Os oftalmologistas consideram importante que pais e professores fiquem atentos ao comportamento das crianças e adolescentes
Foto: Romildo de Jesus
Por Cleusa Duarte
O
Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) realizou um estudo com 295
oftalmologistas, entre abril e junho deste ano que revelou um aumento do
número de casos de crianças com diagnóstico de miopia no País, bem como
foi registrado o avanço do problema em pacientes já em acompanhamento
durante a pandemia da covid-19. A recomendação da maioria é procurar
lazer ao ar livre e dispensar as tecnologias o maior tempo possível.
Para 71,9% dos oftalmologistas entrevistados, cresceu a quantidade de pacientes com idades de 0 a 19 anos com diagnóstico de miopia. Para 75,6% dos especialistas, essa situação tem como causa principal a exposição das crianças e dos adolescentes às telas dos aparelhos eletrônicos, seja por conta do ensino à distância, seja em atividades de lazer, como assistir televisão ou jogar videogames. A recomendação é reduzir esse tempo diante das telas e também buscar atividades externas como forma de prevenir a miopia.
“Claro que sabemos que é um desafio para os pais afastar as crianças das telas. Como oftalmologista oriento evitar a exposição de crianças às telas em horários recreativos. É importante que a família crie rotinas de lazer ao ar livre com prática de esportes, caminhadas, brincadeiras com bola e bicicleta para estimular a visão de longe. A pandemia nos trouxe muitas mudanças e um novo olhar para o que é importante na vida... momentos de lazer em família podem fortalecer os vínculos. Sabemos que as crianças repetem muitas atitudes dos adultos, então os pais podem começar a dar exemplo diminuindo o uso de celulares e redes sociais na presença das crianças, além de prevenir a miopia, isso ainda pode melhorar a convivência familiar”, esclarece Milla Sampaio, Médica Oftalmologista do hospital São Rafael e diretora da clínica Nova Oftalmologia, e especialista do Banco de Olhos da Bahia.
O certo é que estamos diante de um agravamento do avanço de casos de miopia e os oftalmologistas chegam a dizer que se trata de uma “epidemia”. Para contê-la, além da redução do uso de telas, é preciso também cuidado com os fatores ambientais.
"É comprovado que se você ficar em média pelo menos duas horas em ambiente externo sua chance de ser míope pode ser reduzida em até 40%. O sol libera neurotransmissores que fazem o olho crescer menos. Por isso, recomendo menos telas e mais atividades ao ar livre, como jogar bola e andar de bicicleta. Não é tomar sol no olho, mas ficar em ambiente externo é muito importante. Atividade ao ar livre reduz a progressão da miopia", salienta o coordenador da pesquisa, Fábio Ejzenbaum, que é especialista do CBO e presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP),
Os oftalmologistas também consideram importante que pais e professores fiquem atentos ao comportamento das crianças e adolescentes para encaminhá-los para avaliação médica de forma precoce.Sinais como queda no rendimento escolar, mudança de comportamento social, apertar/fechar os olhos para ver objetos ou ler e mesmo se aproximar para identificar letreiros, situações ou objetos podem sugerir a existência de problemas. Com o diagnóstico, o paciente poderá iniciar o tratamento para controlar o transtorno.
O CBO ainda entende que o enfrentamento da miopia depende de ações apoiadas pelo Governo, em suas diferentes instâncias de gestão. Por isso, busca interlocução com os Ministérios da Saúde e da Educação para desenvolver estratégias que atinjam as crianças e os adolescentes em casa e na escola.
“A proposta, que inclui o treinamento ou capacitação dos professores para a triagem de casos suspeitos em sala de aula, prevê parcerias com o Sistema Único de Saúde (SUS) para o aproveitamento das agendas livres nos consultórios privados. Se estima que um acordo neste sentido pode permitir o atendimento de cerca de 15 milhões de pessoas”, explica o presidente do CBO, José Beniz Neto.
A miopia é um erro de refração bastante comum. Ela acontece quando a imagem se forma antes da retina. A sua principal característica é a visão embaçada, que impede de enxergar com clareza o que está longe. Em alguns casos também pode provocar cansaço visual e dores de cabeça.
De acordo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 2,6 bilhões de pessoas convivem com a miopia em todos os países. Dessas, 59 milhões estão no Brasil. A projeção é de que em 2050 metade da população mundial pode ser afetada pelo problema.
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