À primeira vista a glamourização da obesidade é engraçada, mas não é outra coisa senão propagandismo pró-morte precoce. Bruna Frascolla para a Gazeta do Povo:
Nos
anos 90, o físico esquerdista Alain Sokal achou que os pós-modernos
estavam indo longe demais em sua desconstrução, e resolveu fazer um
artigo satírico para enviar a uma prestigiosa revista de humanas e ver
se saía. Sua hipótese fora confirmada: a prestigiosa Social Text
publicara o artigo em que falava que o π e a lei da gravidade não são
universais, pois são meras construções sociais e linguísticas sujeitas à
historicidade. O caso Sokal foi um escândalo, transformou-se em
polêmica, e os professores da USP ficaram ao lado dos pós-modernos.
Merquior ficou contra.
Na
década passada, o professor de filosofia Peter Boghossian, junto com os
alunos James Lindsay e Helen Pluckrose fizeram uma série de artigos à
Sokal e tentaram enviar às revistas prestigiosas de estudos críticos –
esses estudos de gênero, estudos de raça, e até o caçula fat studies,
isto é, estudos dos gordos. Eles tiveram a dificuldade adicional de
inventar uma pessoa para assinar o texto, já que o trio é um crítico
explícito desse tipo de pesquisa.
Passadas
duas décadas entre Sokal e o trio de humanas, uma mudança importante
foi notada: não bastava fazer um artigo absurdo para ser aceito. Era
preciso ser absurdo e imoral, além de concluir que masculinidade ou
brancura são coisas ruins a serem combatidas por meio da educação. (Se
você souber inglês, pode vê-los contando a história aqui).
Artigos apenas absurdos e engraçados (como dizer que a Alegoria da
Caverna era sobre gênero e sexualidade) foram recusados. Após mudarem a
abordagem e partirem para a imoralidade, tiveram sucesso: aprovaram um
artigo que mandava as escolas acorrentarem as crianças brancas no chão,
outro que consistia num trecho tirado de Mein Kampf em que o judeu e os
arianos eram substituídos pelo homem branco e mulheres negras,
penetração anal forçada em homens para combater a homofobia, treinamento
de homens análogo ao adestramento de cães para combater a cultura do
estupro… Apenas um não parecia sinistro: a defesa do fisiculturismo
gordo.
De
lá para cá, muita coisa mudou. Em vez de debate, a ação do trio
resultou em histeria progressista. O professor foi punido pela
universidade em que trabalha por violar as regras. No Brasil, a Folha de
S. Paulo contribuiu com sua pedrinha, em matéria que condena a fraude do professor, sem mencionar os achados do experimento.
Da academia para o YouTube
O
último avanço no esporte de desmascarar os autodesmascaráveis
pós-modernos foi uma “operação infiltrada” do comediante de stand-up e
comentarista conservador Steven Crowder. Ele inventara a pesquisadora
Sea Matheson, e enviara uma comunicação intitulada “Abraçando a gordura
como autocuidado na Era Trump” para um congresso de Fat Studies. Sea
Matheson seria uma representante da comunidade gorda não-binária do
Texas e uma ativista do Orgulho Gordo. Sea Matheson não era outra pessoa
que não o próprio Steven Crowder com maquiagem, peruca e muito
enchimento. Para a surpresa de ninguém, o trabalho foi aceito. A única
surpresa foi a pandemia, que suspendeu o Congresso. Mas finalmente
Matheson pôde apresentar seu trabalho quando as organizadoras resolveram
fazê-lo de forma virtual.
Na
apresentação, Sea Matheson denuncia a gordofobia da sociedade que
elegeu Trump, ele mesmo um gordofóbico, e problematiza a gordofobia
dirigida contra Trump por progressistas. A gordofobia é tamanha que se
encontra não só entre os progressistas (que têm de se desconstruir) como
se revela em textos sobre saúde que recomendam o emagrecimento. Em
seguida, ela desenvolve sua própria teoria segundo a qual a gordura deve
ser definida segundo o espaço. Assim, ser gordo é uma forma de
autocuidado na era da Covid, porque a grande circunferência da barriga
aumenta o distanciamento entre as pessoas. Se ela não fosse tão gorda, o
rapaz sem máscara com boné MAGA poderia estar mais perto dela! Além
disso, ser tão gorda faz com que nenhum estranho consiga agarrar sua
genitália sem o seu consentimento, mantendo-a assim protegida da
masculinidade tóxica. Por isso, ser gorda é uma forma de autocuidado, já
que amplia espaços. Ser gorda é uma resistência ao patriarcado (você
pode assistir à peça aqui em inglês).
No
fim do vídeo, o comediante, comentando a própria operação, fala o óbvio
ululante: ser obeso faz mal à saúde. E está longe de ser eficaz contra a
Covid: é um fator de risco!
Propaganda pró-obesidade
A expectativa de vida nos EUA vem caindo desde 2017, e só em 2020 caiu um ano e meio.
