Manifestantes se vestiram de preto e protestaram na AGU, em Cuiabá
Protesto é contra portaria 303/2012 que circula nesta quinta no Diário Oficial.
Servidores da Funai usam a cruz como símbolo de protesto e com nomes de etnias (Foto: Tita Mara/G1)
Servidores da Fundação Nacional do Índio em Mato Grosso realizaram um protesto na tarde desta quinta-feira (26) em frente à sede da Advocacia Geral da União (AGU), em Cuiabá, contra a emissão da portaria 303/2012, que circula no Diário Oficial da União de hoje, e que proíbe a ampliação de terras indígenas já demarcadas como também regulamenta o usufruto de terras já ocupadas.De acordo com o servidor Márcio Carlos, responsável pelo comando do protesto, a cor preta representa o luto pela morte aos direitos dos povos indígenas, que terão a liberdade restringida. “A questão central da decisão é que o interesse nacional deve se sobrepor ao direitos indígenas e questiona a demarcação de terras indígenas já definidas, desrespeitando o lento processo de democratização das terras e fomentando o conflito latifundiário”, apontou.
A portaria, conforme o servidor, se baseou nas mesmas decisões sobre a demarcações da terra indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, adotando uma decisão não definitiva do Supremo Tribunal Federal como parâmetro para uniformizar a atuação das unidades da Advocacia Geral da União. A portaria determina, dentre outras condições que “o usufruto das terras indígenas e dos recursos naturais provenientes dela dependerá sempre de autorização do Congresso Nacional” , artigo II, e que ficaria “vedada a ampliação de terras indígenas já demarcadas”, como disposto no artigo XVII.
Representando os povos indígenas Parecis, tribo localizada no sudoeste de Mato Grosso, a indígena Sônia Zai Kamairo afirmou ao G1 que a portaria deve gerar um conflito muito grande entre índios e empreendedores. Além disso, destacou que a decisão abre precedência para outros tipos de crimes, como o desmatamento. “A sensação é como se o povo indígena estivesse sendo atropelado, como se nós não tivéssemos vida. Não somos contra o progresso, mas a favor do diálogo, o que não ocorreu”, lamentou.
A Funai recomendou judicialmente ao Ministério Público Federal a revogação da decisão e afirmou ainda, por meio de nota encaminhada à imprensa, que a decisão tende a “aumentar a insegurança jurídica e, principalmente, colocar em risco os direitos garantidos constitucionalmente às comunidades indígenas”, ao manifestar sua contrariedade.
Novo Prazo
A Advocacia Geral da União também informou por meio de nota a fixação de uma nova data para o cumprimento da Portaria 303/2012, que será a partir de 24 de setembro. Segundo a AGU, a nova data foi solicitada a pedido da Fundação Nacional do Índio (Funai), que deverá realizar nesse período consultas aos povos indígenas.
O órgão informou ainda que o objetivo da publicação é assegurar a estabilidade jurídica à AGU em ações sobre o tema e fornecer orientação técnica. Conforme a nota, as normas preveem, entre outras coisas, que o direito dos índios às áreas “é inalienável e imprescritível, e que as tribos poderão usufruir das riquezas naturais e das utilidades existentes nas terras ocupadas sem o pagamento de quaisquer impostos, taxas ou contribuições”.
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