Janaína Figueiredo
O Globo
Ele está no centro do que muitos consideram uma guerra interna dentro do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), mas sua calma, que parece inabalável, não transmite isso. Na sala que ocupa no quarto andar do Palácio do Planalto, apenas a um andar de distância do chefe de Estado com quem diz conversar com frequência, não existe simbologia militar. Nas paredes, uma foto do presidente e um quadro colorido decoram o ambiente no qual trabalha o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, general da reserva que entre 2006 e 2009 chefiou a missão de paz no Haiti e entre 2013 e 2015 esteve à frente da missão de paz no Congo, coordenando 23,7 mil militares de 20 países.
Em meio a debates sobre a tensão entre militares e civis no governo, o ministro negou a existência de uma “ala militar”. “Jamais houve qualquer conversa entre dois militares com espírito de grupo militar dentro do governo”, assegurou o general.
Já são quase cinco meses de governo, o senhor faz um balanço positivo dessa etapa?
Tem muita coisa boa acontecendo e muitas vezes elas não aparecem por essa fumaceira toda, por pequenas coisas, discussões, até brigas pessoais que têm um grande reflexo. Essas discordâncias que existem num ambiente de democracia e liberdade de expressão. Sem dúvida o balanço é positivo. Um novo governo chegou, com agenda e expectativa boa. O Bolsonaro teve o grande mérito de mobilizar a população brasileira. O Brasil estava traumatizado com tanta corrupção. O volume de dinheiro disso tudo, valores que assombravam. Em todos os estados, no Rio de Janeiro, que sempre tem essa expressão forte de referência. Bolsonaro chegou com uma proposta de acabar com isso, de aproveitar melhor os recursos públicos, de segurança pública. A segurança pública melhorou muito, o índice nacional de assassinatos caiu mais de 20%.
Por que, então, as pesquisas mostram uma queda notável de apoio ao governo?
Você ter uma pequena queda depois de um tempo é normal. A vida real obriga o governo a fazer opções e nem sempre essas opções são tão alegres.
Os cortes na educação, por exemplo?
O corte na educação não foi tão significativo. Talvez a interpretação da coisa tenha sido muito mais significativa.
Foi um corte grande.
Não… você tem uma parte de despesas obrigatórias e outras são as chamadas discricionárias. Foi só nessa parte discricionária. As manifestações partiram de uma interpretação, às vezes o próprio anúncio… não podemos responsabilizar o pessoal.
Houve uma falha na comunicação sobre o corte?
A maneira às vezes como é transmitida dá espaço a interpretações. Também existem interesses políticos, que também são normais. Tudo isso acaba dando uma ideia errada sobre o contingenciamento. Mas temos de respeitar.
O senhor estava em Dallas com o presidente quando ele fez críticas muito duras aos manifestantes…
O presidente Bolsonaro tem um estilo franco, uma personalidade muito transparente e eu acho que isso é bom. Temos que entender que esse jogo, esses interesses, tudo isso faz parte do jogo democrático.
Qual a sua avaliação sobre as manifestações do último domingo a favor do governo?
No último domingo as manifestações foram pacíficas e expressivas, mostrando maturidade política dos manifestantes. São coisas da liberdade individual e de manifestação. Tem todo tipo de agenda e de pauta. Mesmo que, no caso das manifestações da educação, tenham sido equivocadas, é da sociedade. As pessoas têm ansiedade, expectativa, preocupações. Não é estimulado pelo governo, nem tem participação formal de governo. Sendo pacífico, vejo como algo normal.
O senhor esperava viver este ambiente, fala-se em guerra suja e o senhor está no centro do que muitos consideram uma crise… Hoje temos um fenômeno, as redes sociais. Você tem um arsenal de tecnologia, uma disponibilidade de mídias sociais e todos deverão se adaptar a isso.
Foi difícil ver o hastag #forasantoscruz?
