Com
a escassez de mão de obra qualificada e o desafio de manter operações
em alta, bares e restaurantes de todo o Brasil vêm recorrendo à
contratação de imigrantes como uma solução viável e enriquecedora. Além
de atender a uma demanda urgente do mercado, a presença desses
profissionais contribui com diversidade cultural, dedicação no dia a dia
e novas formas de relacionamento no ambiente de trabalho.
Dados
do Boletim das Migrações, do Ministério da Justiça e Segurança Pública,
revelam que mais de 203 mil imigrantes tiveram vínculos formais de
emprego no Brasil entre janeiro e agosto de 2024. A maior parte das
admissões ocorreu nas regiões Sudeste e Sul do país.
Ao
mesmo tempo, uma pesquisa feita pela Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrasel) aponta que 90% dos empresários do setor de
alimentação fora do lar enfrentam dificuldades para contratar novos
funcionários. Entre os principais motivos estão a falta de qualificação e
o desinteresse pelas vagas oferecidas. Nesse contexto, abrir as portas
para trabalhadores imigrantes não só amplia o acesso à mão de obra, como
reforça o compromisso social dos negócios.
Exemplo de sucesso na maior cidade do país
Na
capital paulista, a empresária Lilian Maia, proprietária do restaurante
Esquina Grill do Fuad, conta com quatro funcionários da Guiné-Bissau em
sua equipe. A experiência começou em 2015, quando Lilian recebeu a
indicação de uma ONG que apoiava imigrantes africanos. O histórico
pessoal foi determinante: após viver na Austrália como estudante e
imigrante, ela fez questão de retribuir a acolhida que recebeu no
exterior.
“Eu
sabia como era difícil morar fora, sem família e sem falar a língua.
Por isso, quis dar essa chance aqui no restaurante”, afirma. Os desafios
iniciais envolveram adaptação cultural e de costumes, como o idioma com
sotaque e a alimentação com regras religiosas. Com respeito e
flexibilidade, a equipe encontrou um caminho comum. Um dos
colaboradores, por exemplo, se tornou líder de cozinha.
Para
Lilian, a contratação de imigrantes tem gerado aprendizados constantes.
“A gente aprende a respeitar o diferente. Aprende a conviver com outras
verdades. Eles são extremamente comprometidos”, diz. O restaurante
passou a incluir pausas para orações e a adaptar processos internos, sem
prejuízo à rotina. “Eles querem trabalhar, aprender, crescer. E o
cliente percebe esse cuidado”.
De Portugal ao Amapá
A
presença de imigrantes em bares e restaurantes se manifesta de várias
formas: alguns empreendem, outros são contratados para cozinha,
atendimento ou gestão. Em todos os casos, o que se percebe é que o setor
tem potencial para acolher, oferecer renda e estimular a integração
social.
A
história de Rui Ferreira, português radicado em Macapá (AP), é um
exemplo disso. Engenheiro de formação, ele chegou ao Brasil em 2011 e
decidiu empreender no setor de alimentação em 2020, com a abertura do
restaurante Casa Lisboa — uma proposta inédita de gastronomia portuguesa
na capital amapaense.
“Eu
acredito que a minha cultura do país de origem influencia bastante em
termos de organização, rigor, qualidade e atendimento. Em termos de
cardápio, nosso restaurante é focado na culinária portuguesa, e o
público de Macapá reagiu muito bem. Gostam muito da proposta,
especialmente dos pratos com bacalhau. Como é algo bem diferente da
comida típica da região, isso acabou se tornando um diferencial
positivo”, relata Rui.
Apesar
de não ter atuado anteriormente no ramo da alimentação, ele conta que a
experiência empreendedora adquirida ao longo dos anos no Brasil foi
fundamental para o restaurante ganhar força. “Se eu tivesse vindo direto
de Portugal para abrir um restaurante, talvez tivesse mais
dificuldades. Mas como já morava aqui há quase uma década, a adaptação
foi mais tranquila”.
O
líder de gente e jornadas da Associação Brasileira de Bares e
Restaurantes (Abrasel), Paulo Jelihovschi, explica que a contratação de
imigrantes gera diversos benefícios, tanto para o empregado quanto para
quem emprega.
“Além
de gerar renda e autonomia para quem chega ao país em busca de novas
oportunidades, a presença de imigrantes também contribui para uma melhor
cultura organizacional nas empresas que os empregam, entre elas, bares e
restaurantes. Uma cultura organizacional que valoriza a diversidade e a
inclusão tende a promover uma melhor relação entre as pessoas e
favorecer o alcance de melhores resultados”.
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