MEDIÇÃO DE TERRA

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quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Salão de beleza português onde ferries foram comprados também se negociam aviões


Duas empresas funcionam no mesmo endereço do salão de cabeleireiros da sogra de um dos sócios
Da Redação (redacao@correio24horas.com.br)
Fachada de prédio onde funciona empresa que vendeu ferries gregos (Foto: Paula Cosme Pinto/Arquivo Correio)
No mesmo endereço de onde saíram as negociações para a venda de dois ferries gregos ao governo do estado da Bahia — número 10 da Rua Dom Afonso de Noronha, na Grande Lisboa, em Portugal — também é possível negociar aviões. Isso entre um corte e outro de cabelo, já que no mesmo local funciona um salão de beleza. Dois sócios da empresa portuguesa Happyfrontier Importação e Exportação Lda.  (João Carlos Palmeirão de Melo e Helder José Veras Nunes Barata) criaram uma nova empresa no dia 22 de maio deste ano, a Red Frontier Lda.

A criação da sociedade ocorreu no mesmo dia em que a Happyfrontier recebeu de armadores gregos o segundo dos dois ferries que em seguida foram vendidos ao governo da Bahia (o primeiro foi comprado pela Happyfrontier no dia 2 de maio) e que aqui foram rebatizados de Dorival Caymmi e Zumbi dos Palmares, ambos já em operação na travessia Salvador-Itaparica.

O CORREIO localizou, ontem, a documentação do Ministério da Justiça de Portugal que formaliza a sociedade Red Frontier, que já nasceu tendo como atividade a comercialização, importação e exportação de navios, agenciamento de embarcações e  aeronaves, além de outros serviços relacionados a transportes — diferente da Happyfrontier, que inicialmente vendia eletrodomésticos e mobiliários e que teve o objeto alterado em abril, seis meses depois de vender os ferries para a Bahia. As duas empresas funcionam no mesmo endereço do salão de cabeleireiros da sogra de um dos sócios — João Carlos Palmeirão de Melo.

A transação, realizada após um processo licitatório, está sendo investigada pelo Ministério Público Estadual (MPE), que também recebeu denúncia de superfaturamento — os ferries foram comprados pela Happyfrontier por 12 milhões de euros e vendidos por 18 milhões, acrescidos o transporte e treinamento da tripulação. O capital social da Happyfrontier é de 15 mil euros.

A Procuradoria-Geral de Justiça solicitou ao Grupo de Atuação Especial de Defesa do Patrimônio Público e da Moralidade Administrativa (Gepam), que iniciou a apuração, uma cópia de toda a documentação que está sendo analisada. Por se tratar de denúncia de improbidade em secretaria estadual, pode ser de atribuição da Procuradoria de Justiça essa apuração.

O MPE, através de sua assessoria de comunicação, informou que a documentação solicitada chegou, na segunda-feira à noite, para análise e que só deve voltar a se pronunciar sobre o caso após essa análise. A Secretaria de Infraestrutura do Estado (Seinfra), procurada ontem, informou que não recebeu do Ministério Público nenhuma recomendação ou documentação relacionada à compra das embarcações.

O Gepam já solicitou a recomendação de que o restante do pagamento à empresa seja suspenso até o fim da apuração. De acordo com o Portal da Transparência já foram realizados três pagamentos, que somam R$ 49,966 milhões — 85% do valor devido. O acordo com a empresa é de que o último pagamento só será realizado após  120 dias de operação, que começou há  um mês.

A denúncia de irregularidades foi feita, inicialmente, pelo jornalista Fernando Conceição, professor da Ufba, em seu blog. O CORREIO foi à sede da Happyfrontier, na Grande Lisboa, quatro vezes e não localizou ninguém no local.

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