Não, isso aí não tem problema. Isso aí não abala de jeito nenhum. É normal que determinados grupos discordem da maneira como você administra, conduz as coisas públicas. A única coisa é que eu acho muita gente terá de se adaptar e manter as discussões realmente em termos de discordâncias de ideias. A pessoa pode discordar mas outra coisa é agredir você pessoalmente. Isso é um exemplo ruim para a sociedade e a sociedade não aceita isso. Essa liberdade toda é importantíssima, ela facilita tudo, a divulgação de ideias, torna transparente a parte administrativa, política… mas ela também deve estar associada a um uso responsável pelas pessoas.
E nem sempre está sendo assim…
Você vê que tem pessoas que acham que aquilo ali é uma liberdade de ataque pessoal de toda forma. De fazer um tipo de guerrilha, um comportamento criminoso.
O senhor vê comportamentos criminosos no uso das redes?
Eu vejo que se você ultrapassa certos limites, você vai ultrapassar limites da lei, né?
O senhor sustenta que a mensagem de WhatsApp que lhe foi atribuída e onde faz duras críticas ao presidente é falsa e entregou o documento à Polícia Federal.
Sim, claro. Os casos de calúnia, difamação estão na legislação e a sociedade tem seus mecanismos. Deve haver responsabilidade social.
Se especula muito sobre como é a convivência entre a ala militar e a ala civil do governo. É tão complicado como se vê de fora?
Não, não é. São especulações. Tem vários militares no governo, o que acontece é que a vida militar é muito caracterizada, então o pessoal faz as contas de quantos tem. Nós nunca contamos quantos advogados tem, quantos políticos… não existe grupo militar, nem ala militar. Jamais houve qualquer conversa entre dois militares com espírito de grupo militar dentro do governo.
Fala-se em governo paralelo.
Isso nunca existiu, não teria cabimento. Temos disciplina suficiente, honestidade e lealdade com a função.
O senhor sente que para alguns setores a presença dos militares no governo é um fator de tranquilidade?
O que acontece é que os militares têm uma cultura, são 40, 50 anos na mesma organização. Dentro dessa cultura tem princípios basilares, a honestidade, a lealdade, então isso aí é fundamental para nós todos. Temos um presidente Bolsonaro, estamos trabalhando para o governo e o povo, que tem expectativa.
Como o senhor vê a relação entre Executivo e Congresso?
Não deve haver preocupação nenhuma. Temos um presidente que foi parlamentar por 28 anos e entende mais do que ninguém como é essa relação. Às vezes as tensões são normais, a dinâmica da democracia funciona por esse jogo de conversa. O Congresso acabou aprovando a reforma administrativa.
Fazendo algumas mudanças…
Sim, que precisamos respeitar. Na essência a reforma passou.
Nas últimas semanas falou-se muito em crise, o nome de Jânio Quadros tem sido mencionado em conversas, artigos e análises sobre a situação atual…
Os boatos atrapalham. Os exageros, as fofocas as conversas de corredor, isso aí acaba criando turbulência. Mas é tudo normal, veja a situação na Inglaterra, o Trump nos Estados Unidos, Macri na Argentina, agora com a Cristina, tudo isso não pode assustar o pessoal. O governo está forte.
O que lhe preocupa neste momento?
Não tenho preocupação, tenho aspirações. A aspiração é que a gente atenda os anseios da população. O pessoal quer emprego, moradia, educação, saúde, acesso à Justiça. A economia tem que andar. A reforma da Previdência é importante para o equilíbrio das contas públicas e como simbolismo de uma virada. Confio no ministro Paulo Guedes e sua equipe. Acredito que até meados do ano (a reforma passa).
O senhor esteve no Haití e no Congo. Comparando ambas experiências, como militar e como ministro, o que é mais difícil?
Olha, cada situação tem as suas dificuldades. A África foi difícil, no centro de um conflito que em 25 anos levou 6 milhões de pessoas, aldeias inteiras massacradas. Você vê muita tristeza, pobreza. E aqui também. Então você acaba, seu psiquismo acaba numa coisa sendo preparada para a outra. Você deve ter calma, entender as coisas, ter tranquilidade nas reações.
O senhor nunca perde as estribeiras? Não somos de gelo nem de ferro. Mas é preciso ter um bom entendimento do que se passa.
