MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 30 de abril de 2020

J. R. Guzzo: "Com a distribuição de cargos, impeachment não sai nos próximos 100 anos".


O mais prático, nisso tudo, é prestar atenção em quais e quantos deputados e senadores vão deslizar para dentro do bonde do governo - em nome da necessidade patriótica de preencher cargos. Coluna de J. R. Guzzo para o Estadão:

Uma coisa são os pecados e as virtudes do presidente Jair Bolsonaro. Outra, muito diferente e que pode afetar diretamente os interesses do cidadão brasileiro, é o que vai realmente acontecer com sua Presidência - algo que pode se resumir, no fundo, a uma pergunta só: ele fica ou ele sai? A primeira coisa é a mais debatida, claro, com paixão, som e fúria. Mas presidentes da República, segundo estabelece a lei, não saem do palácio por causa daquilo que fazem de mal, e nem ficam por causa do que fazem de bem. Saem ou ficam segundo a decisão específica que o Congresso Nacional tomar a esse respeito. Não vale a pena perder seu tempo olhando para outro lugar; se o sujeito perde a chave do carro no jardim, não vai encontrar nunca se for procurar no quintal. É ali, no plenário da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, que tudo vai se resolver.
É uma constatação óbvia, mas muitas vezes o óbvio é uma das coisas mais difíceis de serem levadas em consideração no debate político - ou, para falar a verdade, talvez na maioria dos debates, sobre qualquer assunto. Temos assim, 24 horas por dia, um barulho de tempestade sobre coisas que, na vida real, terão muito pouca ou nenhuma possibilidade de decidir se Bolsonaro continua na Presidência ou será deposto por um processo de impeachment. É um espanto ver tanta gente falando em “renúncia” - para isso seria indispensável, em primeiro lugar, que ele estivesse de acordo em renunciar, pois renúncia depende da vontade do renunciante, e o presidente não tem a mais remota intenção de fazer isso. Também não adianta muito empilhar denúncia sobre denúncia sobre atos de Bolsonaro que poderiam justificar a sua deposição legal - faz calor, mas é só isso.
O presidente não será julgado pelo que dizem os analistas políticos, a “sociedade civil” ou o Tribunal Internacional de Haia. Será julgado pelos 513 deputados e 81 senadores do Congresso Nacional que está aí hoje, políticos de carne e osso que todo mundo pode saber perfeitamente quem são. Três quintos deles terão, no fim das contas, de votar se Bolsonaro deve ou não permanecer na Presidência - isso, naturalmente, se o pedido de impeachment chegar mesmo a eles algum dia, coisa que ninguém pode garantir hoje. Em suma: é uma pedreira. “Não se pode buscar o remédio do impeachment como quem vai na farmácia comprar um melhoral”, dizia Ulysses Guimarães. Mas é isso, precisamente, o que um caminhão de gente parece estar esperando, por tudo que se lê, vê e ouve no noticiário.

O mais prático, nisso tudo, é prestar atenção em quais e quantos deputados e senadores vão deslizar para dentro do bonde do governo - em nome da necessidade patriótica de preencher cargos na direção do porto de Santos, no guichê de verbas para o Vale do São Francisco ou nos armazéns gerais do Oiapoque ao Chuí. Político está interessado nisso, e não em provas técnicas contra o presidente, ou na indignação de artistas, da OAB ou das Nações Unidas. Se levarem o que estão querendo, esse impeachment não sai nos próximos 100 anos.
 
BLOG ORLANDO TAMBOSI

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