Carlos Newton
É uma questão de sobrevivência. Para atrair o então juiz federal Sérgio Moro e fazê-lo aceitar o Ministério da Justiça, o presidente eleito Jair Bolsonaro teve de enfeitar o bolo, como se dizia antigamente, entregando ao futuro ministro a mais potente arma contra a corrupção, o Conselho e Controle de Atividades Financeiras – Coaf, até então subordinado ao Ministério da Fazenda. Moro aceitou a oferta e a nomeação, pediu exoneração do cargo de juiz e meteu mãos à obra, criando o mais avançado programa de leis contra o crime já adotado no mundo.
O chamado pacote anticrime foi encaminhado à Câmara os Deputados pelo Planalto, até aí tudo bem, o neoministro Moro jamais imaginou que fosse sofrer tanta resistência e tanto boicote. Mas de repente o sonho de Moro acabou.
BANCADA DA CORRUPÇÃO – O Congresso desde sempre vem sendo dominado pela bancada da corrupção, que é amplamente majoritária. As principais lideranças já decidiram tirar o Coaf do Ministério da Justiça, para evitar a influência de Moro, e entregá-lo à pasta da Economia, dominada por Paulo Guedes, que não somente fala a mesma língua desses congressistas, como também está sob investigação no caso do rombo dos fundos de pensão, tendo inclusive se esquivado de prestar depoimento ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro.
O que Moro não esperava era a facada pelas costas, porque o presidente Bolsonaro, para ganhar votos na reforma da Previdência, resolveu aceitar a transferência do Coaf para a pasta da Economia, como arma de barganha.
Moro protesta, dá entrevistas, procura lideranças na Câmara, mas o sinal está fechado para ele. Não há mais a menor possibilidade de o Coaf continuar vinculado ao Ministério da Justiça, esta hipótese tem o mesmo valor de uma nota de três dólares.
VITÓRIA DE PIRRO – Bolsonaro pensa (?) que essa concessão que está fazendo ao Congresso – digo, à bancada da corrupção – vai fazer com que a reforma da Previdência seja aprovada, mas é um engano colossal. Os parlamentares não precisam do governo para transferir a Coaf, isso é decisão deles, já acertada, e com apoio entusiástico de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre, que não querem nem ouvir falar em Controle de Atividades Finaceiras.
O presidente deveria fazer exatamente o contrário e se manifestar contra a transferência do Conselho para a pasta da Fazenda, até mesmo para afastar a suspeita (ou certeza) de que ele e seus filhos sejam beneficiados no caso das “rachadinhas” de Queiroz & Cia., levantado exatamente pelo Coaf.
Mas Bolsonaro cometeu um ato falho e admitiu que poderia apoiar a ida do Conselho para a órbita de Guedes, que atua na mesma frequência da bancada da corrupção, quando o assunto é ganhar dinheiro ilicitamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário