Thulyo largou o cursinho para tratar o câncer, mas decidiu fazer a prova.
'Mesmo que não vá bem, pelo menos tentei', diz o estudante de 18 anos.
Thulyo, de 18 anos, veio de Campina Grande para
SP para o tratamento de uma leucemia e fará o
Enem no hospital (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
A véspera do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem)
do estudante Thulyo Savyo Souto Vasconcelos, de 18 anos, não se parece
com a da maioria dos demais candidatos: pela manhã, consultas médicas; à
tarde, sessão de quimoterapia. Desde maio, quando recebeu o diagnóstico
de leucemia, um tipo câncer originado na medula óssea, o adolescente
precisou abandonar o cursinho pré-vestibular e mudar de estado para
fazer o tratamento. Mas, como conseguiu permissão do Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) para fazer o Enem no
hospital, ele decidiu fazer as provas neste sábado (8) e domingo (9).SP para o tratamento de uma leucemia e fará o
Enem no hospital (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
"Já que tive a oportunidade, decidi tentar. Mesmo que não vá bem, pelo menos tentei", disse ele em entrevista ao G1 na tarde desta sexta-feira (7).
Thulyo vivia em Campina Grande com os pais, a irmã e o irmão mais velhos. Seu plano para 2014 era estudar para o Enem e tentar uma vaga no curso de engenharia elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), que ele por pouco não conseguiu na edição do início do ano do Sistema de Seleção Unificada (Sisu). De manhã, ele ia ao cursinho, e à tarde trabalhava no consultório de uma amiga de sua mãe.
Tudo isso mudou em 28 de maio, uma data que ele guardou em detalhes. Depois de apresentar sintomas como dores no corpo, muito cansaço e gânglios perto da região do pescoço, seus pais o levaram ao médico.
"Disseram que era pneumonia, turboculose, fizeram um monte de exames. Descobri no dia 28 [o diagnóstico do câncer], na madrugada vim pra cá", relembrou ele na brinquedoteca do terceiro andar do prédio do Grupo de Apoio ao Adolescente e Criança com Câncer (Graacc) na Vila Clementino, Zona Sul de São Paulo. Era sua primeira vez na Capital paulista, e desde então ele não saiu da cidade.
Além de ser um espaço de diversão das crianças, a brinquedoteca também funciona como sala de estudos para os pacientes mais velhos. No caso de Thulyo, que desde que chegou a São Paulo mora com a mãe na casa de uma tia no mesmo bairro, a primeira das cinco fases do tratamento contra a leucemia linfática aguda provocou efeitos colaterais que o impediram de estudar.
Além do vômito, das náuseas e da queda de cabelo, ele também teve um problema no intestino que exigiu uma cirurgia. Quando se sentiu melhor, Thulyo foi atrás dos professores da Escola Móvel do Graacc e retomou os estudos.
Thulyo faz quimioterapia e consultas médicas de manhã, e estuda das 14h às 17h de segunda a quinta
(Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
Aulas individuais no hospital(Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
As aulas individuais do paraibano acontecem entre as 14h e as 17h de segunda a quinta e são focadas na preparação para o Enem. "Vou prestar a Fuvest também, mas mais pela experiência." Estudar engenharia elétrica na UFCG é um sonho bem planejado. Thulyo pesquisou o curso e diz que ele tem prestígio. "É um curso bem reconhecido, teve um dos primeiros projetos de microondas, por exemplo. E eu me identifico muito", explicou o vestibulando. Para ele, matemática, química e física são as matérias mais fáceis. O problema, mesmo, é a prova de redação.
"No ano passado minhas notas [do Enem] ficaram na média de 650, mas na redação tirei uns 450, foi a pior nota", contou. Neste semestre, ele treinou redação com um dos professores para tentar corrigir uma das suas falhas. "Ele diz que tenho boas ideias, só não consigo articular direito."
Mas, além de servir para o Enem, voltar aos livros foi, segundo o adolescente, uma forma de passar o tempo na nova cidade e tirar a cabeça do tratamento. "Ocupa o tempo, eu não fico tanto tempo sem fazer nada. Vindo aqui eu me disperso. Não tenho tantos amigos aqui, só tenho dois primos da minha idade, e eles também estudam. Eu tinha uma vida bastante ativa para ficar sem fazer nada de repente", diz Thulyo, sempre mantendo o sorriso no rosto.
Neste fim de semana, o jovem paraibano fará o Enem em um auditório no prédio do Graacc com outros cinco pacientes atendidos pelo grupo. Esse será o quinto ano que o grupo aplicará a prova do Ministério da Educação. Segundo Amália Covic, coordenadora da Escola Móvel do Graacc, um armário com chave no auditório será cedido aos funcionários do Inep indicados como coordenadores do Enem no local.
As provas serão levadas para lá às 7h deste sábado (8) e ficarão trancadas no armário até a noite, operação que se repetirá no domingo.
Se sua nota no Enem lhe garantir uma vaga em engenharia elétrica na UFCG, Thulyo pensa em trancar a matrícula até o fim do tratamento, que ainda deve durar mais um ano, ou verificar a possibilidade de cursar algumas das disciplinas mais teóricas com os professores da Escola Móvel, e depois pedir equivalência.
Mas, depois do Enem, o foco imediato do estudante volta a ser enfrentar o terceiro ciclo do tratamento, que inclui mais seis semanas de quimioterapia às segundas, quartas e sextas. Se superar essa fase sem grandes efeitos colaterais, o jovem pretende realizar dois planos: voltar a Campina Grande por uma semana, durante o Natal, e andar de kart com o pai.
Thulyo
ao lado de Amália Covic, coordenadora da Escola Móvel do Graacc, que
aplica o Enem a pacientes há cinco anos (Foto: Ana Carolina Moreno/G1)
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