O Globo
Ele está no centro do que muitos consideram uma guerra interna dentro do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), mas sua calma, que parece inabalável, não transmite isso. Na sala que ocupa no quarto andar do Palácio do Planalto, apenas a um andar de distância do chefe de Estado com quem diz conversar com frequência, não existe simbologia militar. Nas paredes, uma foto do presidente e um quadro colorido decoram o ambiente no qual trabalha o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, general da reserva que entre 2006 e 2009 chefiou a missão de paz no Haiti e entre 2013 e 2015 esteve à frente da missão de paz no Congo, coordenando 23,7 mil militares de 20 países.
Em meio a debates sobre a tensão entre militares e civis no governo, o ministro negou a existência de uma “ala militar”. “Jamais houve qualquer conversa entre dois militares com espírito de grupo militar dentro do governo”, assegurou o general.
Já são quase cinco meses de governo, o senhor faz um balanço positivo dessa etapa?
Tem muita coisa boa acontecendo e muitas vezes elas não aparecem por essa fumaceira toda, por pequenas coisas, discussões, até brigas pessoais que têm um grande reflexo. Essas discordâncias que existem num ambiente de democracia e liberdade de expressão. Sem dúvida o balanço é positivo. Um novo governo chegou, com agenda e expectativa boa. O Bolsonaro teve o grande mérito de mobilizar a população brasileira. O Brasil estava traumatizado com tanta corrupção. O volume de dinheiro disso tudo, valores que assombravam. Em todos os estados, no Rio de Janeiro, que sempre tem essa expressão forte de referência. Bolsonaro chegou com uma proposta de acabar com isso, de aproveitar melhor os recursos públicos, de segurança pública. A segurança pública melhorou muito, o índice nacional de assassinatos caiu mais de 20%.
Por que, então, as pesquisas mostram uma queda notável de apoio ao governo?
Você ter uma pequena queda depois de um tempo é normal. A vida real obriga o governo a fazer opções e nem sempre essas opções são tão alegres.
Os cortes na educação, por exemplo?
O corte na educação não foi tão significativo. Talvez a interpretação da coisa tenha sido muito mais significativa.
Foi um corte grande.
Não… você tem uma parte de despesas obrigatórias e outras são as chamadas discricionárias. Foi só nessa parte discricionária. As manifestações partiram de uma interpretação, às vezes o próprio anúncio… não podemos responsabilizar o pessoal.
Houve uma falha na comunicação sobre o corte?
A maneira às vezes como é transmitida dá espaço a interpretações. Também existem interesses políticos, que também são normais. Tudo isso acaba dando uma ideia errada sobre o contingenciamento. Mas temos de respeitar.
O senhor estava em Dallas com o presidente quando ele fez críticas muito duras aos manifestantes…
O presidente Bolsonaro tem um estilo franco, uma personalidade muito transparente e eu acho que isso é bom. Temos que entender que esse jogo, esses interesses, tudo isso faz parte do jogo democrático.
Qual a sua avaliação sobre as manifestações do último domingo a favor do governo?
No último domingo as manifestações foram pacíficas e expressivas, mostrando maturidade política dos manifestantes. São coisas da liberdade individual e de manifestação. Tem todo tipo de agenda e de pauta. Mesmo que, no caso das manifestações da educação, tenham sido equivocadas, é da sociedade. As pessoas têm ansiedade, expectativa, preocupações. Não é estimulado pelo governo, nem tem participação formal de governo. Sendo pacífico, vejo como algo normal.
O senhor esperava viver este ambiente, fala-se em guerra suja e o senhor está no centro do que muitos consideram uma crise… Hoje temos um fenômeno, as redes sociais. Você tem um arsenal de tecnologia, uma disponibilidade de mídias sociais e todos deverão se adaptar a isso.
Foi difícil ver o hastag #forasantoscruz?