Noves fora a pandemia (que é posterior ao início do declínio), a
explicação mais comum parece ser a do uso de drogas. Os norte-americanos
têm overdose antes de chegar à velhice, ou então enchem a cara e sofrem
um acidente de trânsito letal, ou então simplesmente se suicidam. Na
verdade, já que quase ninguém conhece ex-cracudo, é de nos questionarmos
se o uso de certas drogas não é uma espécie de suicídio a prestação
(aqui a droga pré-caixão é crack, lá é meth). Por razões culturais,
portanto, o povo morre cedo. Não é falta de comida, é falta de vontade
de viver. Comida, há de sobra. E é de se perguntar se a obesidade não
teve, também, um papel na queda da expectativa de vida lá.
Embora
os governos (de lá e de cá) se empenhem em fazer propaganda
antitabagismo, o mesmo não se dá com substâncias ilícitas. Na verdade, a
cultura glamouriza o uso de drogas; faz uma verdadeira propaganda.
Podemos dizer, portanto, que esse declínio na expectativa de vida é
fruto de propaganda. É possível pensar que se trate somente de
enriquecer cartéis, e que a queda da expectativa de vida é uma
consequência não intencional. Mas se considerarmos que há ao mesmo tempo
uma propaganda em defesa da gordura, da queda de natalidade (que
oferece aborto como solução), da eutanásia por velhice ou sofrimento
psíquico (vide as recentes opiniões de Alain Delon e o caso da adolescente holandesa Noa Pothoven e até da castração química de adolescentes confusos ou deprimidos, é dever ficar com a pulga atrás a orelha. A pulga atrás da orelha manda que olhemos para o histórico.
Os negros, cobaias do governo dos EUA
Sowell
vive dizendo que o Estado de Bem-Estar arruinou as famílias negras. Mas
além de se destacarem pela alta porcentagem de filhos sem pai, os
negros dos EUA são também especialmente gordos.
Além de especialmente gordos, são especialmente vítimas do aborto. No
caso dos abortos entre os negros é bem fácil de apontar origens
eugenistas. A Planned Parenthood, que faz militância pró-aborto até hoje,
foi fundada por uma eugenista e tinha o propósito de reduzir a
população negra. Ainda nos dias de hoje, a Casa Branca tem a cara de pau
de dizer que a flexibilização do aborto é uma necessidade urgente sobretudo para as “mulheres de cor”.
Em
livro um publicado em 2007, Liberal Fascism, o escritor conservador
Jonah Goldberg observava que os negros eram 12% da população e 37% das
mulheres que abortavam. O aborto punha “fim a um número maior de vidas
de negros do que doenças cardíacas, câncer, acidente, Aids e crime
violento somados”. Ainda por cima, “praticamente 80% dos centros de
aborto do Planejamento Familiar [estão] em comunidades de minorias ou
próximo delas”. Os EUA não mandam os indesejáveis para campos de
concentração; em vez disso, diminuem sua população por meio de
propaganda e serviços públicos.
A
política alimentar introduzida pelos Estados Unidos durante a Era
Progressista é a dieta de pouca gordura, que recomenda também pouca
carne, pouco colesterol e grãos integrais. O resultado foi o povo se
empanturrar de carboidrato – não só por iniciativa própria, como também
pela substituição da gordura pelo açúcar como método de conservação, já
que o que importava era ser low fat. Da década de 40 para cá, os
norte-americanos ficaram mais e mais gordos. Especialmente os negros,
grupo que vive sob um exército de assistentes sociais. Quando ao
histórico dessa dieta ruim e de sua difusão via governo e mídia, leia-se este rico artigo acadêmico.
Aos
eventuais cordeirinhos, que acham que não se trama nada de mau em parte
alguma do globo, ou que isso só se faz em países comunistas malvados,
recomendo que vejam a história do experimento Tuskegee, que consistiu em
contaminar negros com sífilis sem avisar e observá-los sem tratá-los. O
experimento foi feito pelo governo dos EUA em parceria com universidade
e durou 40 anos: de 1932 a 1972. Existe uma razão para os negros de lá
serem um grupo especialmente desconfiados de burocratas com agulhas.
Acontece
que os indesejáveis nunca foram só os negros. Ao contrário, a liberação
de esterilização forçada nos EUA foi decidida pelo juiz Oliver Wendell
Holmes, que deixou a enfermeira ligar as trompas de uma redneck branca,
no caso Buck v. Bell.
Exaltação do orgulho gordo em plena pandemia
Em
dezembro do ano passado, pude ouvir no metrô de São Paulo a voz
mecânica mandando não dar esmola por causa da Covid (o vírus seria
transmitido com o dinheiro) e ver a telinha mandando usarmos máscaras
bem colocadas, tomarmos vacinas e aceitarmos que corpos gordos são
saudáveis. Nos EUA, no ano pandêmico de 2021, a revista Cosmopolitan,
voltada para o público feminino, trazia na capa uma obesa negra com a mensagem “Isto é saudável!”. No canal jornalístico do ativismo progressista brasileiro, o Universa, lemos que ativistas antigordofobia não deveriam temer a gordofobia e ir se vacinar contra a Covid quando pudessem
– porque obesidade era considerada comorbidade. Nem uma linha era
dedicada à contradição entre dizer que obesidade não é doença e tomar a
vacina porque a obesidade é doença.
À primeira vista a glamourização da obesidade é engraçada, mas não é outra coisa senão propagandismo pró-morte precoce.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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