Pela praticidade, lanche é um dos mais procurados no Grande Recife.
Comerciantes da área ainda esbarram na fiscalização do poder público.
Pontos
de venda de espetinhos no Grande Recife atraem quem gosta de tomar uma
cerveja, petiscar e bater um papo depois do expediente (Foto: Renan
Holanda/ G1)
Uma breve circulada pelas ruas da Região Metropolitana do Recife
é suficiente para constatar: as carroças de espetinho estão por todo
canto. O lanche costuma ser uma das opções mais procuradas por quem
precisa de algo rápido e barato. Além disso, esses espaços ainda servem
como ponto de encontro para aqueles que gostam de tomar uma cerveja e
petiscar após o fim do expediente. Para os proprietários desse tipo de
negócio, por outro lado, os espetinhos são uma importante fonte de renda
e, muitas vezes, representam mudanças decisivas no orçamento familiar.
Erick Souza, o Sopa, tem um ponto de espetinho em Olinda
(Foto: Renan Holanda / G1)
Erick Costa, mais conhecido como Sopa, trabalha com comida de rua há 15 anos e é dono de uma carroça de espetinho em Olinda.
Antes de se dedicar exclusivamente ao negócio, trabalhou por 10 anos
como recepcionista de um hotel. Aos 17 de idade, teve um filho. “Eu
largava do hotel e ia vender cachorro-quente na orla. Ainda vendia
espetinho aos fins de semana. Era um ‘bucho’ em casa que eu tinha de
alimentar, né?”, lembra. Quando as coisas começaram a dar certo, Sopa
largou o emprego no hotel.(Foto: Renan Holanda / G1)
Pouco tempo depois, comprou de um amigo o ponto onde trabalha hoje, em Bairro Novo, e passou a dar atenção integral ao negócio. Desde então, o “Deu Sopa Espetinho”, como o espaço é chamado, não para de crescer. “O que o antigo dono vendia em uma semana, eu vendo em um dia”, conta com orgulho. No cardápio, seis tipos de cerveja e opções diversas de espetinhos, incluindo picanha argentina (R$ 8) e maminha uruguaia (R$ 6,50). Tanta variedade se reflete também no público que procura o local, que vai de mesas de amigos a casais com filhos.
Com os rendimentos do espetinho, Erick comprou um bar em Jardim Atlântico, também em Olinda, onde irá inaugurar o seu próprio botequim. Terá dez funcionários. “Eu abro o espetinho faça chuva ou sol. Sempre atendemos o cliente com bom humor, oferecemos higiene e variedade também”, explica, quando perguntado sobre os diferenciais do seu espaço.
Samuel tem dois funcionários, consegue tirar uma boa renda, mas reconhece que o empreendimento tem suas dificuldades. “Por ser na rua, a questão da segurança pesa muito. Além do mais, a gente fica à mercê do tempo. Quando chove, não tenho condição de abrir”, lamenta. À reportagem do G1, Samuel contou que, por causa do forte vento vindo da praia, dois quarteirões distante, chegou a perder cinco tendas e acabou desistindo de investir em algo para proteger os clientes da chuva.
Carro, casa e faculdade
Há 15 anos no ramo, Emerson Souza pode dizer sem medo que o trabalho com espetinhos mudou sua vida. Foi vendendo esse tipo de lanche que ele conseguiu reformar a casa, comprar uma caminhonete para auxiliar no transporte dos suprimentos e pagar a faculdade da filha. Atualmente, além de vender espetinhos diariamente nas proximidades do Shopping Tacaruna, no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, ele tem outras três carrocinhas.
Emerson trabalha usando farda de chef; carroça dele aceita cartões de crédito e débito (Foto: Renan Holanda / G1)
“Montar uma equipe boa não é fácil. Nem todo mundo está disposto a
trabalhar sexta, sábado e domingo”, explica. Um sócio que atuava no
negócio junto com Emerson morreu há pouco tempo e desde então ele sofre
para achar novos parceiros. Chegou a convidar alguns jovens moradores da
região, mas os “perdeu” para o crack. “A pessoa começa a trabalhar,
tira um dinheirinho, e de repente some”.Para ter um diferencial em meio a tanta concorrência, Emerson trabalha fardado de chef e imprimiu um banner para divulgar seus lanches. "Ainda faço os espetinhos na chapa, que eles ficam mais gostosos", completa. O espetinho de frango com bacon, vendido a R$ 4, é um dos mais pedidos. Outro diferencial listado pelo comerciante é o fato de aceitar cartões de crédito e débito. “Hoje em dia, quase ninguém mais anda com dinheiro na carteira”, alerta uma cliente que desistiu de lanchar na carroça vizinha justamente por só aceitar pagamento em espécie. Diariamente, Emerson costuma recolher o material de trabalho depois das 22h, horário de fechamento do shopping.
Trabalhar até tarde também não é problema para Irene Marques, que abre seu ponto de espetinho no bairro da Boa Vista, área central do Recife, a partir das 18h de segunda a sexta. Como atua em um ponto de grande movimentação de pessoas, a clientela surge naturalmente. E até pelo horário de funcionamento, muitos procuram o local apenas para tomar uma cerveja antes de ir descansar em casa.
Alunos do curso de eletrotécnica se reúnem para
tomar cerveja após uma aula prática (Foto: Renan
Holanda / G1)
O estudante Thiago Honorato, por exemplo, reuniu um grupo de 10 colegas
do curso técnico de eletrotécnica para beber e lanchar no espetinho de
Irene após o término de uma aula prática. “Lá perto do nosso curso, só
tem lanchonete. Como tem esse espetinho aqui, aproveitamos para relaxar
um pouco e discutir os dados que colhemos na aula”, brinca, arrancando
risos dos amigos.tomar cerveja após uma aula prática (Foto: Renan
Holanda / G1)
Fiscalização
No Recife, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) explicou, em nota, que realiza fiscalizações diárias para evitar que carroças de espetinho ocupem o passeio público, como calçadas, de forma indevida. Os responsáveis são notificados e, caso não cumpram a determinação, podem ter os equipamentos de trabalho apreendidos. Desde o início de 2013, a prefeitura já contabiliza 71 apreensões do tipo. Durante a apuração desta reportagem, o G1 encontrou pelo menos dois comerciantes que não toparam dar entrevista por medo que a repercussão causasse problemas com o poder público.
Como não há autorização para que os espetinhos ocupem logradouros públicos, a recomendação da Semoc é que os comerciantes procurem atuar dentro de um imóvel e busquem “iniciar os processos administrativos para liberação do alvará de funcionamento”. Os interessados em se regularizar podem procurar a gerência regional do bairro onde fica o imóvel. A lista com os endereços está no site da prefeitura.
A secretaria ainda esclareceu que tem buscado encontrar soluções amigáveis para resolver a situação desses comerciantes. “No Centro do Recife, onde o número de espetinhos é muito alto, foram cadastrados 48 profissionais que, atualmente, são autorizados a trabalhar na Rua da Saudade, sempre a partir das 18h”, explica a nota. O local é provisório. A ideia é que todos sejam realocados para centros de comércio popular na mesma região, mas esses espaços ainda estão em obras.
Em Olinda, a prefeitura realiza inspeções periódicas, com foco sobretudo na questão da segurança alimentar e sanitária das carrocinhas. Erick Costa e João Samuel, que atuam nas proximidades do antigo quartel do Exército, em Bairro Novo, revelaram que foram visitados por fiscais no mês passado. Devido à construção de um shopping na região, as carroças de espetinho da área estão com prazo definido para mudar de ponto.
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