Diego Barreto A TARDE
A prática de levar vantagem sobre o outro é inata aos seres pensantes e, como costumam dizer, é um ato genuinamente do ser humano. O famoso "jeitinho brasileiro", ao mesmo tempo que é usado para resolver algum caso embaraçoso, na maioria das vezes fatalmente deixa alguém com o prejuízo da ação.
De acordo com a socióloga da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), Marita Palmeira, isso se deve, principalmente, à falta de educação no lar. Segundo ela, os pais são os responsáveis em ensinar aos filhos os valores morais e princípios básicos de conviver bem em sociedade. O que, na sociedade moderna, cada vez mais fica a cargo de tios, amigos ou da própria escola - que está preparada para ensinar a desenvolver o conteúdo intelectual, não os morais.
Necessidade de leis - De acordo com o estatuto do idoso (Lei Federal 10.741/2003), toda pessoa com idade maior ou igual a 65 anos tem direito a gratuidade nos veículos de transporte coletivo urbano. O benefício se estende às pessoas com deficiência. No caso das gestantes, elas tem o direito de entrar no coletivo pela porta da frente e o cobrador vir até o local onde estão sentadas para cobrar a passagem, isso para evitar que as grávidas passem pela catraca (borboleta) com o barrigão.
Além disso, os coletivos possuem lugares reservados para esse público, mas na maioria das vezes, os assentos estão ocupados por pessoas mais jovens, sem deficiência ou que não estão gestantes. O pior é que essa turma, com honrosas exceções, não cede o lugar.
O aposentado Joseilton Brandão tem 62 anos e três dias na semana precisa viajar de ônibus. Ele reclama do desrespeito das gerações atuais para com as pessoas mais velhas e se queixa da falta de bom senso. "O pior não chega nem a ser a falta de educação no ônibus em não ceder o lugar para os de mais idade. Pior é quando estou no supermercado, na fila preferencial para pessoas com mais de 60 anos e aparece algum espertinho querendo tomar a frente e ser logo atendido".
A necessidade da criação das leis acontece baseado nos costumes socialmente aprovados, para viabilizar uma convivência harmônica. Em uma sociedade onde é costume ser cortês, possivelmente não será necessária a criação de tantas leis para obrigar ao respeito aos direitos do próximo. Na Espanha, por exemplo, não há lei para o atendimento obrigatório de idosos em caixas de supermercado.
"Volto a destacar a educação. Quando você não tem quem lhe ensine as coisas, você cresce sendo instruído pelo meio que vive. Quando aumenta a leitura, o convívio em grupo e o processo educativo é de qualidade - tanto em casa, quanto na escola - as pessoas crescem praticando bons costumes. Com as famílias desmanteladas como estão hoje, certamente a sociedade também está. A família é a base da sociedade", frisa Marita.
Causa e efeito - Se é no núcleo familiar que as crianças aprendem a respeitar o outro, as atitudes da sociedade apenas refletem o que é visto em casa. Se há desrespeito, falta de consideração pelo próximo e existe falta de cortesia, cultivar esses valores em família é o recomendado pela socióloga para que as pessoas possam "suportar" umas as outras.
O cidadão baiano tem fama nacional de ser um povo gentil, mas para isso acontecer, de fato, como o mito prega, algumas mudanças de atitude devem ocorrer. Ceder o espaço para os mais velhos, transferir a vez para que uma pessoa com deficiência seja atendida primeiro ou permitir que uma gestante passe à frente não traz prejuízo mas melhora a harmonia e, consequentemente, cria um clima amistoso no ambiente.
Quando o egoísmo satisfaz o ego de uns, prejudica a maioria. E se a maioria precisa de um clima melhor para conviver em sociedade, não faz mal cultivar bons hábitos de respeito ao próximo para 2013.
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