MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 29 de junho de 2025

RESUMÃO DA CONFERÊNCIA DE BONN - LACLIMA

 



UAE DIALOGUE – IMPLEMENTAÇÃO DOS RESULTADOS DO BALANÇO GLOBAL (GST)


As discussões sobre o Diálogo dos Emirados Árabes Unidos (UAE Dialogue), criado para implementar os resultados do Balanço Global (GST), avançaram lentamente durante a SB 62, travadas por divisões políticas sobre o escopo, o mandato e os produtos esperados. O processo começou sob o impacto da aplicação da Regra 16 em Baku — um dispositivo do regimento interno da UNFCCC que determina que, na ausência de consenso, o item permanece automaticamente na agenda do ano seguinte, sem formalizar qualquer avanço. A aplicação da regra, impulsionada por EIG e AILAC, impediu avanços no período anterior e empurrou as negociações para Bonn. No fim da conferência, duas versões de texto foram apresentadas pelos facilitadores, refletindo posições conflitantes quanto ao escopo temático, duração do processo e natureza dos produtos. Sem consenso sobre o conteúdo, a plenária final adotou uma “informal note” que sistematiza as opções em aberto em ambas as versões, a ser considerada como ponto de partida nas negociações da COP 30, em Belém.


TRANSIÇÃO JUSTA


As negociações sobre o Programa de Trabalho sobre Transição Justa, na SB 62, foram redirecionadas pelos presidentes dos Órgãos Subsidiários, com foco em medidas unilaterais, afastando-se do escopo original. O processo ganhou estrutura com sete eixos temáticos organizados pelos cofacilitadores, mas a apresentação de uma nota informal na segunda semana acentuou divergências. As principais tensões giraram em torno de três temas: linguagem sobre transição energética, inclusão de referências a medidas unilaterais e propostas de criação de um órgão institucional de apoio à implementação da transição justa. LMDCs, Grupo Árabe e Rússia criticaram a exclusão do termo “medidas unilaterais” e as referências à transição para longe dos combustíveis fósseis. Já países como Reino Unido, Canadá e Austrália alertaram que ceder a um grupo comprometeria o equilíbrio do texto. Sem consenso, a nota informal foi encaminhada para nova rodada de discussões em Belém (SB 63), onde devem persistir as disputas em torno das NDCs, da meta de 1,5 °C e do papel da cooperação internacional. O documento é visto como um passo relevante para destravar a agenda da transição justa após o impasse em Baku.


ADAPTAÇÃO


A Meta Global de Adaptação (GGA) foi o principal foco da agenda de adaptação na SB 62, com intensas negociações e alto nível de pressão política. Os trabalhos começaram com um workshop híbrido, no âmbito do Programa de Trabalho Emirados Árabes–Belém, para discutir a extensa lista de mais de 490 indicadores. O encontro revelou desorganização, ausência de diretrizes claras e crescente frustração entre delegações e especialistas. Apesar das tensões iniciais, as Partes chegaram a um consenso sobre a necessidade de afunilar a lista, estabelecendo que o grupo de especialistas deverá reduzi-la para até 100 indicadores globalmente aplicáveis. Esses indicadores devem incluir meios de implementação (como financiamento e capacitação), fatores habilitadores e considerações transversais como gênero, juventude, inclusão social e direitos humanos. Também se prevê o uso de narrativas qualitativas e a possibilidade de adaptar subindicadores aos contextos nacionais. Ficou acordado que os especialistas se reunirão novamente antes da SB 63, já em Belém, em um encontro técnico híbrido, para revisar os metadados, aplicar controle de qualidade e finalizar um relatório até agosto de 2025. O Secretariado deverá publicar dois relatórios de síntese com base nesse trabalho.


FINANCIAMENTO CLIMÁTICO


Embora não estivesse formalmente na agenda de negociações, o tema do financiamento climático foi tema em discussões paralelas da SB 62, com destaque para três frentes: o Roadmap de Baku a Belém, o Diálogo sobre o Artigo 2.1(c) e o workshop sobre o Artigo 9.5.


Roadmap Baku–Belém: rumo aos USD 1,3 trilhão

Durante consultas realizadas pelo Brasil e pelo Azerbaijão, países e atores não estatais discutiram prioridades para o relatório conjunto das presidências da COP 29 e COP 30. O Ministério da Fazenda do Brasil apresentou cinco eixos: reforma dos bancos multilaterais, ampliação do financiamento concessional, plataformas nacionais para atração de investimentos, instrumentos inovadores e fortalecimento regulatório. Países em desenvolvimento enfatizaram os entraves de acesso e o papel insubstituível do financiamento público. Já países desenvolvidos defenderam foco em mobilização do capital privado. O processo, no entanto, gerou frustração pela falta de clareza sobre sua influência nas decisões da COP 30.


