Estelionatário do voto, presidente é fiel a passado autoritário, terrorista e estatizante, dispara José Nêumanne em artigo publicado pelo Estadão:
Jair
Bolsonaro ganhou a eleição presidencial, que não foi fraudada, como
repete, apoiado em dois pilares: o antipetismo e o slogan que furtou das
manifestações populares de 2013, resumindo o que exigiam: “Mais Brasil,
menos Brasília”. A repulsa a Lula levou-o a assumir compromisso com o
apoio ao que, finda a primeira metade de sua gestão, é chamado de
“lavajatismo”, pondo o ex-juiz Sergio Moro no Ministério da Justiça e da
Segurança Pública. O desmonte da privilegiatura, especialmente os
burocratas fardados, esbulhando o contribuinte, virou lorota “liberal na
economia e conservadora nos costumes”, que acomoda na Esplanada dos
Ministérios um fã secreto de Augusto Pinochet, Paulo Guedes, e Damares
Alves, lunática que conversava com Jesus Cristo numa goiabeira.
O
liberalismo de caviar com champanhota, sustentado por uma nobiliarquia
burguesa, guiada pelo “sorry, periferia” de Ibrahim Sued, pôs à mesa
Salim Mattar – que logo entendeu que fora chamado para um picadeiro, e
não para uma equipe econômica, e pulou fora –, se distrai e se desfaz no
ridículo do viciado em almoço grátis, a renegar Chicago. O combate à
corrupção foi despejado no verão de 2018, quando o então deputado
estadual fluminense Flávio Bolsonaro foi avisado (segundo seu suplente,
Paulo Marinho) de que o esquema de que era beneficiário na Assembleia
Legislativa do Estado do Rio (Alerj) fora devassado pelo Ministério
Público do Rio (MP-RJ). Dois verões depois, o Superior Tribunal de
Justiça (STJ), seguindo João Noronha, decretou a abolição da
fiscalização de atividades financeiras ilícitas sem inocentar o réu. De
olho na vaga do decano do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio
Mello, a ser aberta no inverno que vem.
No
governo ele conta com a garantia de que seus crimes de responsabilidade
não serão punidos e poderá jogar no lixo a promessa de extinguir a
reeleição, mercê do Centrão (“não fica um, meu irmão”) do alagoano
Arthur Lira e do mineirão Rodrigo Pacheco. O capitão terrorista, cuja
pretensão de explodir quartéis e a adutora do Guandu foi perdoada por
juízes do Superior Tribunal Militar (STM), sabotou às escâncaras as
fundações da democracia, contando com aliados aloprados. Tais como Sara
Giromini, Daniel Silveira e Bia Kicis. O estrategista escolado em crime
de colarinho-branco Frederick Wassef foi reabilitado no seio da famiglia
pelo perdão ao primogênito. E este terá o inquérito do MP-RJ sepultado
sem choro nem vela pelo procurador-geral da Justiça daquele Estado,
Luciano Mattos, nomeado pelo governador provisório, Cláudio Castro, para
dar um roque no xadrez da investigação mais rica em crimes desde Sérgio
Cabral.
Sobrenatural
de Almeida, personagem do analista dos costumes dos subúrbios da
ex-Cidade Maravilhosa, Nelson Rodrigues, providenciou uma pandemia para
ele atuar como charlatão-mor do País, com cloroquina na maleta. Em 25 de
fevereiro morreram 1.582 súditos e na live do trono Sua Majestade, o
artilheiro que nunca disparou um morteiro, expôs habilidades de homem do
óleo da cobra das feiras livres do interior, mirando no seu mais
recente inimigo público número um, a máscara anticovid. Chamou de
efeitos colaterais do uso da máscara os sintomas “irritabilidade,
dificuldade de concentração, diminuição da percepção de felicidade,
recusa de ir para escola, vertigem e desânimo”. Nem pense em rir, já que
se trata de um diagnóstico grave, capaz de produzir centenas de
milhares de vítimas de morte. A receita foi-lhe passada, segundo os
repórteres Samuel Lima e Gabi Coelho, do Estadão, por tuíte, pelo médico
(!) Alessandro Loiola, “que já foi alvo de quatro verificações do
Projeto Comprova por espalhar informações falsas e é autor de um livro
chamado Covid-19: a fraudemia, um compêndio de teses anticientíficas e
teorias conspiratórias”.
Antes
de março chegar, na perspectiva de ser o mais terrível mês na guerra ao
novo coronavírus, alucinados aglomeraram-se sem máscara à frente da
casa do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, em protesto
contra o lockdown que este decretou. “Queremos trabalhar”, tuitou o
chefe do Executivo. Quem o impede de fazê-lo? Poderia interromper a
folga a que se dedica desde a posse para mandar o Ministério da Saúde
cumprir a ordem da ministra do STF Rosa Weber e reabrir UTIs de covid do
SUS, em vez de dar resposta desaforada: “Cabe a cada Estado fazer a sua
parte”.
Como
se trata de mais uma proposta para não ser cumprida pelo estelionatário
de hábito, e convém evitar que ele continue desmandando para colher
cadáveres, resta-nos ecoar o que disse o senador Tasso Jereissati, ao
defender a CPI da covid-19: “Alguém precisa parar esse cara”. É mesmo
absurda (e não se diga burra, em respeito aos quadrúpedes muares) a
oposição dele aos únicos instrumentos de que a humanidade dispõe para
escapar do contágio mortal: higiene, máscaras, isolamento, auxílio
emergencial e vacina, sim. Muitas vidas poderão ser salvas se se lavarem
suas mãos sujas de sangue e lhe negarem o poder de decretar efeitos
mortais de seu desgoverno homicida.
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