"Agora me sinto uma cidadã", diz Rogéria Ramos.
Jovem teve certidão de nascimento corrigida em julho de 2013.
Sempre quis saber o que tem atrás daquele biombo e pegar em uma urna de verdade"
Rogéria Ramos
Mesmo nunca tendo votado, Rogéria diz ter consciência da importância do voto e confessa ter certa curiosidade sobre a urna eletrônica. "Eu via todo mundo votando e dizia 'quando será que eu vou poder votar?' Sempre quis saber como era estar atrás daquele biombo e pegar numa urna de verdade, para decidir. Decidir um voto é uma coisa séria. É pensar bem se aquele candidato vai trazer um futuro melhor para gente", afirma.
O que mudou
Após anos de constrangimentos para provar que não era um homem, a jovem, que mora com a sogra, o marido e os filhos, de 4 anos, 3 anos e um bebê de 8 meses, em uma área de invasão, em Rio Branco, conhecida como 'Papouco', conta o que mudou em sua vida com toda a documentação pessoal em mãos.
"A primeira coisa que fiz foi registrar meus três filhos. Eu não queria que eles ficassem na mesma situação que eu. Também pude me cadastrar no 'Bolsa Família' [programa do Governo Federal que beneficia famílias de baixa renda] e retirar minha carteira de trabalho", comenta.
documentos pessoais (Foto: Rayssa Natani/G1)
Rogéria também pretende retomar os estudos no próximo ano, quando o filho mais novo estiver maior. Ela foi obrigada a abandonar o ensino fundamental, na 8ª série, por conta da falta de documentos. "Durante todo o tempo que estudei, foi com meu pai precisando se humilhar para a direção das escolas para aceitarem minha certidão errada. Chegou uma hora que não deu mais. Espero poder voltar agora", diz.
Rogéria nasceu no Hospital Santa Juliana, no Acre, em março de 1989, mas só foi registrada aos 4 anos pelo pai, em um cartório em Manaus (AM). Na certidão, seu nome era Rogério e constava 'sexo masculino'. O erro só foi percebido mais tarde, quando a moça começou a estudar.
O Ministério Público Estadual do Acre (MPE-AC) deu parecer favorável ao pedido de retificação do documento e o 7º Cartório de Registro Civil de Manaus foi obrigado pela justiça a fazer a correção em abril de 2013. Ela recebeu das mãos da defensora pública Clara Rúbia a certidão de nascimento retificada em julho do mesmo ano.
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