Diálogo sobre o Artigo 2.1(c) e sua relação com o Artigo 9

O primeiro workshop de 2025 sobre o Artigo 2.1(c) buscou esclarecer como alinhar os fluxos financeiros com metas climáticas e sua relação com o dever dos países ricos de prover recursos. Foram discutidos os temas de adaptação, transição justa e a nova meta coletiva de financiamento (NCQG), mas o tempo limitado impediu maior aprofundamento. O próximo workshop, previsto antes da COP 30, será decisivo para definir se e como o diálogo seguirá institucionalizado.


Workshop sobre o Artigo 9.5 – Transparência e Previsibilidade

O terceiro workshop bienal sobre o Artigo 9.5 abordou os desafios na comunicação antecipada de financiamento pelos países desenvolvidos. Persistem entraves como a baixa previsibilidade dos fluxos, a dificuldade técnica de consolidação de dados e a indefinição do que conta como “financiamento climático”. Também foi discutida a articulação com os Relatórios Bienais de Transparência (BTRs) e a necessidade de alinhamento com o Artigo 9.7 do Acordo de Paris, que exige que países desenvolvidos reportem a cada dois anos informações claras e consistentes sobre o financiamento já concedido e mobilizado em favor de países em desenvolvimento — enquanto outras Partes são apenas incentivadas a fazê-lo. A expectativa é que a COP 30 realize um Diálogo Ministerial para atualizar as diretrizes dessas comunicações, em consonância com a nova meta coletiva de financiamento em negociação.


ARTIGO 6


Artigo 6.2 – Diálogo sobre Ambição e Cooperação


A COP 29 concluiu as regras do Artigo 6.2, iniciando sua fase de implementação plena. O primeiro Diálogo sobre Ambição foi realizado em Bonn, com foco na troca de experiências sobre como abordagens cooperativas podem aumentar a ambição climática. Destaques incluíram o uso de ITMOs para metas nacionais e internacionais (como o CORSIA), o papel do setor privado, e a importância de evitar a “supervenda” de carbono. Também foram discutidos desafios jurídicos e operacionais, como a falta de marcos legais nacionais e atrasos nos ajustes correspondentes. O Secretariado apresentou sessões técnicas sobre reporte, revisão e o funcionamento do Registro Internacional.


Artigo 6.4 - Capacitação sobre o Mecanismo de Creditação (PACM)


Após a regulamentação do Artigo 6.4 na COP 29, foi realizada em Bonn uma capacitação sobre o novo Mecanismo de Creditação do Acordo de Paris (PACM). O evento reuniu governos, setor privado e especialistas, abordando os principais passos para a operacionalização do PACM, como regras de adicionalidade, transição do MDL, designação de autoridades nacionais, registro de atividades e funcionamento do site oficial. A capacitação buscou preparar países e desenvolvedores para participar de forma ativa e segura no novo mercado internacional de carbono.


Artigo 6.8 – Abordagens Não Mercadológicas e Plataforma NMA


O workshop do Comitê de Glasgow revelou sérios entraves à utilização da Plataforma NMA, prevista no Artigo 6.8 do Acordo de Paris. Com poucos projetos cadastrados e limitações operacionais, as Partes discutiram propostas para ampliar seu uso, incluindo incluir projetos ainda não implementados, vincular a ferramenta ao GCF e realizar eventos paralelos na COP 30. A proposta do grupo LMDC enfrentou resistência, e sem consenso, foi decidido apenas reportar o status das discussões ao Chair do SBSTA. O tema volta à agenda na COP 30.


Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)


Com a criação do novo mecanismo do Artigo 6.4, o MDL está em fase de descontinuação. As Partes discutem agora prazos para encerrar suas operações (entre 2025 e 2028) e o destino dos recursos remanescentes. Enquanto o grupo LMDC defende mais tempo, AOSIS alerta para os custos de manter um sistema obsoleto. Também há divergências sobre como usar os fundos restantes — se para o Fundo de Adaptação, capacitação em mercados de carbono ou aprimoramento da transparência climática. A decisão final será tomada na COP 30, com base em uma análise técnica do Secretariado.


Contatos da assessoria

Pensata Comunicação

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