MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 21 de março de 2021

Gestão da pandemia transforma redes sociais em ‘zona de guerra’

POLITICA LIVRE
brasil

Os ânimos exaltados por causa da crise sanitária, social e econômica que afeta o Brasil na pandemia transformaram as redes sociais em uma zona de guerra ideológica. Para analistas ouvidos pelo jornal Estado de S.Paulo, a polarização política no País atingiu seu ápice neste início de ano, com narrativas vindas da esquerda à direita com ataques a reputações, discursos pró-impeachment, protestos contra decisões judiciais e acusações de discurso de ódio e de censura.

A palavra que marcou a semana nas redes foi “genocida”, usada por opositores do governo para criticar o presidente Jair Bolsonaro e sua gestão da pandemia. O termo “bombou” nas redes após o youtuber Felipe Neto ser intimado pela Polícia Civil do Rio por usar o termo para se referir ao chefe do Executivo. Foi com base na Lei de Segurança Nacional que a polícia intimou o influenciador após acusação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente. Uma decisão da Justiça do Rio, no entanto, suspendeu a investigação.

O caso é sintomático no contexto de uma tendência de agravamento da tensão política no País, afirmou o cientista político Rafael Cortez. “Cada vez mais os eleitores brasileiros se concentram nos polos. As redes sociais refletem esse movimento. Há riscos de que a polarização ganhe traços de autoritarismo em meio ao jogo político democrático”, disse Cortez.

Ele apontou a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à cena política – após recuperar o direito de ser candidato – como um dos elementos que tendem a acirrar ainda mais os ânimos online. “O custo do resultado eleitoral de 2022 é muito significativo, tanto pela sobrevivência política dos atores envolvidos com a disputa como também pela qualidade da democracia”.

Um dos temas políticos mais debatidos nas redes é a possibilidade de impeachment de Bolsonaro. A Avaaz monitorou palavras-chave relacionadas a essa discussão no Twitter e no Facebook entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2021 e identificou que declarações polêmicas e ações controversas do presidente ajudaram a impulsionar os pedidos de afastamento nas redes.

A declaração de que a Covid-19 é uma “gripezinha”, feita pelo presidente em março do ano passado, foi um desses momentos que causaram barulho. A crise da falta de oxigênio em Manaus no início deste ano também foi identificada como a “gota d’água” para a ampliação do uso de hashtags como #impeachmentsalvavidas, #forabolsonaro e outras.

Foram 2,3 milhões de tuítes citando o impeachment no período da pesquisa. No Twitter, as publicações de maior repercussão foram principalmente da esquerda, de atores como o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e do líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL). No Facebook, a Avaaz identificou mais variedade entre os debatedores.

“Percebemos uma tendência. A pandemia fez o brasileiro reclamar mais nas redes e pedir cada vez mais o afastamento do presidente. Episódios de negligência em relação à pandemia geram picos de insatisfação. É uma tendência de agravamento da polarização”, disse Laura Moraes, coordenadora de campanhas da Avaaz Brasil. A instituição tem defendido o afastamento do presidente.

A pandemia impulsionou pedidos de impeachment de Bolsonaro. Desde o início de seu mandato, foram protocolados 74; apenas sete deles são anteriores a março do ano passado, quando foi registrado o primeiro caso de covid-19 no Brasil. Há 69 pedidos de impeachment na mesa do presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), a quem cabe submeter (ou não) as denúncias à análise dos deputados. Outros cinco foram arquivados por questões formais, como falta de assinaturas.

Censura

A Fundação Getúlio Vargas detectou uma alta no fluxo de debates sobre liberdade de expressão e censura entre novembro de 2020 e fevereiro deste ano – outro sintoma da guerra de narrativas na internet. De acordo com a Diretoria de Análise de Políticas Públicas (Dapp) da universidade, notícias sobre casos como a suspensão de contas no Twitter, como aconteceu com o ex-presidente americano Donald Trump e bolsonaristas investigados no inquérito dos atos antidemocráticos no Brasil, geraram picos de interação sobre os temas.

A identificação de uma tensão entre o combate a discursos de ódio e censura aconteceu também em casos de fora da política, como na morte de João Alberto Freitas, um homem negro de 40 anos que foi espancado até a morte dentro de supermercado Carrefour em Porto Alegre, em novembro. “As redes sociais podem ser instrumentos importantes de mobilização social e solidariedade. Vou apostar nessa sua virtude. Elas têm cumprido papel importante para mobilizar a opinião pública contra o racismo, por exemplo”, disse a historiadora Wania Santanna.

Estadão Conteúdo

 

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