, os telefones públicos estão virando mera composição da paisagem urbana, sobretudo, no Centro de Belo Horizonte. Quem precisa recorrer a um orelhão, seja porque não tem celular ou numa situação de emergência, por vezes depara com o equipamento quebrado.

Segundo a Oi – empresa responsável pela instalação de terminais de uso público no Brasil –, levantamento feito em 2010 apontava que menos de 4% da população utilizavam os orelhões diariamente. Encaixa-se aí, com orgulho, a recifense Marina Silva de Campos, de 62 anos.

Ela mora em Belo Horizonte há dois meses e quase todo dia vai até o Terminal Rodoviário, no Centro, para telefonar ou receber ligações da irmã, que ficou na capital de Pernambuco.

“Não tenho celular há muito tempo, pois os créditos acabavam rápido no interurbano. Combino com quem preciso um horário para conversar e dá tudo certo”, conta Marina, que prefere os telefones públicos da Rodoviária porque se sente mais segura lá dentro e por os aparelhos estarem em boas condições de conservação.

Vandalismo

Mas os orelhões não são bem-conservados em boa parte da cidade, devido ao vandalismo. Conforme a Oi, nos dois primeiros meses deste ano foram depredados cerca de 18% dos 78 mil orelhões de Minas Gerais e a mesma proporção dos 9.800 aparelhos de BH.

Defeitos em leitora de cartões, monofones e teclado, e pichações e colagem indevida de propagandas são os problemas mais constatados.
Tais atitudes desestimulam o uso dos equipamentos por gente como o marceneiro Carlos Eugênio de Azevedo, de 48 anos. Nesta semana, um dos aparelhos do quarteirão fechado da rua Rio de Janeiro, na Praça 7, recusou o cartão novo dele. E o orelhão da frente estava com o fone arrancado. “Dá vontade de quebrar mesmo”, desabafou, referindo-se à irritação por não conseguir ligar.

Ainda no Centro, na avenida Afonso Pena com rua dos Tupinambás, há três telefones públicos, mas apenas um funciona, e com o visor apagado. Mais à frente, outro aparelho até dá linha, mas o microfone está arrebentado.

A Oi informou que mantém um programa permanente de manutenção dos orelhões e disponibiliza o telefone 10331 para solicitação de manutenção, mas não divulgou o quanto gasta para consertar as depredações.

Especialista aposta em novo modelo de telefonia pública

Entre 2007 e 2013, a operadora Oi registrou queda de 40% ao ano no consumo de créditos de telefones públicos pelos usuários. Pesquisas da empresa mostram que, atualmente, o uso do telefone público é esporádico, atribuindo isso, principalmente, à popularização do celular pré-pago.

A professora Fátima Duarte Figueiredo, do departamento de Ciência da Computação da PUC Minas, acredita que nas grandes cidades, os orelhões deverão estar extintos já na próxima década. Pelo menos da forma como são hoje.

“A tecnologia 4G terá a transmissão de voz como temos hoje por internet. Então, os pontos de telefone serão locais de acesso à internet e as pessoas conversarão como fazem em computadores e tablets, e não necessariamente em aparelhos de telefone”, explica.

Emergência

Mas Fátima Figueiredo lembra que os orelhões ainda são meios eficientes de comunicação, principalmente para os turistas estrangeiros que verão os jogos da Copa em BH.

Na opinião da professora, os telefones públicos podem ser de grande serventia para quem não aderiu às novas tecnologias ou, por exemplo, ficar sem bateria no celular no meio da rua.

Consulta popular vai avaliar uso do aparelho

A própria Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) admite que a necessidade da instalação de telefones públicos nas ruas deve ser rediscutida. O órgão conclui, neste mês, uma consulta pública para a sociedade avaliar a conveniência do uso dos aparelhos e de revisar os termos do próximo contrato de concessão, referente ao período 2016-2020.

“O cenário atual do setor de telecomunicações é caracterizado por um novo comportamento dos usuários, que passaram a utilizar as variadas alternativas de comunicação eletrônica, surgidas a partir do desenvolvimento tecnológico, da massificação e do uso da internet”, cita a agência, no documento.

Segundo a Anatel, uma concessionária faz testes nas cidades de Florianópolis e Rio de Janeiro com orelhões que apresentam outras funcionalidades, incluindo wi-fi, para subsidiar estudos sobre a atratividade do serviço, uso da tecnologia de dados, estímulo ao uso do telefone público e redução do vandalismo.

Obsoletos

Os celulares modernos são tão mais atraentes aos usuários que muitas crianças nunca encostaram num orelhão. O “objeto estranho” foi apresentado pelo Hoje em Dia ao pequeno Miguel de Freitas, de 3 anos, no Centro de BH.

“Achei legal o telefonão”, disse ele, com a cabeça quase coberta pelo fone do aparelho. A mãe dele, Josiane Diniz de Freitas, de 25 anos, nem lembra qual foi a última vez que usou um orelhão, pois admite que prefere o celular.