Todas as reservas hídricas de Irauçuba se esgotaram.
Município depende de água de carro-pipa levada por vizinhos.
Ela tem no quintal de casa uma cisterna que acumulava água da chuva. Até o fim de setembro era a fonte da família. "Mesmo com pouca chuva neste ano, ainda deu para encher a cisterna toda. Depois que o açude secou, a gente só tinha ela para tirar água e acabou rápido."
Na zona urbana de Irauçuba, a 150 quilômetros de Fortaleza, a estação de tratamento da Companhia de Água e Esgoto (Cagece) recebe um volume diário de 250 mil litros, trazidos de açudes vizinhos em carro-pipa. Com essa baixa quantidade – a cidade precisa diariamente de 1,2 milhão de litros (cerca de cinco vezes o que recebe) –, a água chega apenas às torneiras das casas mais próximas da estação.
A maioria da população depende da água levada pela Defesa Civil do Estado do Ceará a tanques públicos espalhados pela cidade. Como o abastecimento é irregular e chega a demorar 10 dias, muitos têm que pagar pelo que consomem.
"Procuram direto, dia e noite. Hoje Irauçuba já tem 40 caminhões-pipa, e eles não param. Todos os dias a gente faz dezenas de viagens para abastecer as caixas daqui", diz Jacob Andrade Ribeiro, pipeiro de 49 anos. Os açudes de Itapajé e Itapipoca têm 20% e 16% da capacidade máxima, respectivamente, e a população teme que essas reservas também acabem.
"A água que vem desses locais só resolve a situação emergencial. A coisa só vai melhorar mesmo com boas chuvas no próximo ano", diz o secretário Caetano Rodrigues. No Ceará, as chuvas ocorrem, principalmente, em março, abril e junho.
"É sempre assim. Todo mundo corre e fica um alvoroço de gente para conseguir água. Normalmente todo mundo consegue. O problema é quando demora muito para voltar, mais de uma semana. Aí a gente fica sem uma gota d'água em casa. Ou consegue de favor dos amigos ou tem que comprar com o dinheiro do Bolsa Família", relata Maria Amélia.
Prejuízos e conta no vermelho
Com a estiagem que já dura três anos e meio, todo o sistema de irrigação e produção agropecuária está parado na cidade. O gado bebe água das cacimbas (poços) feitas onde ficavam os açudes. Segundo o prefeito de Irauçuba, José Mota, nas últimas semanas o prejuízo se estendeu ao comércio e ao serviço público. "Nós temos hospitais, delegacias que não podem deixar de receber água, mas estamos com receio de que falte. Temos cinco indústrias que garantem emprego a muita gente e que precisam de água, não podem ficar sem. O comércio já está sentindo os prejuízos também."
Segundo Mota, a Prefeitura de Irauçuba investiu R$ 1,23 milhão na compra de água desde o início da sua gestão, em janeiro de 2012. "Esse valor é muito alto para uma cidade como a nossa. A água não pode faltar, então às vezes não conseguimos honrar nossos compromissos. Já estamos atrasados com alguns fornecedores e tememos que situação piore ainda mais", diz.
Para o secretário de Meio Ambiente de Irauçuba, Caetano Rodrigues, há risco de que, quando a adutora esteja pronta, a água do açude esteja esgotada. "A adutora deve ser concluída em dezembro, mas o açude de onde ela vai tirar água tem atualmente 20% da capacidade. Quando ela for puxar água, pode ser que não tenha mais nenhuma gota."
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