Não, isso aí não tem problema. Isso aí não abala de jeito nenhum. É normal que determinados grupos discordem da maneira como você administra, conduz as coisas públicas. A única coisa é que eu acho muita gente terá de se adaptar e manter as discussões realmente em termos de discordâncias de ideias. A pessoa pode discordar mas outra coisa é agredir você pessoalmente. Isso é um exemplo ruim para a sociedade e a sociedade não aceita isso. Essa liberdade toda é importantíssima, ela facilita tudo, a divulgação de ideias, torna transparente a parte administrativa, política… mas ela também deve estar associada a um uso responsável pelas pessoas.
E nem sempre está sendo assim…
Você vê que tem pessoas que acham que aquilo ali é uma liberdade de ataque pessoal de toda forma. De fazer um tipo de guerrilha, um comportamento criminoso.
O senhor vê comportamentos criminosos no uso das redes?
Eu vejo que se você ultrapassa certos limites, você vai ultrapassar limites da lei, né?
O senhor sustenta que a mensagem de WhatsApp que lhe foi atribuída e onde faz duras críticas ao presidente é falsa e entregou o documento à Polícia Federal.
Sim, claro. Os casos de calúnia, difamação estão na legislação e a sociedade tem seus mecanismos. Deve haver responsabilidade social.
Se especula muito sobre como é a convivência entre a ala militar e a ala civil do governo. É tão complicado como se vê de fora?
Não, não é. São especulações. Tem vários militares no governo, o que acontece é que a vida militar é muito caracterizada, então o pessoal faz as contas de quantos tem. Nós nunca contamos quantos advogados tem, quantos políticos… não existe grupo militar, nem ala militar. Jamais houve qualquer conversa entre dois militares com espírito de grupo militar dentro do governo.
Fala-se em governo paralelo.
Isso nunca existiu, não teria cabimento. Temos disciplina suficiente, honestidade e lealdade com a função.
O senhor sente que para alguns setores a presença dos militares no governo é um fator de tranquilidade?
O que acontece é que os militares têm uma cultura, são 40, 50 anos na mesma organização. Dentro dessa cultura tem princípios basilares, a honestidade, a lealdade, então isso aí é fundamental para nós todos. Temos um presidente Bolsonaro, estamos trabalhando para o governo e o povo, que tem expectativa.
Como o senhor vê a relação entre Executivo e Congresso?
Não deve haver preocupação nenhuma. Temos um presidente que foi parlamentar por 28 anos e entende mais do que ninguém como é essa relação. Às vezes as tensões são normais, a dinâmica da democracia funciona por esse jogo de conversa. O Congresso acabou aprovando a reforma administrativa.
Fazendo algumas mudanças…
Sim, que precisamos respeitar. Na essência a reforma passou.
Nas últimas semanas falou-se muito em crise, o nome de Jânio Quadros tem sido mencionado em conversas, artigos e análises sobre a situação atual…
Os boatos atrapalham. Os exageros, as fofocas as conversas de corredor, isso aí acaba criando turbulência. Mas é tudo normal, veja a situação na Inglaterra, o Trump nos Estados Unidos, Macri na Argentina, agora com a Cristina, tudo isso não pode assustar o pessoal. O governo está forte.
O que lhe preocupa neste momento?
Não tenho preocupação, tenho aspirações. A aspiração é que a gente atenda os anseios da população. O pessoal quer emprego, moradia, educação, saúde, acesso à Justiça. A economia tem que andar. A reforma da Previdência é importante para o equilíbrio das contas públicas e como simbolismo de uma virada. Confio no ministro Paulo Guedes e sua equipe. Acredito que até meados do ano (a reforma passa).
O senhor esteve no Haití e no Congo. Comparando ambas experiências, como militar e como ministro, o que é mais difícil?
Olha, cada situação tem as suas dificuldades. A África foi difícil, no centro de um conflito que em 25 anos levou 6 milhões de pessoas, aldeias inteiras massacradas. Você vê muita tristeza, pobreza. E aqui também. Então você acaba, seu psiquismo acaba numa coisa sendo preparada para a outra. Você deve ter calma, entender as coisas, ter tranquilidade nas reações.
O senhor nunca perde as estribeiras? Não somos de gelo nem de ferro. Mas é preciso ter um bom entendimento do que se passa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário