Quatro meses após a disputa da Copa do Mundo, nove dos 12 estádios que receberam as partidas da competição são utilizados normalmente em confrontos válidos pelas Séries A e B do Campeonato Brasileiro e em jogos da Copa do Brasil. Apenas um deles, o Itaquerão, em São Paulo, opera, na média, com mais de 50% de taxa de ocupação.
Os outros oito, numa lista que conta com Mineirão, Maracanã e Beira-Rio, verdadeiros templos do nosso futebol, muitas vezes vivem a realidade das cadeiras vazias. E na maioria das partidas não têm nem a metade dos seus assentos ocupados.
Para que um estádio tenha plena ocupação, é necessário que, na média, opere com mais de 95% da sua capacidade de público.
Construído para o Mundial, o Itaquerão, que foi o palco da partida de abertura do torneio, com vitória por 3 a 1 da Seleção sobre a Croácia, em 12 de junho, foi projetado para ser adaptado à realidade do futebol brasileiro.
Com 20 mil assentos provisórios, o novo estádio corintiano teve a capacidade reduzida de 68 mil para 48 mil pessoas após a competição da Federação Internacional de Futebol Associado (Fifa).
Reformados para o Mundial, mas mantendo as estruturas originais, Mineirão, Maracanã e Beira-Rio não tiveram como trabalhar com assentos provisórios.
O último grande estudo sobre médias de público pelo mundo foi feito pela Pluri Consultoria, que é comandada pelo economista Fernando Ferreira, e divulgado no final de julho. Foi levada como base a participação nos respectivos campeonatos nacionais, que ocupam mais de 50% do calendário de qualquer equipe.
E na lista dos 100 clubes com maiores médias do planeta, apenas dois são brasileiros. O Cruzeiro, campeão da Série A do ano passado, aparece na 70ª posição, com 28.911 torcedores por partida. O Santa Cruz, que foi analisado pela participação na Série C de 2013, foi o 89º, com 26.578 pessoas.
O tricolor pernambucano, inclusive, é o único clube brasileiro que esteve presente entre os 100 primeiros colocados nos últimos três rankings, com um acumulado no período de 29.300 pagantes, em média, por partida.
A marca do Santa Cruz, alcançada com menos de 30 mil pagantes por jogo, na média, é prova de que um grande desafio do futebol brasileiro após a Copa do Mundo é conseguir aumentar a taxa de ocupação das suas novas e modernas arenas.
Previsão dinamarquesa de 2012 está confirmada
Em outubro de 2012, quase dois anos antes da Copa do Mundo, o Instituto Dinamarquês de Estudos do Esporte (IDEE) fez um levantamento sobre as 12 arenas que seriam usadas na competição. E a previsão era a de que nenhuma delas alcançaria as médias internacionais de público. Além disso, Arena Pantanal, da Amazônia, das Dunas e Mané Garrincha eram apontados como futuros elefantes brancos.
A aposta dinamarquesa se confirmou. Os 62% de taxa de ocupação do Itaquerão estão longe das marcas alcançadas pelos grandes clubes da Europa.
Dos 20 primeiros colocados no ranking elaborado pela Pluri Consultoria, apenas a Internazionale, da Itália, que atravessa a maior crise da sua história recente, tem taxa de ocupação inferior à corintiana, com 58%.
Em números absolutos, a Inter teve 46.246 de média de público no Campeonato Italiano da temporada 2013/2014, número que é quase a totalidade do Itaquerão, que comporta 48 mil torcedores.
Quanto aos elefantes brancos, a Arena Pantanal, a da Amazônia e o Mané Garrincha tiveram pouca atividade após o Mundial, pois os estados onde estão localizadas não contam com clubes nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro.
A Arena da Amazônia, nos quatro meses após a Copa do Mundo, recebeu apenas três partidas válidas pelas principais competições nacionais. Tem a taxa de ocupação de 72%, mas ela é irreal, pois o clássico carioca Botafogo 2 x 1 Flamengo, na semana passada, teve lotação máxima.
A Arena das Dunas teve 20 jogos nos últimos quatro meses, pela Série B do Brasileiro e Copa do Brasil, e uma taxa de ocupação de 30%, graças principalmente às boas participações de América-RN e ABC na Copa do Brasil.
Nova realidade
Na onda da construção das arenas para a Copa do Mundo, Grêmio e Palmeiras, embora seus estádios não fossem usados na competição promovida pela Fifa, também ergueram novas casas. E a interferência da Prefeitura de São Paulo acabou fazendo com que a arena palmeirense fosse mais adequada à realidade brasileira.
A intenção do clube era erguer no lugar do Parque Antártica um estádio com capacidade para 65 mil pessoas. Mas a prefeitura paulistana liberou apenas 45 mil lugares, marca que alcançou o limite da área construída segundo a legislação vigente. A inauguração deve acontecer ainda este mês.
O Grêmio já usa a sua nova arena, que tem capacidade para 60.540 torcedores, desde o ano passado. Na Série A deste ano, disputou 14 partidas lá e acumula 281.654, média de 20.119, taxa de ocupação de 34%.
Atlético e Cruzeiro precisam se unir
A análise dos números das novas arenas brasileiras deixa evidente que os dois grandes clubes do futebol mineiro precisam agir de forma conjunta para tirar proveito dos dois estádios de Belo Horizonte.
Deixando a rivalidade apenas para o campo e o resultado do trabalho ser ditado pela competência, Atlético e Cruzeiro, juntos, poderiam lucrar muito mais dividindo a utilização de Mineirão e Independência.
Para os cruzeirenses, isso possibilitaria uma taxa de ocupação mais alta e, logicamente, menos despesas nos jogos de baixo público. No caso atleticano, o clube lucraria mais nos confrontos que não cabem mais no Horto.

Editoria de Arte
Dever de casa