O governo é o que é: uma caderneta de figurinhas repetidas, raspadas pelo dr. Costa do fundo da gaveta, e que apenas por desfastio a imprensa teima em apresentar individualmente. Via Observador, a crônica semanal de Alberto Gonçalves:
Eis
o primeiro governo verdadeiramente paritário: metade dos ministros são
irrelevâncias, metade são calamidades. Todos prestam vassalagem ao dr.
Costa, cujas escolhas humilham deliberadamente um eleitorado que não se
dá mal com humilhações. O governo é mau? Mau é favor. O governo é uma
prova de que pior é sempre possível. Por sorte, desta vez não faz grande
diferença. Vinte e cinco anos de socialismo quase ininterrupto
lançaram-nos para uma penúria sem grandes hipóteses de redenção. As
alucinadas brincadeiras em volta da Covid e as vigentes insinuações de
guerra mundial reduziram a redenção a uma anedota.
Em
suma, estamos tão desgraçados que já nem o PS poderá desgraçar-nos
muito mais. O PS, de resto, resumirá a legislatura à distribuição dos
milhões que chegam da Europa, enquanto chegarem. Lamentar que o governo
não seja, cito, “reformista” é igual a criticar um calabouço cubano por
não ter jacuzzi. O governo é o que é: uma caderneta de figurinhas
repetidas, raspadas pelo dr. Costa do fundo da gaveta, e que apenas por
desfastio a imprensa teima em apresentar individualmente. Vamos a isso.
Ana Abrunhosa, ministra da Coesão Territorial. O
território está coeso, pelo que a senhora deve estar a trabalhar bem.
Em 2017, durante os incêndios de Pedrógão e Leiria, a dra. Ana presidia,
por nomeação do governo PSD-CDS, à CDCR do Centro, pelo que a
competência não nasceu ontem.
Ana Catarina Mendes, ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares. Uma senhora que existe. Existe há anos, sem se perceber bem porquê ou para quê. Não será desta que ficaremos esclarecidos.
Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social.
O trabalho é espezinhado por leis e subserviência estatal. A segurança
social tem os pés para a cova. E, tal como não o faria com a da Amizade
ou a da Devoção, não comento “pastas” com sentimentos no nome.
António Costa Silva, ministro da Economia e do Mar.
Poeta, no sentido em que alinha frases umas por baixo das outras de
modo a formarem estrofes. Nas horas vagas, orientou os destinos do PRR:
99,99% para o PS, perdão, o Estado; 340 euros para a ralé. Ao contrário
dos companheiros de governo, tem experiência no sector privado,
infelizmente ao serviço da oligarquia angolana e de petrolíferas que
acabaram falidas.
Catarina Sarmento e Castro, ministra da Justiça. Como quase tudo, a Justiça é hoje uma metástase do PS. Aposto que a senhora dona Catarina garantirá que assim continua.
Duarte Cordeiro. ministro do Ambiente e Acção Climática.
Não sei quem é. Sei que a designação do ministério já inclui a
respectiva finalidade: fingir que se salva o mundo de ameaças vagas
enquanto, de forma menos vaga, estraçalhamos a economia, colocamo-nos na
dependência energética de regimes totalitários e evoluímos rumo à Idade
do Bronze.
Elvira Fortunato. ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Não conheço. Li que é cientista, sportinguista e, juro, aspirante ao Nobel, ignoro em qual das qualidades. Por mim está bem.
Fernando Medina, ministro das Finanças. Os
méritos exibidos nas contas de uma simples autarquia, que deixou em
farrapos, justificam a promoção do homem. O apoio escancarado a uma
presidente de Junta que assaltava os munícipes atestam-lhe a seriedade. A
delação de opositores do sr. Putin conferem-lhe a aura internacional
indispensável ao actual contexto geo-político. Uma escolha sem mácula, e
uma humilhação dos eleitores que os eleitores merecem.
Helena Carreiras. ministra da Defesa.
Caipiras de várias inspirações acham fantástico, ou lastimável, que uma
mulher ocupe o cargo. Meus caros, o sexo é secundário: a formação em
sociologia que a senhora ostenta com orgulho é que não é. Os jornais
dizem que os interesses dela versam a “integração de género nas Forças
Armadas”. E não precisam dizer mais.
João Costa, ministro da Educação.
Fui pesquisar. Descobri um artigo no “Público” em que o sujeito, então
secretário de Estado do ramo, exaltava com empenho e péssimo português a
disciplina de Cidadania, que confundia com a cidadania propriamente
dita. Um ignorante mal educado, pois. Sobe ao lugar certo.
João Gomes Cravinho, ministro dos Negócios Estrangeiros.
Na Defesa, vestia camuflado para uns números giros. Se arranjar um fato
civil, talvez continue a passar despercebido entre a monumental
insignificância da nossa diplomacia.
José Luís Carneiro, ministro da Administração Interna.
A menos que desate a mutilar velhinhas na via pública para lhes roubar a
bolsa, tem tudo para ser um progresso face ao antecessor.
Maria do Céu Antunes, ministra da Agricultura e da Alimentação.
Há dois anos, saiu da obscuridade para anunciar que a Covid
beneficiaria a exportação de carnes nacionais para a Ásia. Dez minutos
depois, regressou à obscuridade. Das bifanas não há notícia.
Mariana Vieira da Silva, ministra da Presidência do Conselho de Ministros.
É aquela senhora que aparece sempre a dormir, a rir ou a revirar os
olhos em eventos públicos. Consta que às vezes diz umas coisas, que
nunca ninguém ouviu porque tendemos a dormir, a rir ou a revirar os
olhos quando ela fala. Vai coordenar o PRR, aliás já devidamente
coordenado em prol do PS. Subiu a “número dois” do governo. Parabéns.
Marta Temido, ministra da Saúde.
Há dois anos que espalha medo a pretexto da Covid, ajuda indispensável à
nossa penúria presente e ruína futura. Gosta do hino da Intersindical e
do SNS, sem gostar de música nem de médicos. Não cumprisse ordens de
cima, seria responsável pelo adiamento ou cancelamento de incontáveis
consultas e cirurgias. Num país que, após um rali, levaria ao pódio o
condutor que atropelasse mais espectadores, a dra. Marta é muito
popular.
Pedro Adão e Silva, ministro da Cultura.
Depois de uma carreira a fazer recados ao Benfica e ao PS, tornou-se
nomeação óbvia para organizar as comemorações do 25 de Abril. Agora,
torna-se nomeação óbvia para a Cultura. Seria nomeação óbvia para
qualquer cargo, contanto que pudesse obedecer à vontade.
Pedro Nuno Santos, ministro das Infraestruturas, Transportes e Habitação. É
outro animal feroz produzido no Rato: morde as canelas de banqueiros
alemães, calunia empresários irlandeses, assalta contribuintes
portugueses, etc. Com semelhantes talentos, é natural que sonhe suceder
ao dr. Costa para, em definitivo, transformar isto numa Venezuela sem
trópicos. Mas o dr. Costa, o seu espantoso governo e a realidade são bem
capazes de o conseguir sozinhos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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