O País já estava em crise antes dos primeiros sinais da pandemia do novo coronavírus. A situação era especialmente grave na indústria, aponta editorial do Estadão:
O
socorro aos pobres funcionou, a ajuda às empresas diminuiu o choque e a
economia brasileira, no resumo final, encolheu 4,1% em 2020. Foi o
pior desempenho anual na série histórica iniciada em 1996. Mas a perda
teria sido bem maior sem os gastos federais para o enfrentamento da
crise. Bem mais feio, pelo menos à primeira vista, é o balanço de boa
parte do mundo rico. Na zona do euro, onde se encontram potências como
Alemanha, França e Itália, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu 6,7%.
No Reino Unido o tombo foi de 9,9%. No Japão, a terceira maior economia
do mundo, a perda foi de 4,8%. Mas é preciso ser cauteloso e evitar a
imodéstia nas comparações.
O
Brasil fica em posição nada invejável quando se consideram o
desemprego, o potencial de crescimento a partir de 2021, o miserável
desempenho da economia nos últimos dez anos, o ritmo da vacinação e a
ameaça ainda presente da pandemia. A covid-19 é uma variável muito
importante em toda projeção econômica, mas o governo federal, rejeitando
o exemplo da maior parte do mundo, ainda menospreza o risco do contágio
e das mortes.
Mas
a experiência brasileira tem outras singularidades. O inventário de
2020 revela bem mais, no caso do Brasil, que os danos ocasionados pela
covid-19 e os benefícios das ações anticrise, iniciadas pelo Banco
Central com medidas de estímulo ao crédito. Uma primeira diferença logo
se destaca: o PIB no primeiro trimestre foi 2,1% menor que nos três
meses finais de 2019. O País já estava em crise, portanto, antes dos
primeiros sinais da pandemia. A situação era especialmente grave na
indústria. O mau desempenho do setor, perceptível há vários anos,
agravou-se a partir de 2019, quando o novo governo deu mais importância
ao armamento de civis do que aos dados econômicos imediatos.
O
balanço do ano passado confirma também a condição singular da
agropecuária e, mais amplamente, do agronegócio. Este segmento, o mais
competitivo da economia brasileira, é o principal suporte das contas
externas. A agropecuária atravessou a crise com mais firmeza que outros
setores e fechou o ano com expansão de 2%. Em contraste, a produção da
indústria foi 3,5% menor que em 2019 e a dos serviços encolheu 4,5%.
Com
a pandemia, o trabalho em casa tornou-se rotineiro para milhões de
pessoas. O recolhimento das famílias afetou os padrões e o volume dos
gastos do dia a dia. O desemprego e a redução da renda também produziram
efeitos. Por todos esses fatores, a despesa de consumo familiar foi
5,5% menor que em 2019. O grande baque ocorreu em março e abril. A
recuperação, iniciada em maio, foi insuficiente para o retorno ao nível
do ano anterior. O Brasil, é preciso lembrar, já estava em crise antes
da pandemia.
A
redução do consumo privado afetou principalmente a indústria de
transformação e devastou o setor de serviços. A queda do investimento
produtivo também produziu impacto imediato. Combinados todos esses
fatores, os efeitos mais negativos ocorreram na construção (-7%), na
produção de veículos e de outros equipamentos de transportes, na
fabricação de roupas e acessórios e no segmento de máquinas e
equipamentos. Pelo menos prosperaram as indústrias de alimentos,
produtos farmacêuticos e material de limpeza.
O
investimento produtivo, medido como formação bruta de capital fixo,
diminuiu 0,8%, mas a relação entre o valor investido e o PIB aumentou de
15,3% para 16,4%, porque a queda do divisor, isto é, do PIB, foi maior.
Mas a taxa de 16,4% é muito inferior àquela encontrada em outros países
emergentes, igual ou superior a 24%.
Investindo
pouco, o Brasil limita seu potencial de crescimento. O setor privado
pode investir em máquinas, equipamentos e instalações, mas o resultado
desse esforço é diminuído pela pobreza das estradas e de outros
componentes da infraestrutura. Privatizações e concessões poderiam
ajudar, mas também nisso o governo tem falhado. Empenhado na reeleição, o
presidente valoriza inaugurações, mas para inaugurar também convém
construir – um detalhe trabalhoso e um tanto complicado.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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